Edição 1855 de 23 a 29 de janeiro de 2011
Inéditos | Nei Duclós
Inéditos | Nei Duclós
Palavra perdida
Quando dorme o dorso da Terra
encontre a fera, palavra síntese
a medrar no escuro. Ela te acorda
na manhã seguinte
A madrugada é boa para poesia
O poder dorme, o desamor cochila.
E tuas asas, em desuso, circulam
Como a carga de um casulo
A infância, resto de memória
Imaginada depois de ter sumido
Reaparece de amor em punho
único brinquedo ainda explícito
O que fazer com a insônia,
vôo que morre ao sol a pino?
Não importa. O que vale é o salto
no abismo, onde vive a criatura:
A Lua cheia, coberta de nuvens
fugindo em maquiagem espessa
até ficar apenas uma trilha
no veludo sem estrelas
More no poema insepulto
Componha a sinfonia
Nenhum verso faz sentido
Sem alguém que o habite
Gaia
Ventos: a terra respira.
Rios: o sangue circula.
Mar: existe uma alma.
Montanha: Deus medita.
Lagos: os anjos se banham.
Selva: o jaguar te enxerga
Nuvens: o céu cria filhos.
Raios: gigantes rabiscam.
Chuva: o sonho descamba.
Noite: manto de estrelas.
Dia: chapéu de brisa
Inverno: o avô pega o ônibus.
Verão: um jardim de formigas.
Outono: um tio puxa briga.
Primavera: a rosa desfila
Deus: o fim é o início.
Homem: irmão de sementes.
Mulher: mudança de tempo
Praia: Netuno é criança.
Velas: há um motor na esperança.
Porto: o amor vem à tona
Sonho: o passo imagina.
Vigília: o olhar está frio.
Sono: a vida se abriga
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