No seu quase meio século de vivência na Bahia Carybé documentou tipos humanos à maneira de um repórter, descrevendo com cores vibrantes, numa plástica leve e solta, os habitantes da cidade do Salvador. Foi um repórter das artes plásticas voltado para o homem em toda a sua expressão social: os seus cultos, as festas populares, situações de trabalho e lazer. O traço de Carybé fixou pescadores, prostitutas, lavadeiras, capoeristas, estivadores, mães e filhas de santo, personagens históricos, homens e mulheres do povo e orixás.
Carybé não foi um retratista, porém, algumas de suas obras, raras num contexto de centenas, nos revelam facetas da cidade que ora comemora 464 anos de sua fundação: a Bahia antiga, referência de cartão postal para os visitantes e orgulho dos soteropolitanos. Foi em 1941, quando o artista já tinha visitado a terrinha em duas ocasiões, que Carybé nos brindou com a sua primeira obra documental: um óleo sobre tela que denominou de “Rio Vermelho de Baixo” e revela os casarios do local e na perspectiva que se abre para o mar os morros da Fonte do Boi.
Em 1950 o artista fixa residência definitiva em Salvador e nesse ano nos brinda com dois trabalhos documentais. Um deles é “A Louca dos Cachorros”, pintura em guache que retrata o Largo do Cruzeiro de São Francisco no Pelourinho/Terreiro de Jesus com os seus sobrados em volta que Carybé representou com cores sombrias. O outro é um detalhe do magnífico painel da Panorámica de Salvador realizado com a têcnica de têmpera de ovo sobre parede. O traço do pintor argentino valorizou no contraste de cores o Elevador Lacerda, Igreja da Conceição e o Palácio dos Governadores; mas também detalhou na perspectiva o Mercado Modelo antigo, a cúpula da Igreja de São Bento e o prédio do Paço Municipal, dentre outros monumentos.
Duas décadas após, 1973, Carybé pinta a série das mulatas grandes, oléos sobre tela. Numa delas destaca a Catedral, na outra (a primeira ilustração e destaque deste post) o artista retratou os prédios da Praça Cayrú e se permitiu imaginar construções carcaterísticas do Pelourinho no local, à beira mar, onde um saveiro compõe as cenas dos pecados da noite que emergem no contexto de festa. Em 82 o artista retratou o Pelourinho, pintura documental mesmo, no quadro denominado “Maciel de Baixo”, tela pequena de 50 x 35cm, produzida em vinil. Com o detalhe que não escapa ao observador da escadaria na porta do brega.
Antes, em 1978, o artista criara uma de suas obras primas, com o concurso de várias técnicas e estilos, o magnífico painel encomendado pelo Baneb, hoje Bradesco, intitulado “Fundação da Cidade do Salvador”. Na foto deste post, apenas um detalhe do painel, emerge o documental das cidades alta e baixa, vistas do mar, num insigth criativo que ressalta as caravelas do tempo de Thomé de Souza, em meio aos saveiros e a alegria do baianos caracaterística nas suas festas populares no mar.
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