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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Edu Lobo - 70 anos


No dia de seu aniversário, compositor fará show no Teatro Municipal com repertório que atravessa sua carreira.

‘Os 60 anos bateram muito mais. Os 70 não. Me sinto no lucro. Não me sinto velho, não tenho cabeça de velho. E não carrego nenhuma frustração’, diz compositor.




O compositor Edu Lobo Fabio Seixo / Agência O Globo


Edu Lobo lembra que tinha 19 anos quando, na noite em que conheceu Vinicius de Moraes, o poeta perguntou se ele tinha um samba sem letra:

— Tinha, mostrei, e ele fez a letra na hora (a canção era “Só me fez bem”). No dia seguinte, quando acordei, pensei: “Caramba, sou parceiro do Vinicius”. Isso foi muito melhor do que um elogio, do que essas coisas de “vou ligar para um amigo meu que é de gravadora”. Ele fez muito mais... Não tenho a menor dúvida de que esse foi um chute inicial maravilhoso para minha vida.


A ideia do roteirista e diretor Hugo Sukman é contar a história de Edu na música seguindo sua cronologia, dos anos 1960 até o presente.Da parceria que tem força de marco inaugural até a produção mais recente de Edu (canções como “Coração cigano”, do CD “Tantas marés”, de 2010), cinco décadas de carreira são atravessadas no show que o compositor apresenta no Teatro Municipal hoje, às 21h, no dia em que completa 70 anos — o espetáculo chega ao Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no próximo dia 13.

— É uma ideia muito simples — diz Sukman, que prepara uma biografia do compositor. — Mas que não é possível de ser realizada com qualquer um, talvez Edu Lobo seja o único que permite isso no Brasil. Porque sua obra é impressionantemente coesa. A carreira dele já se inicia com músicas que estão no nível das da maturidade. Ele fez “Pra dizer adeus” com 22 anos, “Canção do amanhecer” com 20.

Há fugas da cronologia, quase imperceptíveis, segundo Sukman:

— “Zanzibar” (1970), por exemplo, está antes de “Ponteio” (1967).

Nas participações dos convidados — Maria Bethânia, Chico Buarque, Mônica Salmaso e Bena Lobo — também foram permitidas algumas liberdades. Afinal, é como se cada um trouxesse, dentro da grande história de Edu, uma pequena lembrança daquele encontro.

— Todos têm relação com a minha vida. Com Bethânia gravei meu segundo disco de carreira (e o primeiro dividido com outro artista, “Edu & Bethânia”, de 1966). Tinha conhecido Bethânia pouco tempo antes e adorei o jeito dela cantar. Quem você compara com Bethânia? É impossível. Timbre, maneira de cantar... E a interpretação. Tem cantor de voz bonita, mas que não faz a letra chegar até você — avalia Edu. — Com Chico tenho uma parceria bem marcada, mas meio fora do comum, porque 90% ou mais da nossa produção foram para dois balés do Guaíra(“O Grande Circo Místico” e “Dança da meia-lua”) e dois musicais(“O corsário do rei” e “Cambaio”). Só que sempre trabalhamos de maneira que elas não fossem dependentes da cena. Já Mônica, que gravou muita coisa minha, é das maiores cantoras que conheço no mundo. Presta atenção nas letras que está cantando, tem controle vocal absoluto, voz muito bonita e faz o que tem que fazer em cena: canta. Se move pouco, é aquilo ali. E Bena é meu filho, é músico, é compositor, então queria que ele estivesse comigo no palco.

Em meio às canções do show se desenham os caminhos de Edu. Como o do compositor que nos primeiros anos se apoiava no violão e que, depois de ir para Los Angeles estudar música (em 1969), passou a compor no piano.

— Quando eu compunha no violão as músicas eram mais populares, porque eu as fazia com a minha voz — explica. — O piano abriu minha composição, porque você passa a procurar as notas no teclado. “Beatriz” jamais teria sido feita no violão, porque aqueles intervalos não são de quem está cantando. Mas foi importante o tempo da ignorância, da liberdade para inventar.

Edu usa o termo “mais populares” para suas composições iniciais, mas há enorme apelo em clássicos feitos ao piano, a despeito de sua complexidade.

— Quando ouvi “Beatriz” pela primeira vez, apenas com Cristóvão Bastos e Milton Nascimento, me passou: “Quanto tempo vai demorar para essa música ser ouvida?”. Porque era improvável que ela tocasse em rádio. E não tocou mesmo. Mas aos poucos ela foi ficando conhecida. Hoje posso cantá-la sem essa coisa que uns produtores diziam, de ser “música para baixo”. Um exemplo é “Pra dizer adeus” (apesar de ter sido feita na fase do violão, ela carrega uma tristeza que a levaria para o escaninho das “músicas para baixo”), que eu tinha que cantar escoltada por dois seguranças, “Arrastão” de um lado e “Upa, neguinho” do outro. Hoje todo mundo canta junto.

o aprendizado de cantar sem violão

No Municipal, a marca da passagem do tempo, da maturidade, aparece também na ausência do violão nas mãos de Edu (o compositor terá a companhia de sua banda e de uma orquestra de cordas). O artista que inicialmente não se sentia à vontade no palco hoje tem enorme prazer de fazer shows, a ponto de dispensar o apoio do instrumento:

— Na época do lançamento do “Tantas marés”, levei um tombo, machuquei a mão, não ia dar para tocar no show. O que vou fazer em cena? Gestos? Nunca tinha feito isso. Mas foi das melhores coisas que me aconteceu. Hoje não toco mais em show. Descobri que o violão me protegia e me ocupava. Sem ele, perdi a proteção e passei a apreciar mais a minha banda. E a cantar com empenho maior, o que me melhorou.

O show será gravado e lançado como CD e DVD. Mas por enquanto não há planos de um novo disco de estúdio:

— Só penso num disco quando tenho umas três ou quatro canções bem firmes. E não é o caso — diz Edu, com a mesma tranquilidade que demonstra ao falar da idade. — Os 60 anos bateram muito mais. Quis viajar com os filhos, estava chocadíssimo com a idade. Os 70, não. Eu me sinto no lucro. Não me sinto velho, não tenho cabeça de velho. E não carrego comigo nenhuma frustração.


em http://oglobo.globo.com/cultura/edu-lobo-vai-celebrar-seus-70-anos-com-gravacao-de-dvd-no-rio-9733456#ixzz2dNS9FNFO

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