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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Lembrando André Setaro - Tuna Espinheira






Tuna Espinheira - Cineasta

tunaespinheira@terra.com.br

A Tarde/BA 14/07/2014




É preciso ter o corpo fechado para aguentar
os riscos diários do perigoso ofício de
crítico na área das linguagens artísticas,
em todas elas. Comentar analisando, dissecando,
apontando os prós e contras, sempre foi a
maneira mais ligeira de contrair inimizades.
Nestas areias movediças, o indômito André
Setaro escolheu o cinema como matéria de
pesquisa principal dos seus variados estudos.
Daí até o difícil texto analisando filmes foi um
pulo. Na Tribuna da Bahia, na época, um novo
jornal que se implantou na Bahia trazendo
inovações, uma espécie de revolução na imprensa
local, conseguiu o posto de crítico da
sétima arte, como cronista diário. Por décadas
cumpriu esta missão. Sem perder de vistas que
ele foi aluno de Dr. Walter da Silveira, na universidade,
além de habitué constante das matinês
sagradas, todos os sábados, do Clube de
Cinema da Bahia. Quando a província pôde
conhecer o de melhor da cinematografia internacional,
com introdução analítica do mestre
Silveira antes das projeções.

Mas os desígnios do destino tiraram de cena,
ainda novo, o desbravador dos caminhos para
o cinema baiano, passando o bastão para Guido
Araújo, coma sua luminosa Jornada de Cinema
da Bahia, que virou nordestina, nacional e, por
último, Jornada Internacional de Cinema da
Bahia. Por 40 anos, foi o oásis das produções
do cinema cultural neste país inzoneiro. Cabendo
ao André, através da crítica de qualidade
e trabalhando com os alunos na universidade,
enfatizando o assunto vital, a linguagem cinematográfica...
Eles cobriram o hiato deixado
por Dr. Walter. E o cinema baiano pôde dar a
volta por cima, sacudir a poeira...

Na década de oitenta, André aceitou um
convite meu para o papel de um dono de
funerária. Ele, digo, o personagem bebia conhaque
comgotas de formol. Setaro vestiu com
perfeição o dono da funerária, média-metragem,
com enredo de fatos extraídos do realismo
mágico do próprio Anísio, o poeta citado.
Certa feita, André levou uma noiva para assistir
a Cidadão Kane, que ele já havia visto vezes sem
conta, na saída notou que ela estava em sono
profundo, largou-a lá... e era uma vez o noivado...
Paixão pelo cinema é isto aí! Ou não?!
Evoé, amigo André Setaro!

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