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domingo, 29 de setembro de 2013
O poeta e a floresta
CLAUDIO LEAL
ilustração DEBORAH PAIVA
ilustração DEBORAH PAIVA
RESUMO Aos 87 anos e preparando novos livros de prosa e poesia, o escritor e diplomata repassa sua trajetória. Ele, que ao voltar do exílio em 1977 regressou também ao seu Amazonas natal, levou a reportagem a conhecer as casas que Lucio Costa projetou para ele e que, entregues ao poder público, se deterioram na floresta.
*
Os gaviões espreitam o poeta e guincham entre as copas das árvores, no barranco do rio Andirá. Corpo nas águas escuras, enfiado num calção de rapazote, Thiago de Mello impõe silêncio e indica o ninho, imita-lhes os chiados. E celebra: "Ela veio me ver, rapaz. Não disse que a gaviã me conhecia? Bem, ao menos inventei que me conhece. Querida gaviã!".
A Freguesia do Andirá possui pouco mais de 4.000 habitantes, esse casal de gaviões e três acapuranas geminadas, com flores rosadas, em frente à casa do poeta. Distrito de Barreirinha (AM), a 331 km de Manaus, o vilarejo fica próximo dos índios maués.
Em agosto, Amadeu Thiago de Mello, 87, revisou um livro de inéditos, "Ajuste de Contas", a ser lançado no primeiro semestre de 2014 pela Global, de São Paulo. "Se eu não deixar alguns dormindo, vão beirar uns cem poemas", avisa. Escreveu-os no Chile, na Bolívia, no Peru, na ilha de Páscoa, em Portugal, na França, na Alemanha, na Espanha e na Amazônia, onde mora desde que retornou do exílio, em outubro de 1977.
Na floresta, desafia as complicações coronarianas e prepara um livro de memórias, "Eu E Os Outros Comigo", e mais dois de prosa, um deles ao estilo dos cronistas antigos: "Livro narrativo da situação quase desdenhável do meu corpo, ao qual devo tanta felicidade, escrito com a ajuda fascinante da memória e certas impertinências da imaginação". Haverá ainda um volume de conversas com o músico Manduka, "pássaro-cantor que se calou" -seu primogênito morreu em 2004, aos 52 anos, vítima de um acidente vascular cerebral.
Alguns poemas estão zangados, adverte Thiago, tornando à superfície do rio, cabelos de caboclo molhados. "Manuel Bandeira era um danado", retoma. "Ele me dizia: 'Às vezes um poema fica zangado. É só dar atenção que a zanga passa'." Na estrofe final do inédito "Cântico de júbilo", Thiago ausculta suas batidas de octogenário:
"Como fulgor de aurora, me levanta/ a alegria de ouvir meu coração/ batendo firme, cântico de júbilo,/ por me ver perseguir, perseverante./ Ele não sabe que algo se germina,/ conspira escuro contra esse fervor./ Nem poderá prever o instante certo/ do seu silêncio. Que não seja perto."
TEMPLO
Um apartamento no centro de Manaus é seu único pouso urbano. Em Barreirinha, sozinho ou ao lado da mulher, a poeta Pollyanna Furtado, 32, Thiago se dedica a poemas, leituras, música e banhos de água doce. Nos cinco dias em que a reportagem o visitou, esteve acompanhado somente por Luís Carlos, 49, caseiro e guardião de seu templo na floresta.
Nas cheias, o Andirá sobe acima da metade dos pilotis de 2,25 metros das casas -além da residência do escritor, há outras duas construções nas laterais, repletas de livros. O projeto é um dos cinco que o arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902-98), autor do Plano Piloto de Brasília, fez no Amazonas -todos para o poeta. Na casa da Freguesia, traçou uma varanda de madeira, de onde Thiago conversa "com as acapuranas e com o rio".
O "vago mago", como o definiu o chileno Pablo Neruda, conhece os sortilégios medicinais. Três vezes ao dia, bebe o chá de unha-de-gato, para enfrentar sua neuropatia. Adiciona ao guaraná dos maués uma colher de mirantã, o pó usado no tratamento de nevralgias e fraquezas do estômago. Seus amigos podem receber, pelo correio, pacotes de ervas amazônicas. Assim fez com o jornalista Armando Nogueira (1927-2010), que usou a unha-de-gato para fortalecer o sistema imunológico durante o tratamento para o câncer.
