20 março, 2013
meu pai pergunta:
mas meu filho, você não pensa na sua
velhice?
e respondo:
pai, você não conhece ninguém que pensa
mais na própria velhice mais do que eu. literalmente tudo o
que eu faço ou deixo de fazer é porque eu tenho uma consciência urgente de que,
em breve, estarei velho, doente, fraco, cansado, morto.
* * *
para o meu pai, “pensar na velhice” quer
dizer:
abdicar da minha vida hoje; pegar um
emprego chato mas que pague bem; passar o dia em um escritório realizando as
metas e projetos de outros em troca de dinheiro; fazer um pé-de-meia para a
velhice.
para mim, “pensar na velhice” quer dizer:
não desperdiçar minha vida realizando os
projetos dos outros e nem correndo atrás de dinheiro, e sim tentar amar e
escrever o máximo que posso enquanto ainda tenho saúde e energia, pois o fim é
inevitável e está chegando.
* * *
tenho quase quarenta. eis meu projeto para
o meu último ano na casa dos trinta:
- alugar meu apartamento para ganhar uns
trocados;
- morar de favor com uma amiga, leitora,
mecenas;
- não ter internet em casa;
- não correr mais atrás de grana, não
pegar frilas nem trabalhos;
- escrever ficção como se fosse um
bichinho sem alma que tem somente (na melhor das hipóteses) uns vinte bons anos
de produtividade antes de desaparecer para sempre.
o plano entra em efeito no dia 1º de maio.
seja o que machado quiser.
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