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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A VERDADE E A BELEZA JUNTAS

TONY BENNETT E BILL EVANS – 


por  em 13 de ago de 2013 
Há quase 4 décadas, um dos maiores cantores do mundo e o pianista mais sofisticado do jazz se encontraram para gravar álbuns que pouca gente ouviu


EvansBennett.jpg
É começo de 1980 e Tony Bennett está em uma cidade minúscula perto de Austin, no Texas, aonde irá se apresentar. O telefone toca e do outro lado está o pianista Bill Evans. “Eu fiquei surpreso com o fato dele conseguir me encontrar por lá” – conta Tony – “e disse ‘Bill, por que você ligou?’ Ele me respondeu em uma voz que parecia desesperada e cheia de desencanto: ‘Eu queria te dizer uma coisa: Só pense na verdade e na beleza. Esqueça todo o resto. Concentre-se apenas na verdade e na beleza. Isso é tudo’”.
Foi a última vez que eles se falaram e pouco tempo depois, em 15 de Setembro de 1980, Bill estava morto, aos 51 anos de idade.
Eles tinham se encontrado pela primeira vez em 1962, nos bastidores de uma festa em torno do jazz oferecida pelo Presidente Kennedy.
Quase uma década depois, Bennett estava perdido.
Era um tempo de ocaso das grandes vozes.
Em 1970, ele foi obrigado por sua gravadora a tentar um material mais comercial, em um esforço desesperado para elevar suas precaríssimas vendas.
Tony topou, mas reagia tão visceralmente às canções que empurravam para ele que vomitava depois de sair do estúdio.
Decidido a escolher seu caminho artístico, fundou seu próprio selo, o Improv Records - e foi com a independência de dono que resolveu gravar acompanhado apenas pelo pianista.

Houve dois encontros: The Tony Bennett/Bill Evans Album (1975 - lançado em um acordo quid pro quo com o selo de Evans, Fantasy) e Together Again (1976).

Tony Bennett & Bill Evans Together Again.jpg
Nenhuma preparação antecipou a entrada no estúdio. Bill e Tony escolhiam as canções e iam gravando na medida em que surgiam naturalmente.


Quase que para se vingar do que lhe tinha sido imposto anteriormente, Bennett escolheu canções pouco conhecidas, fugiu dos standards, selecionou coisas que quase ninguém conhecia além dos dois artistas.

Mas os ventos não estavam a favor da grande música.
Comercialmente, os álbuns nunca aconteceram.
Aliás, Evans era - e permanece até hoje - o pianista mais sofisticado do universo do jazz - e nada afasta mais rapidamente o grande público do que qualquer insinuação de sofisticação (o que enobrece ainda mais a iniciativa de Bennett, nesta empreitada acumulando as funções de intérprete e de empresário dono de gravadora).

A empresa do cantor – sem acordo com nenhum grande selo, sem equipe de vendas e de marketing - não conseguia distribuir seus LPs e faliu.
Se no plano econômico a situação era ruim, no plano pessoal não era nem um pouco melhor.
Evans e Bennett estavam perdendo suas guerras para as drogas.
Evans por vezes tocava o piano com apenas uma mão – a outra paralisada por incessantes injeções de heroína.
Pouco antes do último telefonema do pianista, Bennett – sem gravadora, sem empresário, com poucos shows agendados e perseguido pelo Imposto de Renda – quase morreu de uma overdose de cocaína em 1979.
Foi quando ele chamou seus filhos Danny e Dae para o socorrerem.
Funcionou.
Com a visão mercadológica da família, Bennett voltou a gravar as músicas que queria para um grande selo. Sinatra, por sua vez, estava de volta ao hit parade, puxando os demais vocalistas. “New York, New York” estava estourando na voz de Frank - por sinal, o homem que havia dito que Tony era o melhor cantor em atividade.
Os grandes intérpretes estavam gradualmente reencontrando seu público.
Tony conseguiu até a medalha de honra da notoriedade: aparecer no desenho animado “Os Simpsons”.
Depois disso, veio seu namoro com a geração MTV e a era dos grandes tributos – CDs dedicados a Sinatra, Billie Holiday e Fred Astaire. Elvis Costello e k d Lang dividiram os microfones com ele – antecipando os duetos de seus lançamentos mais recentes.
Em face de tudo o que veio depois, os encontros do cantor e do pianista permanecem como a lembrança de um período negro para os dois artistas.
Ninguém estava ouvindo na época e eles, corajosamente, decidiram fazer música um para o outro.
Mesmo os críticos não se encantaram com o material. Argumentam até hoje que a potência vocal de Bennett não se harmoniza com a delicadeza de Evans. Mas o fato é que as sessões passaram pelo crivo mais rigoroso que pode existir: os ouvidos dos dois participantes.
E, digam o que disserem, estes álbuns são cápsulas de – como diria Evans - verdade e beleza.
E a verdade e a beleza resistem ao tempo e à indiferença.
http://lounge.obviousmag.org/renzo_mora/2013/08/tony-bennett-e-bill-evans-a-verdade-e-a-beleza-juntas.html

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