Ouve Mozart no café da manhã; no quarto de música, além de fotografias de Pixinguinha, Tom Jobim, Gilberto Gil, Villa-Lobos e Pablo Milanés, há um mural de mulheres amadas, cujos rostos são contemplados no momento de escolher um disco ou de mexer os gelos do uísque. Dez casamentos, "uns de papel, outros só de amor", e quatro filhos: além de Manduka (com Pomona Politis, sua primeira mulher), é pai de Carlos Henrique (com Ayla), 54, Isabella (com Maria de Lourdes), 43, e Thiago Thiago (com Ana Helena), 32.
A coletânea de traduções "Poetas da América de Canto Castelhano" (Global, 2011) testemunha suas andanças na América Latina. Depois de Jorge Amado, Thiago talvez seja o escritor brasileiro que mais conquistou amizades com artistas, políticos e grandes autores do continente. Do colombiano Gabriel García Márquez, recebeu, numa dedicatória de 1978, o epíteto de "guru grande". Do argentino Jorge Luis Borges, ganhou um ensinamento, numa entrevista realizada em Buenos Aires, em 1981: "Deveríamos talvez falar com todas as pessoas como se já estivessem mortas, deveríamos tratá-las com a máxima bondade".
Nas paredes, há lembranças de encontros com Ernesto Cardenal, Fidel Castro, García Márquez, Borges, Mario Benedetti, Pablo Neruda, Salvador Allende e Violeta Parra. Em qualquer desvio de papo, sorri lembrando uma advertência de Neruda, na Isla Negra, onde vivia o Nobel chileno: "'Compañerito', a árvore de tua conversa tem muitos ramos".
ÓRFÃO
"Eu morrendo ou o Thiago morrendo, o que sobreviver vai se sentir muito órfão", diz Carlos Heitor Cony, amigo do poeta há mais de 60 anos. O romancista e colunista da Folha conheceu Thiago de Mello no Rio, para onde o amazonense se mudou em 1941.
Thiago foi batizado como escritor em 1952 por uma crítica de Álvaro Lins, que assinava um influente rodapé literário no jornal "Correio da Manhã".
Seu livro de estreia, "Silêncio e Palavra" (1951) o vinculou à Geração de 45, a mesma de Lêdo Ivo e João Cabral de Melo Neto, e encantou o crítico: "Poetas principais de nossa literatura moderna: estou tentado a pedir-vos um lugar, ao vosso lado, para o poeta de Silêncio e Palavra. Com 26 anos e um só livro publicado, o sr. Thiago de Mello bem demonstra, todavia, que já se acha em condições de situar-se na primeira linha da nossa poesia contemporânea".
Reprodução | ||
Impulsionado pela acolhida, rejeitou o conselho dado por Drummond, logo ao conhecê-lo no final dos anos 1940, no Ministério da Educação: "Não faça isso, ninguém vive de poesia no Brasil". Abandonou o curso de Medicina, ingressou na diplomacia e seguiu fiel à literatura, lançando "Narciso Cego" em 1952, "A Lenda da Rosa" em 1956 e "Vento Geral" em 1960.
Assemelhava-se, recorda Cony, a "um personagem de Proust no Rio". "Vestia-se elegante, ternos bem cortados. Era cronista do jornal 'O Globo' e editado de José Olympio". No exterior, atuaria como adido cultural na Bolívia e depois no Chile até o golpe de 1964.
Na Hipocampo, criada com o também poeta Geir Campos na década de 50, editou 20 obras em dois anos, incluindo Drummond, Cecília Meireles, Jorge de Lima e o primeiro livro de Paulo Mendes Campos, "A Palavra Escrita". Eram edições artesanais, distribuídas aos assinantes do selo, em que as folhas soltas eram "envelopadas" dentro das capas. Esse aspecto desagradava Rubem Braga, que mandava costurar seus exemplares.
Dos tempos à frente da Hipocampo, o poeta guarda uma anedota envolvendo Guimarães Rosa, que lançou pelo selo "Com o Vaqueiro Mariano" (1952). Ao regressar da tipografia, em Niterói, Thiago avisou a Rosa que estava tudo rodado. "Não me diga essa desgraça!", dramatizou o mineiro, sob a luz de um lampião de Copacabana. "Eu pago seus custos, os papéis, as tintas! Preciso trocar um verbo. O pelo da vaca banhado de lua não reluz, obluz! Obluz!"
No Rio, o amazonense tornou-se íntimo também do romancista José Lins do Rego e do poeta Manuel Bandeira. Sempre a chamá-lo de "o sacana do De Mello", Zé Lins fez dele quase um irmão mais novo. Em 1957, nos últimos três meses de vida do autor de "Menino de Engenho", assumiu o posto de acompanhante de quarto no hospital.
A amizade com Bandeira gelou dois meses depois do golpe de 1964, com a publicação de "Os Estatutos do Homem", poema traduzido para mais de 30 línguas e incorporado ao livro "Faz Escuro Mas Eu Canto" (Civilização Brasileira, 1965). Saiu dedicado a Cony.
Em 11 de junho, Bandeira enviou uma carta de rompimento, em que defendia o golpe e repreendia Thiago pela dedicatória. "Chorei quando ele me pediu por escrito que eu não o considerasse mais seu amigo. Uma surra. Aproveitou para machucar o Cony, o primeiro dos intelectuais brasileiros a escrever contra a ferocidade dos militares", lembra o poeta na floresta. "Devolva essa carta... Ela queimará as suas mãos pelo resto da vida", recomendou Neruda ao adido cultural brasileiro no Chile, seu camarada desde 1960.
"Havia aí um problema pessoal entre mim e Bandeira", revela Cony, ao lembrar do episódio: "Não rompeu com o Thiago só por ideologia. Bandeira tinha sido padrinho de casamento de uma moça que se separou do marido para casar comigo. Ele me chamou de canalha, uma coisa violenta. Não respondi devido ao respeito que tenho pelo Bandeira, que acho o melhor poeta brasileiro".
De volta ao país, em 1965, após a renúncia à carreira diplomática no Chile, Thiago e suas irmãs visitaram o briguento, com o qual costumavam ter sessões musicais. Numa reconciliação, Bandeira recitou de cor o "Poema Perto do Fim", de "Faz Escuro Mas Eu Canto". Abraçado ao jovem poeta, sussurrou: "Esqueça aquela carta...".
Naquele ano, na prisão, Thiago aproximou-se ainda mais de Cony -ambos "recém-chegados" de um protesto de artistas e intelectuais contra a ditadura, em frente ao hotel Glória, no dia de uma conferência da Organização dos Estados Americanos no Rio. No quartel do Exército, o homem do Andirá queixou-se em dó de peito: "Sou índio, preciso tomar banho de rio".
MERCÊS
Não há vento. Nas águas mornas do rio Andirá, o poeta cantarola "Les Feuilles Mortes", de Jacques Prévert, e divaga: "Quero comemorar os meus 90 anos. O que vier, como diria Dom Quixote, serão mercês". E mergulha.
Há cinco anos desvia-se da cidade para a casa da Freguesia. Para aportar na Freguesia, pega um avião noturno de Manaus a Parintins, onde dorme numa pousada e embarca de manhã na voadeira Nina, do barqueiro Getúlio. A lancha encosta na entrada de sua casa. No lar ou em trânsito, veste-se de branco. "Sempre gostei de roupa branca", contou. "Mas, no exílio, eu usava era o cinza do capote, para não morrer de frio!"
"Entre a ilha e a mata, dobra à direita pro Igarapé do Pucu", reforça com o condutor do barco Nicodemos, que nos leva a Barreirinha.
Na saída no porto, equilibra-se numa tábua. Moto-taxistas se oferecem para levá-lo ao mercado, sem cobrar nada. De lá, carregando frutas e ovos, leva a reportagem a visitar as antigas moradias, projetadas por Lucio Costa, "o homem mais delicado que já conheci". Apresentados por Drummond em 1948, não se afastariam mais.
No retorno de Portugal (a última parada do exílio), em 1977, Thiago havia anunciado, em entrevista, que voltaria a morar na Amazônia, para servir à causa ecológica (lançaria "Mormaço na Floresta", em 1986, e "Amazonas, Pátria da Água", em 1991) e aprender com os locais. Passados alguns dias, Lucio ligou: "Venha buscar a sua casa".
O arquiteto, cuja mãe, Alina, era amazonense, assim anota o fato em "Registro de uma Vivência" (1995): "Finalmente, numa como que volta às origens, dei o risco da casa que, em Barreirinha, no coração da Amazônia, o poeta nativo constrói com zelo e amor".
Nos anos posteriores, sairiam da prancheta ainda uma biblioteca e um "torreão", com janelas quebra-vento, para servir de local de trabalho. O conjunto, erigido em 1978, foi nomeado Porantim do Bom Socorro.
Em 1992, o então chanceler Fernando Henrique Cardoso convidou o poeta a reassumir o posto de conselheiro cultural no Chile, "para pagar uma dívida da pátria". Com a mudança de domicílio, o governo do Amazonas comprou os três imóveis e repassou-os à prefeitura de Barreirinha.
