Depois de meses na Europa, vir para a América é como estar um pouco em casa. Mesmo que seja na América do Norte.
Esse foi o assunto do meu jantar na terça-feira, em Nova York. Viemos aqui para uma semana de trabalho. Meu colega britânico não acreditou que, sendo brasileiro, eu podia me sentir à vontade nos EUA. Expliquei que a euforia americana se parece mais com o Brasil. O tom inglês é mais delicado e ameno.
Contei que ao perguntar “como vai?” todas as manhãs, ainda fico surpreso com a invariável resposta inglesa. Depois de ponderar sobre a pergunta, ainda hesitante — como se averiguasse a exatidão do que está prestes a concluir —, o inglês diz: “Não estou mal. Nem tão mal, na verdade”. É um contraste com a típica resposta americana: “Faaaaantástico!” O amigo britânico confessou: “Acho que, em toda minha vida, ainda espero pelo ‘fantástico’”.
Disse a ele que a Grande Guerra já acabou, que a Inglaterra venceu, que não existem mais racionamentos de comida, nem a população precisa dormir nos trilhos de metrô como em 1943. Pode comemorar. Celebre seus trens pontuais, as ruas limpas, a escola pública exemplar. Festeje o fato das vitrines quebradas serem exceção e não regra. Mesmo assim, os britânicos choram em berço esplêndido. A América, não. Existe no continente inteiro o entusiasmo do Novo Mundo. Com certo exagero, é verdade.
Saímos do restaurante ainda debatendo o assunto. Mostrei os tipos hispânicos nas calçadas, os sacos de lixo amontoados na esquina, os prédios gigantescos, as buzinas, a pressa nas pessoas. O Brasil é isso. Essa avenida podia ser São Paulo. Ele se surpreendia, e achava tudo estranho.
Até que, na esquina do Hotel, em plena Park Avenue, estanquei no meio de uma frase. Voltei três passos até a banca de frutas de um colombiano. Entre lichias e maçãs identifiquei o impossível. Mas lá estavam elas. Pitombas. Perguntei ao vendedor como se chamavam. Ele me disse o nome em inglês e espanhol. Conversamos um pouco. Pedi para provar. Mordi a frutinha ali mesmo, no meio da rua. Meu amigo inglês apenas ria.
Continuamos a caminhada em silêncio, a pitomba passeando em minha boca. Não precisei de mais nenhum argumento.
Esse foi o assunto do meu jantar na terça-feira, em Nova York. Viemos aqui para uma semana de trabalho. Meu colega britânico não acreditou que, sendo brasileiro, eu podia me sentir à vontade nos EUA. Expliquei que a euforia americana se parece mais com o Brasil. O tom inglês é mais delicado e ameno.
Contei que ao perguntar “como vai?” todas as manhãs, ainda fico surpreso com a invariável resposta inglesa. Depois de ponderar sobre a pergunta, ainda hesitante — como se averiguasse a exatidão do que está prestes a concluir —, o inglês diz: “Não estou mal. Nem tão mal, na verdade”. É um contraste com a típica resposta americana: “Faaaaantástico!” O amigo britânico confessou: “Acho que, em toda minha vida, ainda espero pelo ‘fantástico’”.
Disse a ele que a Grande Guerra já acabou, que a Inglaterra venceu, que não existem mais racionamentos de comida, nem a população precisa dormir nos trilhos de metrô como em 1943. Pode comemorar. Celebre seus trens pontuais, as ruas limpas, a escola pública exemplar. Festeje o fato das vitrines quebradas serem exceção e não regra. Mesmo assim, os britânicos choram em berço esplêndido. A América, não. Existe no continente inteiro o entusiasmo do Novo Mundo. Com certo exagero, é verdade.
Saímos do restaurante ainda debatendo o assunto. Mostrei os tipos hispânicos nas calçadas, os sacos de lixo amontoados na esquina, os prédios gigantescos, as buzinas, a pressa nas pessoas. O Brasil é isso. Essa avenida podia ser São Paulo. Ele se surpreendia, e achava tudo estranho.
Até que, na esquina do Hotel, em plena Park Avenue, estanquei no meio de uma frase. Voltei três passos até a banca de frutas de um colombiano. Entre lichias e maçãs identifiquei o impossível. Mas lá estavam elas. Pitombas. Perguntei ao vendedor como se chamavam. Ele me disse o nome em inglês e espanhol. Conversamos um pouco. Pedi para provar. Mordi a frutinha ali mesmo, no meio da rua. Meu amigo inglês apenas ria.
Continuamos a caminhada em silêncio, a pitomba passeando em minha boca. Não precisei de mais nenhum argumento.
Publicado no guia Divirta-se, em O Estado de S. Paulo em agosto de 2011
http://andrelaurentino.blogspot.com/
http://andrelaurentino.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário