Conheço amigos que ralaram anos a fio em empregos merrecas, sofreram todo tipo de indignações e privações, e aguentaram tudo estoicamente: pagaram suas contas com dificuldade, mantiveram sua dignidade, não se deixaram corromper.
E, no entanto, bastou começarem a ganhar mais para perderem suas almas para sempre. Quando se entra nesse círculo vicioso é quase impossível de sair.
Funciona mais ou me...nos assim:
1. Primeiro, você arruma um trabalho. Fica quase envaidecido de alguém achar que merece o salário que lhe ofereceram e se promete fazer um excelente serviço! É o começo da sua vida profissional.
2. Fase da demanda reprimida: começa a consumir mais, todas aquelas coisas que não podia comprar quando ainda não tinha o trabalho. Seus gastos fixos crescem: leasing de carro, aluguel de apartamento maior, TV a cabo, plano de previdência privada, etc. Sobe seu padrão de vida.
3. Talvez por descontrole, talvez por uma emergência, se endivida pela primeira vez. Mas tudo bem, você paga até o final do ano.
4. Percebe subitamente que precisa manter aquele emprego, senão não conseguirá pagar o leasing, a previdência, as parcelas da viagem do ano passado, etc. Pensa nos seus gastos mensais antes do emprego e simplesmente não consegue entender como sobrevivia com tão pouco. Vida com menos de cem canais de televisão não é vida! Sente medo.
5. Trabalha ainda mais duro pra não perder o emprego. Fica estressado de tanto trabalhar, de tanto se preocupar, de tanto ter medo. Começa a tomar remédios. Brocha pela primeira vez. Mais e mais cabelos na escova.
6. Cansado física e emocionalmente, consome ainda mais. DVDs de séries idiotas, pornografia japonesa, livros que não vai ler nunca, qualquer coisa pra descansar sua cabeça e desacelerar seus nervos, de modo que possa acordar no dia seguinte capaz de trabalhar mais 15 horas. Ou então, livros sobre seu trabalho, quem mexeu no queijo do meu chefe, inglês pra executivos apressados, para tornar-se ainda mais eficiente e não ser – deus me ajude – demitido. Já não tem mais tempo livre, pois todo o seu tempo, mesmo quando não está no trabalho, gira em torno do trabalho.
7. De tanto consumir nervosamente, suas dívidas crescem, espalhadas por tantos lugares que nem dá pra acompanhar. Graças ao seu bom salário, o banco lhe deu um limite gigantesco pro cheque especial, que você achou que jamais atingiria, e fica chocado ao atingir. Mal sabe quantos pré-datados faltam pra cair, ou quantos pagamentos parcelados ainda vão bater no cartão de crédito. E o leasing do carro, meu deus? Se arrepende de pagar durante 10 meses por uma viagem de 5 dias que nem foi tão legal assim, mas todo mundo do escritório estava indo, você não poderia ser o último pra trás. A cada compra, você se pergunta: “qual é o melhor cartão de crédito pra usar? qual é mesmo o dia do vencimento do Visa? será que já estourei o Mastercard?”.
8. Desespero no trabalho. Horas extras, frilas, puxação de saco desenfreada. A economia está em crise, se for despedido agora é o fim de tudo. É tudo ou nada. Mais e mais remédios, menos e menos libido. Tudo o que pode fazer agora com as mulheres é dedá-las rapidinho – mas elas nem ligam, estão mais interessadas no seu emprego, no seu apartamento, no seu carro. Você nem liga: quem precisa de mulher se tem a internet?
9. Dívidas crescem. Tenta pegar um empréstimo rápido em uma financeira e descobre que seu nome está sujo na praça por causa de um cheque pré-datado que nem lembra mais pra quem foi. Sem esse empréstimo, a financeira (outra) vai tomar seu carro e vai perder tudo o que gastou no leasing! E como vai chegar no trabalho sem carro? Seu bairro de rico não tem serviço de transporte público decente. Com que cara vou ficar na agência se souberem que não tenho carro? É o fim de tudo, etc.
E assim continua. Não sei como termina. O final é sempre diferente, mas nunca é bonito.