"Thiago era adorado pelos meios culturais e políticos de Santiago. A ele nunca faltou coragem para receber de braços abertos os exilados brasileiros. Sua condição de adido cultural da embaixada e seu sentimento fraterno e democrático serviram de apoio a muitos de nós. Thiago morava na casa que era do Neruda (hoje é museu), o que já mostra o quanto ele era bem relacionado por lá. Foi em sua casa que conheci Salvador Allende", rememora o ex-presidente FHC.
Nos anos 90, Lucio Costa projetou ainda uma nova casa, à beira do Paraná do Ramos, um braço do Amazonas, e inflou a generosidade: uma cama pensada especialmente para o quarto do poeta harmonizava-se às medidas de uma janela, para que Thiago, deitado, pudesse ver o rio de sua aldeia.
MEMORIAL
A casa do Paraná do Ramos foi o ponto inicial do roteiro. Nela funciona precariamente um Memorial Thiago de Mello, mas, no acervo, não restou nenhuma obra do homenageado. O secretário municipal de Cultura, Aderaldo Tavares, relata que a luz esteve cortada até janeiro, quando ele assumiu o cargo. Tavares afirma que encontrou as casas "totalmente abandonadas".
"Conseguimos abrir para os estudantes que procuram o Memorial. Já solicitamos ao governo um projeto de restauração de todas as casas. Tivemos uma resposta de que vai ser feito", ressalta.
Por e-mail, a Secretaria da Cultura do Estado informa que a casa do Paraná do Ramos é a única das construções de Lucio Costa que foi "incorporada ao patrimônio do Estado". "Além de recuperada, foi transformada em espaço de cultura e concedida em comodato à Prefeitura do município de Barreirinha, responsável até então pelo imóvel."
No segundo andar do que deveria ser seu memorial, Thiago recolhe do chão os desenhos originais de Lucio. Vai levá-los para restauro. A cama, quebrada, foi confinada a um quarto minúsculo. "Uma das maiores tristezas que já tive em minha vida é isso acontecer na terra onde nasci. É a expressão da cultura do Brasil", diz, indignado. "Eu não devia ter voltado".
Vamos depois ao Porantim do Bom Socorro. O sítio não possui segurança. Construída com madeira, a casa tem poças d'água, escadas vacilantes, infiltrações, marimbondos. Lucio Costa traçou apenas o corrimão esquerdo da escada, mas a prefeitura acrescentou o direito e jogou um piso ladrilhado sobre a terra batida.
Demolida, a biblioteca virou um prédio de concreto. O torreão está pichado com palavrões. "Demoliram a biblioteca em que trabalhei! Demoliram!", lamenta Thiago, ao verificar o avanço da degradação. Cerca de 2.000 livros foram roubados ao longo de uma década, durante suas viagens e ausências. Folhas de edições antigas foram encontradas nas bordas de fossas.
"Na volta do Chile [em 1996], sentei na calçada e chorei lágrimas de esguicho, como dizia Nelson Rodrigues. Como fizeram isso? Nunca mais piso aqui", jura Thiago. No barco, muda de ideia e se diz decidido a lutar pela restauração e pelo tombamento dos prédios. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não há "registro de pedido de tombamento desses imóveis".
"Mais que o tombamento, deve-se garantir a preservação das obras. O tombamento é um instrumento extremo, que não garante a preservação da obra em sua integridade", defende a professora e arquiteta Ana Luiza Nobre.
Nobre, professora da pós-graduação em arquitetura da PUC-RJ e ex-diretora da Casa de Lucio Costa, no Rio, define as casas como "exemplares raros de inflexão da linguagem arquitetônica moderna -em seu caráter por princípio universalizante- a uma situação muito específica, do ponto de vista cultural, climático etc". Daí, diz ela, seu "valor inestimável para o quadro da arquitetura no Brasil".
A professora recorda que Lucio Costa havia adotado procedimentos semelhantes num projeto dos anos 1940, o Park Hotel de Nova Friburgo, na região serrana do Rio, em que usou estrutura de madeira. "O contexto amazônico é determinante e se soma ao fato da casa ter sido projetada para um poeta, produto do encontro de dois artistas."
Na Freguesia, fora da zona urbana, em sua atual casa (a única bem conservada do conjunto de construções de Lucio Costa), Thiago explica a demora de 17 anos para denunciar o início da depredação: "Sou filho de Barreirinha. Sou um homem de bem. Para falar, eu teria que envolver meu povo".
Voltar às origens amazônicas é um gesto corajoso, avalia o romancista Milton Hatoum, julgando que a província pode ser cruel com os que regressam. "Mas, quando você fica longe do seu lugar, às vezes sua literatura esmorece". O amazonense Hatoum destaca o engajamento de Thiago nas manifestações contra as "barbáries urbanas" em Manaus.
