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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sobre a obrigação de dar alguma opinião





Ainda que eu não seja daqueles que responsabilizam a internet pela dissolução da família, a violência nas ruas e a falta de assunto nas festas de reencontro de turmas (“ah, e eu fui pra Itália, sabia?” – “sei, eu vi seu álbum de 700 fotos, incluindo aquela empurrando a torre de pisa. assim, bem original”) eu considero que ela é uma das principais responsáveis por outro fenômeno perturbador e bastante típico da nossa era: o fato de que todos nós nos sentimos na obrigação de ter opiniões sobre tudo.

E isso não porque com o surgimento dos twitters e facebooks nós temos mais plataformas do que nunca para expressar as nossas opiniões, sejam elas quais forem, sobre o tema que for – “acredito que não apenas o homem não pisou na lua como esse descobrimento da américa tá meio mal contado”. E também não porque pelo próprio funcionamento dessas redes nós temos a possibilidade de emitir essas opiniões para um número ilimitado de pessoas, com uma quantidade mínima de filtros e em condições que vão desde a opinião ponderada e consciente sobre o novo lolo que é menos macio que o antigo até o ponto de vista alcoolizado e digitado no celular sobre a questão das cotas – “sou cntr as costas pa mullatps malhds”.

Mas sim porque a soma desses fatores criou um ambiente em que não apenas nos sentimos cada vez mais propensos a emitir opiniões nascidas de um nível cada vez menor de pesquisa – “sou contra porque minha amiga postou um gif dizendo que era ruim” – como nos sentimos quase culpados quando não opinamos e assim obrigados a ter pelo menos alguma posição diante de todas essas questões que diariamente são trazidas à tona, por mais que tenhamos pouca compreensão ou mesmo o mais absoluto desinteresse quanto aos temas abordados. Eu mesmo uma vez fui pressionado para dar uma opinião sobre a crise na Grécia e tudo que consegui dizer é que eu era contra, o que, acho, não deve ter feito muito sentido na hora e menos sentido ainda depois.

Então, ainda que em alguns instantes isso possa parecer quase impossível, é hora de aprendermos que é normal não ter opinião. Não saber do que se trata, pedir mais tempo pra pesquisar, sugerir que a pessoa explique melhor a questão, ir ao banheiro discretamente e de lá acessar a Wikipedia, ou mesmo admitir que você não tem picas a ver com o assunto, nada disso te torna necessariamente uma pessoa menos interessante ou menos engajada nos problemas do mundo. Apenas, muito provavelmente, diminui as suas chances de ser o cara que vai escrever um texto de duas páginas comentando uma notícia no facebook apenas para cinco minutos depois descobrir que ela foi inventada por um garoto no twitter ou a pessoa que diz genericamente que é contra todas as PECS porque entendeu que elas são tipo os atos institucionais – “PEC 42 deve ser tipo um AI5, só que, sei lá, quase dez vezes pior, né, cara?”.

Mas claro, essa é a minha opinião, e você tem todo o direito de não ter opinião nenhuma sobre ela (ou mesmo não ter nada a ver com isso)

(texto publicado originalmente na revista em minas)


http://justwrapped.me/2013/09/12/sobre-a-obrigacao-de-dar-alguma-opiniao/#more-3305

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