No Tempo Certo
Olha pro céu, meu amor
veja como ele está lindo...
É junho. Já sinto o cheiro de mugunzá. De pamonha. Canjica. Já os pés mais leves de quadrilhas lembradas e esperadas. Já cores e promessas de risos a mais. Um último réquiem para maio: começaste muito pior do que terminaste. Em algum momento me trouxeram de volta o riso. Trouxeram-me a espera e a inquietação. Não faz mal, melhor o tanto querer que me agita que a apatia e desesperança.
É junho e há tantas cores a mais. E vestidos. Bandeirinhas e balões. Há mais música, sanfonas choradeiras a me convidar o corpo. Há anseios por salas de reboco. Há inesperadas coreografias ou ensaiados passos. Há chuva, mas de bala. Há santos que casam e tantas simpatias. Acho lindo esse nome: simpatia. É lúdico e escorre da língua. Dá vontade de sorrir.
É junho e há um certo cansaço de fim de semestre, mas é morosidade de fim de tarde e rede na varanda chupando rolos de cana. É doce. O corpo se lembra de se saber carne. Gosto dos momentos finais do semestre, o assombro de alguns, a tranquila certeza de uns poucos, a agitação de muitos. Gosto de olhar acertos e equívocos e já saborear a expectativa do novo, do outro, do próximo.
É junho e há chegadas. Há amiga que cruza o oceano. Traz, nos olhos, no colo e no riso, um saber novo. Eu a espero com um querer bem que se faz abraço e histórias e silêncio, muito silêncio de simplesmente se olhar e saber que uma e outra se são em amor. Há amigas que vem do Sudeste. Ali, de um frio sem espelho aqui. Vêm em encanto, em conversa, em aprendizado. Vêm em entrega. Em revelações. São bárbaras. Desbravam meus caminhos e me dão a conhecer. Eu as espero com varandas, livros e cervejas. Eu as espero com solar afeto. Com risos e danças e juninas belezas.
É junho e as meninas só pensam em namorar. E usam saia que termina muito cedo porque facilita. É junho e eu não preciso chorar porque a sanfoninha chora chora a minha dor. É junho de terreiro iluminado, de fogueiras saltadas, tempo em que eu me amoreno em cheiro de fulô. Junho de cabo a rabo tempo de sentir o sertão latejando no pulso.
É junho, não mais maio, não ainda julho. É junho. Junho. Junho em amarelos. Em sol. Calor de praia. Convite. É junho para os sentidos. Para ver o que há pra se desejar. Cobiça. É junho pra ouvir. Vezes e vezes a voz se fazendo música. Junho para tocar, a pele se fazendo seda. Para provar. Deixar-se ser sabor. Junho para oferecer. E torcer. Junho para despir a tristeza de maio, a angústia de maio, o vazio de maio. Nua de maios, estou pronta. É junho.
Por Luciana Nepomuceno
http://borboletasnosolhos.blogspot.pt/2011/06/no-tempo-certo.html
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