DORES
A destruição de casas e livros reaviva dores da ditadura chilena. "Perdi muita coisa de grande valor quando a casa em que eu morava foi invadida pelos primatas de Pinochet, três dias depois do golpe, em setembro de 73. Eu era refugiado, desde 1970, ano da eleição do meu Salvador Allende, a cujo governo servi como diretor de comunicação da Reforma Agrária", narra Thiago.
Ele lembra ter retornado um mês após o golpe à casa onde vivia, no bairro santiaguino de Vitacura, para constatar que não havia mais quadros. Uma fogueira de livros ardeu no jardim, segundo a proprietária. Conta que sumiram com as provas de uma obra que escrevia sobre a ilha de Páscoa. E jamais reencontrou uma pasta de pelica que guardava as cartas de Bandeira e Neruda.
"Hoje vai ter canto do rio", pressente o poeta, ao ver a agitação fluvial. A noite da Amazônia está crivada de sons de pássaros. Recolhido entre os livros, chora ao lembrar de todas as casas devastadas.
O poeta ressurge purificado para a despedida, duas noites depois. O banho de cheiro da vizinha dona Coló derramou ervas e aromas sobre seu corpo: mucuracaá, pinhão, canela, arruda, sândalo, cuia-mansa, rosa branca grande, galhotinha, manjericão e patchuli. À beira-rio, Thiago limpa a gaita para tocar uma música de Garoto. Há um bom tempo não ouvia "Terra", de Caetano Veloso, canção que o faz sentir como se "dirigindo o planeta". Golpeia o ar no refrão, como rédeas: "Terra". Sob a luz lunar, o vago mago obluz.
CLAUDIO LEAL, 31, é jornalista.
DEBORAH PAIVA, 62, é artista plástica.
DEBORAH PAIVA, 62, é artista plástica.
Poemas de Alice Ruiz
Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua
Alice RuizLogo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua
Ninguém me canta
como você
ninguém me encanta
como você
nem me vê
do jeito
que só você
de que adianta
ter olhos
e não saber ver
ter voz
mas não ter o que dizer
digam o que disserem
façam o que quiserem
ninguém diz
ninguém vê
ninguém faz
como você
ninguém me canta
ninguém me encanta
como você.
Alice Ruizcomo você
ninguém me encanta
como você
nem me vê
do jeito
que só você
de que adianta
ter olhos
e não saber ver
ter voz
mas não ter o que dizer
digam o que disserem
façam o que quiserem
ninguém diz
ninguém vê
ninguém faz
como você
ninguém me canta
ninguém me encanta
como você.
Já estou daquele jeito
que não tem mais conserto
ou levo voce para cama
ou desperto.
Alice Ruizque não tem mais conserto
ou levo voce para cama
ou desperto.
Teu corpo seja brasa
teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
Alice Ruizteu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
http://pensador.uol.com.br/poemas_alice_ruiz/
Milágrimas
em caso de dor, ponha gelo, mude o corte de cabelo
mude como o modelo
vá ao cinema, dê um sorriso, ainda que amarelo
esqueça seu cotovelo
se amargo for já ter sido, troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério, deixe os critérios, siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre
caso de tristeza, vire a mesa, coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um poema
sofra apenas, viva apenas
sendo só fissura, ou loucura, quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada milágrimas sai um milagre
mas se, apesar de banal,
chorar for inevitável
sinta o gosto do sal, do sal, do sal
sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma
duas, três, dez, cem, mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre
a cada milagrimas.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Trova do Vento que Passa
Trova do Vento que Passa
de Manuel Alegre
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
A ilustradora:https://www.facebook.com/.../26513397732
Mandy Pritty Illustration
Artist
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MURMÚRIO
Nei Duclós
Esplêndida manhã de primavera
a ilha enfim diz a que veio
o ar frio, carícia em teu seio
tudo combina no pleno sossego
Lembro e esqueço, palavra no meio
beijo calado em sumo de pêssego
foste para longe voltaste de chofre
blusa apertada e risada surpresa
Trazes imagens do mundo distante
colocas na estante, teu corpo molhado
colho assombrado, murmúrio de folhas
Nasce a estação e a luz que me parte
em loucas metades que são teu acervo
uma é o amor e a outra é a vontade
- Imagem desta edição: foto de Eliane Fogel.
http://outubro.blogspot.com.br/2013/09/murmurio.html
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
(In) esperada
Mora dentro de mim
Uma vontade não dita
Que me detém e vibra
Enquanto o milagre
Não começa, enquanto
Abro todas as janelas
Que me lembram
As formas mais belas
De se deixar sorrir.
Então eu me coloco tão aberta
Tão disposta e ereta
Esperando na certa
O amor envelhecer
Nos traços de alguém.
Priscila Rôde, in: Para que fiques, Pág 63.
O MINUTO MAIS INTENSO NA VIDA DE MARINA ABRAMOVIC
em arte por fernanda pacheco em 26 de fev de 2013 às 23:04 | 2 comentários
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Masculin/Masculin
El Museo d'Orsay de París desnuda a los hombres
Más de 100 obras recorren la representación del desnudo masculino desde principios del XIX hasta la actualidad
FOTOGALERÍA Señores sin tapujos
ver fotogalería
Óleo sobre lienzo, 'Abel' (1874-1875) de Camille Félix Bellanger. / PATRICE SCHMIDT (EFE)
El Museo d' Orsay expone hasta el próximo febrero Masculin/Masculin, una exposición que aúna pintura, escultura, fotografía y vídeo bajo una sola temática, el cuerpo masculino desnudo. Más de 100 obras en distinto soporte recorren la representación del desnudo masculino desde 1800 hasta la actualidad, repartidas en 11 espacios temáticos que abarcan desde el ideal clásico, el desnudo heroico, el cuerpo en la naturaleza o el dolor.
El conservador de la institución y comisario de la exposición Xavier Rey señaló en una entrevista con Efe que "la idea era recolocar la problemática estética y cultural del hombre desnudo" que aparece aquí bajo muchas perspectivas, pero siempre observado desde un punto de vista fundamentalmente masculino. Ese protagonismo de la mirada masculina se plantea, en palabras del comisario, como una consecuencia natural de la dominación social por parte de los hombres a lo largo de los siglos y hasta un periodo de tiempo relativamente reciente.
"La gran mayoría de artistas que representan a los hombres son hombres ellos mismos, así que vamos a ir desde el espejo narcisista del artista cara a cara consigo mismo, a una representación más masculina del deseo que puede aparecer en algunas de ellas", aclaró Rey, uno de los cinco responsables de la muestra.
Se produce una fuerte diferencia entre la representación clásica de San Sebastián a los ojos de Guido Reni y la mirada de Zoe Leonard, que muestra al hombre como objeto de deseo con Pin-up nº1, Jennifer Miller como Marilyn Monroe, donde se puede ver a un hombre posar desnudo sobre terciopelo rojo en una emulación con cierto humorismo de la actriz estadounidense.
La desnudez masculina formó parte de la formación pictórica entre los siglos XVII a XIX, pese a que sea más frecuente y natural el desnudo femenino, explicó el museo. Por tanto, su aparente ausencia no quiere decir que el cuerpo del hombre "haya sido abandonado por los artistas", sino que "no ha sido nunca considerado como tal", aclaró Rey, que consideró que esta exposición permite "comprender cómo se ha perpetuado, modificado y reinventado a lo largo del tiempo".
Para ello el recorrido propuesto, en lugar de ser cronológico, es temático, de modo que en una misma sala conviven dos obras a las que separan 200 años en su creación, pero cuya unión formal y temática es absoluta. El comisario señaló que hay cánones comunes "como el neoclásico inspirado en la antigüedad, que se ha perpetuado hasta nuestros días", aunque otros den la vuelta a los esquemas, como la revolución realista (segunda mitad del siglo XIX), que "modificó completamente los códigos de representación para algunos artistas". En ese sentido apuntó también a la influencia de unas artes en otras, como "la llegada de la fotografía", una disciplina también muy presente en la muestra desde sus comienzos, como se ve en "Lucha de dos hombres desnudos" (1887) de Eadweard Muybridge.
Los amplísimos temas que se dan la mano en Masculin/Masculin van desde la realidad más cruel, como la enfermedad o la muerte, hasta "el desnudo filosófico", pues, según explicó Rey, el desnudo masculino se reinventa a finales del XIX con una "perspectiva más teórica y espiritual", en "respuesta a la indiferencia de la naturaleza" como consecuencia de la revolución industrial.
http://cultura.elpais.com/cultura/2013/09/24/actualidad/1380013498_175316.html
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Se o homem amasse mulher como ama futebol
POR XICOSA
Amor fora de campo: Garrincha & Elza Soares.Foto:EPA
O que aconteceria se o homem, aqui vale o homem normal, a média dos homens -aquele cara simples, tarado por mulher, cerveja e futebol – gostasse tanto da sua amada como gosta do seu time do peito?
