Muere el escritor uruguayo Eduardo Galeano a los 74 años
http://cultura.elpais.com/cultura/2015/04/13/actualidad/1428928171_482353.html
Eduardo Galeano
“Dia a dia nega-se às crianças o direito de ser criança. Os fatos, que zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem, desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.”
Eduardo Galeano
O diagnóstico e a terapêutica
O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um
reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos,
despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos
febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O
amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por
descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode
impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de
alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e
ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção
capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis
beberagens com garantia e tudo.
reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos,
despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos
febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O
amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por
descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode
impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de
alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e
ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção
capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis
beberagens com garantia e tudo.
(do Livro dos Abraços, Eduardo Galeano)
Karina
Eduardo Galeano
De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse.
(Eduardo Galeano)
Karina
Dia da Mulher
A todas as leitoras do blog desejamos que continuem suavizando o mundo com doçura e tolerância.
Abaixo trechos do escritor Eduardo Galeano, que no livro “Mulheres” traz seu olhar sobre a alma feminina.
Janela sobre uma mulher/1
Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero.
/
Janela sobre uma mulher/2
A outra chave não gira na porta da rua.
A outra voz, cômica, desafinada, não canta no chuveiro.
No chão do banheiro não há marcas de outros pés molhados.
Nenhum cheiro quente vem da cozinha.
Uma maçã meio comida, marcada por outros dentes, começa a apodrecer em cima da mesa.
Um cigarro meio fumado, lagarta de cinza morta, tinge a beira do cinzeiro.
Uma água suja chove dentro de mim.
/
Janela sobre uma mulher/3
Ninguém conseguirá matar aquele tempo, ninguém vai conseguir jamais: nem nós. Digo: enquanto você existir, onde quer que esteja, ou enquanto eu existir.
Diz o almanaque que aquele tempo, aquele pequeno tempo, já não existe; mas nesta noite meu corpo nu está transpirando você.
Karina
Para inventar o mundo cada dia
Conversamos, comemos, fumamos, caminhamos, trabalhamos juntos, maneiras de fazer o amor sem entrar-se, e os corpos vão se chamando enquanto viaja o dia rumo à noite.
Escutamos a passagem do último trem. Badaladas no sino da igreja.. É meia-noite.
Nosso trenzinho próprio desliza e voa, anda que te anda pelos ares e pelos mundos, e depois vem a manhã e o aroma anuncia o café saboroso, fumegante, recém-feito. De sua cara sai uma luz limpa e seu corpo cheira a molhadezas.
Começa o dia.
Contamos as horas que nos separam da noite que vem. Então, faremos o amor, o tristecídio.
(Eduardo Galeano in Mulheres)
Karina
O Mundo
O mundo
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
Eduardo Galeano
Karina
A Cultura do Terror
“O Livro dos Abraços”, de Eduardo Galeano, é fonte de inesgotável aprendizado. Abaixo, segue mais um trecho muito interessante para reflexão do leitor.
A cultura do terror
A extorsão, o insulto, a ameaça
o cascudo,
a bofetada,
a surra,
o açoite,
o quarto escuro,
a ducha gelada,
o jejum obrigatório,
a comida obrigatória,
a proibição de sair,
a proibição de se dizer o que se pensa,
a proibição de fazer o que se sente,
e a humilhação pública
são alguns dos métodos de penitência e tortura tradicionais na vida da família. Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo.
— Os direitos humanos deveriam começar em casa — comenta comigo, no Chile, Andrés Domínguez.
A extorsão, o insulto, a ameaça
o cascudo,
a bofetada,
a surra,
o açoite,
o quarto escuro,
a ducha gelada,
o jejum obrigatório,
a comida obrigatória,
a proibição de sair,
a proibição de se dizer o que se pensa,
a proibição de fazer o que se sente,
e a humilhação pública
são alguns dos métodos de penitência e tortura tradicionais na vida da família. Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo.
— Os direitos humanos deveriam começar em casa — comenta comigo, no Chile, Andrés Domínguez.
Telma
Celebração da amizade
Em post anterior, já fizemos referência e deferência ao grande escritor uruguaio Eduardo Galeano. Abaixo, trazemos uma espetacular crônica sua, extraída da maravilhosa obra “O Livro dos Abraços”. Apreciem.
Celebração da amizade
Juan Gelman me contou que uma senhora brigou a guarda-chuvadas, numa avenida de Paris, contra uma brigada inteira de funcionários municipais. Os funcionários estavam caçando pombos quando ela emergiu de um incrível Ford bigode, um carro de museu, daqueles que funcionavam à manivela; e brandindo seu guarda-chuva, lançou-se ao ataque. Agitando os braços abriu caminho, e seu guarda-chuva justiceiro arrebentou as redes onde os pombos tinham sido aprisionados. Então, enquanto os pombos fugiam em alvoroço branco, a senhora avançou a guarda-chuvadas contra os funcionários.
Os funcionários só atinaram em se proteger, como puderam, com os braços, e balbuciavam protestos que ela não ouvia: mais respeito, minha senhora, faça-me o favor, estamos trabalhando, são ordens superiores, senhora, por que não vai bater no prefeito?, Senhora, que bicho picou a senhora?, esta mulher endoidou…
Quando a indignada senhora cansou o braço, e apoiou-se numa parede para tomar fôlego, os funcionários exigiram uma explicação. Depois de um longo silêncio, ela disse:
— Meu filho morreu.
Os funcionários disseram que lamentavam muito, mas que eles não tinham culpa. Também disseram que naquela manhã tinham muito o que fazer, a senhora compreende…
— Meu filho morreu — repetiu ela.
E os funcionários: sim, claro, mas que eles estavam ganhando a vida, que existem milhões de pombos soltos por Paris, que os pombos são a ruína desta cidade…
— Cretinos — fulminou a senhora.
E longe dos funcionários, longe de tudo, disse:
— Meu filho morreu e se transformou em pombo.
Os funcionários calaram e ficaram pensando um tempão. Finalmente, apontando os pombos que andavam pelos céus e telhados e calçadas, propuseram:
— Senhora: por que não leva seu filho embora e deixa a gente trabalhar?
Ela ajeitou o chapéu preto:
— Ah!, não! De jeito nenhum!
Olhou através dos funcionários, como se fossem de vidro, e disse muito serena:
— Eu não sei qual dos pombos é meu filho. E se soubesse, também não ia levá-lo embora. Que direito tenho eu de separá-lo de seus amigos?
Telma
Excertos de Eduardo Galeano
Eduardo Hugues Galeano, jornalista e escritor, nasceu em 1940, em Montevidéu e é mundialmente reconhecido por suas obras jornalísticas e literárias .
Dentre seus mais consagrados livros estão: De pernas pro ar, Dias e noites de amor e de guerra, Futebol ao sol e à sombra, O livro dos abraços, Memória do fogo, Mulheres, As palavras andantes, Vagamundo e As veias abertas da América Latina.
A seguir, colacionamos dois excertos que demonstram cabalmente a grandiosidade e versatilidade do referido escritor uruguaio, que domina o mundo das palavras e discorre à vontade sobre o tema que for.
Janela Sobre Uma Mulher (em As Palavras Andantes)
“Essa mulher é uma casa secreta. Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça. Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia.
Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero.”
A dignidade da arte (em O Livro dos Abraços)
“Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.”
Telma
https://literaturaemcontagotas.wordpress.com/tag/eduardo-galeano/
Suas palavras e pensamentos direcionam minha vida….
Aqui um pequeno exemplo:
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano
Não morrerá, nunca!!!!
A queda de tantas flores belas pode sinalizar um final de primavera na América Latina.
ResponderExcluirPor outro lado, o crescimento de tanto espinheiro pode indicar a chegada de tempos difíceis.
Vou-me embora pro sertão!!
Marco
Se avexe não, menino, a vida é assim mesmo, muda e segue... Já vivi tempos piores, com a idade a gente vai se convencendo que tudo que te toca depende de ti.
ResponderExcluirPena que não tenham mais aparecido flores tão belas.........
Hoje, o velho Mujica disse, entre outras coisas, "tráfico de influência é 'doença' no Brasil". "Algo doentio acontece na política brasileira"........ Desde sempre....
http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/algo-doentio-acontece-na-politica-brasileira-diz-mujica,ff11eaf925901bfdd5e8fd4f96f02a92eau1RCRD.html
Eu tinha lido, minha cara.
ResponderExcluirAliás, adoro esse uruguaio retado!
Não veremos outro Mujica nos próximos cem anos...
Bjo grande!