(trecho da prisão dinheiro)
http://www.scribd.com/doc/34826684/Prisao-Dinheiro-Alex-Castro
E, no entanto, bastou começarem a ganhar mais para perderem suas almas para sempre. Quando se entra nesse círculo vicioso é quase impossível de sair.
Funciona mais ou me...nos assim:
1. Primeiro, você arruma um trabalho. Fica quase envaidecido de alguém achar que merece o salário que lhe ofereceram e se promete fazer um excelente serviço! É o começo da sua vida profissional.
2. Fase da demanda reprimida: começa a consumir mais, todas aquelas coisas que não podia comprar quando ainda não tinha o trabalho. Seus gastos fixos crescem: leasing de carro, aluguel de apartamento maior, TV a cabo, plano de previdência privada, etc. Sobe seu padrão de vida.
3. Talvez por descontrole, talvez por uma emergência, se endivida pela primeira vez. Mas tudo bem, você paga até o final do ano.
4. Percebe subitamente que precisa manter aquele emprego, senão não conseguirá pagar o leasing, a previdência, as parcelas da viagem do ano passado, etc. Pensa nos seus gastos mensais antes do emprego e simplesmente não consegue entender como sobrevivia com tão pouco. Vida com menos de cem canais de televisão não é vida! Sente medo.
5. Trabalha ainda mais duro pra não perder o emprego. Fica estressado de tanto trabalhar, de tanto se preocupar, de tanto ter medo. Começa a tomar remédios. Brocha pela primeira vez. Mais e mais cabelos na escova.
6. Cansado física e emocionalmente, consome ainda mais. DVDs de séries idiotas, pornografia japonesa, livros que não vai ler nunca, qualquer coisa pra descansar sua cabeça e desacelerar seus nervos, de modo que possa acordar no dia seguinte capaz de trabalhar mais 15 horas. Ou então, livros sobre seu trabalho, quem mexeu no queijo do meu chefe, inglês pra executivos apressados, para tornar-se ainda mais eficiente e não ser – deus me ajude – demitido. Já não tem mais tempo livre, pois todo o seu tempo, mesmo quando não está no trabalho, gira em torno do trabalho.
7. De tanto consumir nervosamente, suas dívidas crescem, espalhadas por tantos lugares que nem dá pra acompanhar. Graças ao seu bom salário, o banco lhe deu um limite gigantesco pro cheque especial, que você achou que jamais atingiria, e fica chocado ao atingir. Mal sabe quantos pré-datados faltam pra cair, ou quantos pagamentos parcelados ainda vão bater no cartão de crédito. E o leasing do carro, meu deus? Se arrepende de pagar durante 10 meses por uma viagem de 5 dias que nem foi tão legal assim, mas todo mundo do escritório estava indo, você não poderia ser o último pra trás. A cada compra, você se pergunta: “qual é o melhor cartão de crédito pra usar? qual é mesmo o dia do vencimento do Visa? será que já estourei o Mastercard?”.
8. Desespero no trabalho. Horas extras, frilas, puxação de saco desenfreada. A economia está em crise, se for despedido agora é o fim de tudo. É tudo ou nada. Mais e mais remédios, menos e menos libido. Tudo o que pode fazer agora com as mulheres é dedá-las rapidinho – mas elas nem ligam, estão mais interessadas no seu emprego, no seu apartamento, no seu carro. Você nem liga: quem precisa de mulher se tem a internet?
9. Dívidas crescem. Tenta pegar um empréstimo rápido em uma financeira e descobre que seu nome está sujo na praça por causa de um cheque pré-datado que nem lembra mais pra quem foi. Sem esse empréstimo, a financeira (outra) vai tomar seu carro e vai perder tudo o que gastou no leasing! E como vai chegar no trabalho sem carro? Seu bairro de rico não tem serviço de transporte público decente. Com que cara vou ficar na agência se souberem que não tenho carro? É o fim de tudo, etc.
E assim continua. Não sei como termina. O final é sempre diferente, mas nunca é bonito.
(trecho da prisão dinheiro)
http://www.scribd.com/doc/34826684/Prisao-Dinheiro-Alex-Castro
*Extraido do Facebook
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