Seria uma revolução. Mudaria tudo. Tudo mesmo. Repare:
Para começar, o macho jamais deixaria a sua fêmea. Nunca, never. Homem que é homem muda de sexo mas não muda de time.
Mesmo quando ela se sentisse a pior das criaturas, por baixo mesmo, mesmo quando ela blasfemasse aos céus e se queixasse ao espelho que estava gorda e autoestima despencara.
Muito pelo contrário. Isso seria motivo para aumentar ainda mais o amor e até para renovar a paixão, com garantia eterna de fidelidade, como ocorre quando o time do homem cai para a Segundona do campeonato –“Eu nunca vou te abandonar, Corinthians”.
Se o homem gostasse da mulher pelo menos 50% como ama o seu time, nem uma bola nas costas, uma traição, como uma derrota incompreensível, seria motivo para o fim do relacionamento. No futebol, assim como no amor, tudo seria perdoável.
Se o macho normal gostasse da cria da sua costela como quem aprecia um Flu, um Fla,um São Paulo, um Peixe, um Palmeiras, um Bahia, um Santa Cruz, um Galo, um Grêmio, arranjaria tempo para ir com ela ao cinema ou jantar fora pelo menos duas vezes por semana –no mínimo empataria com o tempo que dedica ao clube.
Apreciasse sua mulher como é chegado ao futebol, o sujeito trocaria pelo menos uma mesa-redonda na tv por um conversa com a dama. Em vez da crise no Vasco, tentaria entender a derrota que virou seu casamento.
Se o Cruzeiro anda tão bem, brilha na dianteira do firmamento, por que não melhorar também, amigo, a posição na tabela no jogo dentro e casa? Deixar tudo mais celeste, o amor azulzinho em um céu de brigadeiro?
Não sejamos exagerados. Bastaria dedicar 30% do que se devota ao time do peito. Teríamos uma mudança radical na vida dos casais.
Imagina se o torcedor do Goiás, caro Rogério Bueno, cantasse assim para aa namorada, como canta para o time esmeraldino: “Pra vencer tem que ser guerreiro/ Pra te ver sou sempre o primeiro…”
O cara é capaz de morrer por um triunfo do Furacão, do Coxa ou do Sport, o cara chora pelo Botafogo, o cara come toda a água do planeta pelo Vitória, o timbu deixa o lar doce lar para ir sofrer em São Lourenço da Mata…
Se o homem gostasse tanto da sua mulher como gosta do seu clube o domingo seria outro. Quando o time fosse derrotado, ele se confortaria no amor e no sexo da princesa. Não é o que acontece. A desgraça no futebol o inviabiliza na cama. É batata.
No caso da mulher doente por futebol, mesmo uma corintiana, creio que a relação seja outra. Na alegria ou na tristeza clubística, ela é a mesma. Consegue separar o desejo com o amado do placar domingueiro.
Como diria meu amigo Nick Hornby, não há termômetro que entenda o macho e essa febre de bola.
http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/
É por Ti que Vivo
António Victor Ramos Rosa (Faro, 17 de Outubro de 1924 - 23 de Setembro de 2013), um poeta português
António Ramos RosaPortugaln. 1924Poeta/Ensaísta
É por Ti que VivoAmo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'
Tema(s): Amor Ler outros poemas de António Ramos Rosa
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'
sábado, 21 de setembro de 2013
CHAVELA VARGAS E O CANTO DA ALMA
em musica por lisa zigue em 13 de set de 2013
Fez em Agosto, 1 ano sobre o falecimento de Izabel Vargas Lizano, mais conhecida como Chavela Vargas. Nascida em 1919, em San Joaquín de Flores, Costa Rica, viu a sua infância manchada pela doença e pelo divórcio dos seus pais, sendo deixada ao cuidado dos tios.
Saiu aos 14 anos do seu país, sozinha, incompreendida, e identificou-se com o México. Ali desempenhou várias funções, mas foi com a voz e a atitude que surpreendeu, chamando a atenção com o tema Macorina.
Macorina é a história verdadeira de uma mulher astuta e bela, que no seu tempo foi uma precursora na luta pelos direitos das mulheres. Uma musa e inspiração para muitos. Uma lenda.
O seu nome era María Calvo Nodarse (1892 – 1977) e abandonou Cuba aos 15 anos rumo a Havana, com o noivo e único amor. A mudança foi difícil devido às dificuldades económicas, vendo–se obrigada a abdicar do seu romance para entrar no mundo da prostituição.
