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domingo, 10 de novembro de 2013

O pezinho que flutua na hora do gozo


10/11/13 - 


Ou Amor é cinema.

Reparo no pezinho dela suspenso no ar e projetado na parede do quarto. Mesmo com os sussurros, a imagem do pezinho na parede é cena de filme mudo. Em preto & branco. Aquele pezinho esquerdo suspenso mexe como quem flutua embriagadamente para o gozo.
Comoção, epifania, arrebatamento, poesia barata, esteticismo de quinta, podolatria platônica do pé que deveras possui na cama… Chame como quiser o que senti e aqui trago do instante.
O certo é que o pezinho flutua e me diz mais dela naquele momento do que as próprias palavras, onomatopeias dodecafônicas e gemidos bêbados.
É quase sempre bonita a dança dos pés na hora do acasalamento. Parece que os pés ganham vida própria e particularizam por lá um outro gozo ou um gozo a mais.
Quando as almas não se entendem, acrescento enxeridamente aos versos do Bandeira, são os pés que comunicam tal desfecho.
Aquele pezinho único refletido na parede, porém, valeu por dez anos de cinemateca.
Não trato de fetiche ou desejo daqueles que vivem a nadar no mosaico dos bares e recintos em busca de belos pés, categoria na qual fui, outrora, um militante contumaz.
Tampouco me refiro a uma perversão sexual ou o gesto de um devoto que se ajoelha para beijar os pés de uma dama.
Poderia até citar o grande livro do poeta idem Glauco Mattoso: “Manual do Podólatra Amador”. Também não é o caso. Poderia falar como o pé é protagonista no cinema de Tarantino (foto). Não convém no assunto.
É apenas um pezinho -somente o esquerdo consegue aparecer na parede no momento- que flutua e busca no espaço inventar um chão para nosso gozo.

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/

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