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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ariano Suassuna, o "decifrador de brasilidades"





Noturno

Ariano Suassuna


Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.

Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?

Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.

Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?

Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...

Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.

Ó meu amor, por que te ligo à Morte?




Ariano Vilar Suassuna nasceu em João Pessoa em 1927. A força do arcaico é justamente sua contínua presentificação e, conseqüentemente, sua capacidade de se eternizar. A arte genuinamente popular se baseia nesse pensamento. Para transformar o local em simbólico e universal, Ariano Suassuna, o "decifrador de brasilidades", como já foi chamado, e um dos principais preservadores da cultura do país, alia os valores mais arraigados de sua região a seu imenso arcabouço erudito e teórico. Com uma escrita que junta, a um só tempo, elementos do Simbolismo, do Barroco e da literatura de cordel, esse ficcionista, poeta, dramaturgo e pensador da cultura, transforma o sertão no palco das questões humanas de qualquer lugar do mundo. Ele foi o criador do Movimento Armorial, que tem como projeto a confluência simultânea de todas as artes populares do Nordeste brasileiro, trabalhando a favor da dignidade humana. ‘Romance d’A Pedra do Reino’ é considerado um dos melhores do país, e a peça ‘O Auto da Compadecida’, além de encenada diversas vezes por todo o mundo, já recebeu três adaptações cinematográficas.

Fonte: http://pt.shvoong.com/books/biography/1659153-ariano-suassuna-vida-obra/#ixzz38VNpYqWx



Ariano Suassuna recebia inúmeros convites para realizar "aulas-espetáculos" em várias partes do País onde, com seu estilo próprio e seus "causos" imaginativos, deixava o público encantado.



Ariano Suassuna faleceu aos 87 anos, no Recife, decorrente das complicações de um AVC hemorrágico.


Obras de Ariano Suassuna

Uma Mulher Vestida de Sol, 1947

Cantam as Harpas de Sião (ou o Despertar da Princesa), 1948

Os Homens de Barro, 1949

Auto de João da Cruz, 1950 (Prêmio Martins Pena)

Torturas de um Coração, 1951

O Arco Desolado, 1952

O Castigo da Soberana, 1953

O Rico Avarento, 1954

Ode, 1955 (poesia)

O Auto da Compadecida, 1955

O Casamento Suspeito, 1956

Fernando e Isaura, 1956

O Santo e a Porca, 1958

O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, 1958

A Pena e a Lei, 1959

A Farsa da Boa Preguiça, 1960

A Caseira e a Catarina, 1962

O Pasto Incendiado, 1970 (poesia)

Romance d'a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta, 1971 (partes da trilogia)

Iniciação à Estética, 1975

A Onça Castanha e a Ilha Brasil, 1976 (Tese de Livre Docência)

História d'o Rei Degolado nas Caatigas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana, 1976 (parte da trilogia)

Sonetos Com Mote Alheio, 1980 (poesia)

Poemas, 1990 (Antologia)

Almanaque Armorial, 2008

http://www.e-biografias.net/ariano_suassuna/





 “Meu nome é Ariano Suassuna...”

LEMBRA DE MIM?

Há alguns anos, no saguão de um hotel de Minas, eu estava com Adauto Novaes, quando se aproximou a figura bela, vestindo a habitual roupa clara de algodão, e falando com a voz que passa a morar no ouvido de quem a ouve: “Meu nome é Ariano Suassuna...”, apresentou-se ele, que não precisava absolutamente de apresentações e comentando música; não é hora de lembrar o que disse mas sim quem disse. Respondi, respondemos que sabíamos, sim, que de Suassuna se tratava. Foi um diálogo que emocionou por tratar-se dele, é tão bom a decência ter voz e vestir-se de algodão claro!
Ariano foi-se embora do mundo ontem. A memória volta a esse dia em que o conheci, e me lembro das dezenas de gentes que perguntam: “Lembra de mim?”, na rua, em bastidores, em aeroportos, causando aflição a perguntador e a perguntado e estimulando mentiras medrosas, “lembro”, quando em absoluto nos fogem o rosto e o jeito de uma pessoa vista brevemente em alguma cidade e acontecimento há tempo perdidos, incrustados num ego que precisa do arquivo da memória de alguém.

Entre tanta sabedoria feliz que Ariano espalhou no Brasil, ele, a quem honrava nunca ter saído do País, conte mais essa. Justamente a ele, que nunca precisou de um LEMBRA DE MIM?, a modéstia levava a apresentar-se, a despeito de sua forte singularidade.

Em tempo: Ariano e meu pai, os dois, vestiam-se de maneira semelhante: túnica e calça de algodão e estamos conversados.
Beijos, Ariano.

Tom Zé
 — with Deane de Jesus and Tereza Simões.

Photo: LEMBRA DE MIM?

Há alguns anos, no saguão de um hotel de Minas, eu estava com Adauto Novaes, quando se aproximou a figura bela, vestindo a habitual roupa clara de algodão, e falando com a voz que passa a morar no ouvido de quem a ouve: “Meu nome é Ariano Suassuna...”, apresentou-se ele, que não precisava absolutamente de apresentações e comentando música; não é hora de lembrar o que disse mas sim quem disse. Respondi, respondemos que sabíamos, sim, que de Suassuna se tratava. Foi um diálogo que emocionou por tratar-se dele, é tão bom a decência ter voz e vestir-se de algodão claro! 
Ariano foi-se embora do mundo ontem. A memória volta a esse dia em que o conheci, e me lembro das dezenas de gentes que perguntam: “Lembra de mim?”, na rua, em bastidores, em aeroportos, causando aflição a perguntador e a perguntado e estimulando mentiras medrosas, “lembro”, quando em absoluto nos fogem o rosto e o jeito de uma pessoa vista brevemente em alguma cidade e acontecimento há tempo perdidos, incrustados num ego que precisa do arquivo da memória de alguém.

Entre tanta sabedoria feliz que Ariano espalhou no Brasil, ele, a quem honrava nunca ter saído do País, conte mais essa. Justamente a ele, que nunca precisou de um LEMBRA DE MIM?, a modéstia levava a apresentar-se, a despeito de sua forte singularidade.

Em tempo: Ariano e meu pai, os dois, vestiam-se de maneira semelhante: túnica e calça de algodão e estamos conversados. 
Beijos, Ariano.

Tom Zé

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