A forte personalidade e beleza levaram-na até às esferas mais selectas e ricas, tornando-se uma das prostitutas mais famosas e elegantes da época. Foi considerada a Mata Hari cubana e foi a primeira mulher a obter licença de condução e a conduzir um automóvel em Cuba. Numa sociedade de moral católica, foi apelidada de “diabólica”. Muitos foram os seus feitos, intensa foi a sua vida.
Macorina foi imortalizada nas artes. Alfonso Camín escreveu um poema sobre ela e Chavela cantou-a com muito sentimento e compreensão, transformando-a numa das músicas mais conhecidas da sua carreira. Numa entrevista falou sobre ela:
“Macorina te voy a llevar conmigo alrededor del mundo. Vas a recorrer de mi mano muchos mares y tierras lejanas. Se lo dije así y ella sonrió. Quién sabe si en ese momento me había creído, seguro que no, pero vivió el tiempo suficiente como para darse cuenta de que cumplí mi promesa. Cuando ella murió, en 1977, ya mi Macorina había ido y venido alrededor del mundo”.
Como diz Chavela, este tema percorreu mundo e converteu-se também num hino ao espírito rebelde, prenúncio da essência da sua música e carreira.
Destemida, as suas músicas seriam normalmente cantadas por homens e falavam de desejo pelas mulheres. Vestia roupa masculina, fumava e carregava uma arma. Era conhecida pelo casaco vermelho que adorava envergar.
Passeava com Agustín Lara, compositor e poeta mexicano, musa e amiga de Juan Rulfo, escritor mexicano. Vivia com os pintores Diego Rivera e Frida Kahlo e bebia grandes doses de tequila. As melodias iam surgindo…
Somos, Luz de Luna, Las simples cosas, Toda una Vida … a preciosa Llorona.
Somos, Luz de Luna, Las simples cosas, Toda una Vida … a preciosa Llorona.
O alcoolismo privou-a da música durante 12 anos e quase lhe roubava a vida.
"Estrenaba un coche el viernes y el lunes ya no tenía nada, me emborrachaba y me iba a cantar por las calles. Yo tomaba tequila, todo me lo tomé, por eso no quedó nada allá"
Pois foi no início dos anos 90 que fez o seu regresso!... A cantar!
Foi por esta altura, que o editor Manuel Arroyo a leva para Espanha e o êxito é imenso. Chavela conquista. Para ela Espanha é um país que a torna sua amiga, abrindo-lhe os braços e a sua juventude. O reconhecimento e as alegrias fluem.
O realizador espanhol Pedro Almodovar descobre nela uma amiga, uma musa:
“Não acredito que haja neste mundo um palco suficientemente grande para ela.”
“Não acredito que haja neste mundo um palco suficientemente grande para ela.”
Chavela Vargas só falou da sua homossexualidade aos 81 anos na autobiografia “Y si quieres saber de mi passado”. Numa entrevista à televisão columbiana, declarou que era lésbica e reconheceu Frida Kahlo como o grande amor da sua vida.
Em 2000, o Conselho de Ministros espanhol concede-lhe a Gran Cruz de Isabel la Católica.
“La Vargas” actua em palcos importantes como o Olympia de Paris, Carnegie Hall e o Palácio de Belas Artes no México. Homenageada pelo Governo da cidade do México, nos seus 90 anos.
Morre a 5 de Agosto de 2012.
Chavela Vargas teve as suas aparições em filmes como “Frida” de Julie Taymor, a cantar os clássicos Llorona e Paloma Negra.
Também aparece em Babel de Alejandro González Iñárritu a cantar “Tú me acostumbraste”.
Foram mais de 40 discos gravados e quase 1000 concertos. Uma vida cheia para esta mulher de carácter rebelde e contestador. Autêntica. A sua maneira de cantar tão sensível, mas ao mesmo tempo profunda e assertiva, transporta-nos para um mundo de dor, onde sentimos o seu “ riacho de esquecimento alagado” de “lembranças afogadas” e muito amor. Um mundo totalmente diferente e especial, recriado na voz desta mulher inspiradora.
O seu legado:
AUTUMN's here....
Amber Glow
Wesley Mincin
Red and yellow painted leaves
hang idly within the trees
They break and sail along the breeze
As fires of Autumn's time
They dance and surf upon the ground
Overlap each other with ruffling sound
A setting I am glad I found
As fires of Autumn's time
Like fires of the Autumn season
they leap and dance without a reason
A factor of Autumns many seasons
As fires of Autumn's time'
The grey clouds break, the sun appears
The dancing leaves appear to sere
These flames its kept for many years
As fires of Autumn's time
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