O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx como crítica ao capitalismo (crítica da economia política). Muitos consideram essa obra o marco do pensamento socialista marxista. Nesta obra existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia, capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; sobre a acumulação primitiva, resumindo, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo uma crítica exemplar sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos.
Livro 1 - o processo de produção do capital 1867
Único dos Livros lançado em vida por Marx e que por isso se beneficiou de refinamento de estilo, melhorias entre edições, acréscimos de posfácios do próprio autor e lançamentos das versões Alemã, Inglesa, Russa e Francesa (levemente distintas, apesar da 4° edição Alemã 1893 ser considerada a versão definitiva devido às correções de Engels e Eleanor Marx e por isso comumente usadas para a tradução para outras línguas).
Livro 2 - o processo de circulação do capital 1885
Publicado após a morte de Marx, ficando a edição a cargo de Engels. A diferença no estilo dos Livros 2° e 3° em relação ao 1° fazem com que alguns aleguem sua escrita a Engels, . Embora os Livros 2 e 3 tenham sido dedicados à esposa de Marx, Jenny, cogitou-se dedica-los a Darwin. Engels, no túmulo de Marx, disse Darwin mostrou a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, e Marx a da natureza humana.Livro 3 - o processo global da produção capitalista 1894
Com a publicação desse 3° Volume Engels termina a tarefa de tornar pública a teoria econômica de Marx ao conjunto do sistema capitalista. Em algumas partes ele relata que teve de preencher as lacunas como um co-autor, mas que identificou os tais acréscimos para que não houvesse dúvidas quanto a o que Marx queria dizer. Porém críticos[quem?] disseram haver problemas e lacunas, o que ainda hoje é tema de debates e uma das maiores lamentações quanto ao fato de o autor ter morrido antes da conclusão de sua obra máxima.O problema mais comummente apontado é "o problema da transformação" (ver explicação resumida na ligação externa que leva ao texto de Callinicos).
Rosa Luxemburgo foi uma das autoras que admiraram o Livro 3; ela tentou preencher algumas das lacunas de O capital no seu livro "Acumulação do Capital"
Livro 4 - Teorias da mais valia 1905
Karl Kautsky, após a morte de Engels, e já no século XX, publica o 4° Livro, que são os comentários de Marx a outros autores de Economia Política. O Livro 4 é o menos conhecido justamente por ter sido publicado após a explanação da teoria econômica marxista por Marx e Engels. Acrescente a isso o agravante de Kautsky ter optado por publicar invertendo o título e subtítulo: "Teorias da Mais-Valia - A história crítica do pensamento econômico (Livro 4 de O capital)". Por causa disso, mesmo na coleção de traduções de Sant'Anna recebeu numeração do volume em separado (os Livros 1 a 3 são divididos em volumes numerados de I a VI, e Teorias da Mais-Valia começam do Volume I ao III, quando poderiam ter sido numerados como os volumes VII, VIII e IX de O Capital).Esse material é de leitura interessante por incluir considerações sobre outras teorias do valor e de fontes que podem ter sido inspiração para as críticas dos antagonismos de classe (desde os que negavam o antagonismo, os que reconheciam mas negavam exploração de classe, os que ficavam ao lado dos oprimidos, e até mesmo os que defendiam a opressão sem dissimular), entre outras considerações não abordadas nos demais livros (como a questão do trabalho produtivo e improdutivo).
Conteúdo Livro 1
A compra e venda da força de trabalho: origem da mais-valia
Após analisar a mercadoria, era necessário entender a compra e venda da força de trabalho encarada como mercadoria. Por "força de trabalho" e não simplesmente "trabalho" foi possível resolver as contradições nas fórmulas de Adam Smith e David Ricardo.Entesourador x capitalista
O capitalista, diferente do entesourador, não pode converter todo seu ganho para luxo pessoal, ele tem de investir na sua fonte de riqueza, que é a indústria. Enquanto o entesourador prefere guardar, o capitalista prefere investir. O capitalista se torna personificação da sede de riqueza. E no conjunto da sociedade, enquanto nos modos de produção anteriores era mais fácil conseguir a saciedade, até por haver um limite das riquezas existentes, no sistema capitalista essa sociedade não existe e se quer cada vez mais expandir as indústrias. Se nos modos de produção anteriores chega-se a sociedade se hipoteticamente um sultão consegue dominar e comprar todas as coisas, no capitalismo a sociedade por expansão não chega nem com o monopólio.Teoria da Abstinência
Segundo essa teoria de Sénior, o capitalista praticava a abstinência pelo bem da empresa. e portanto era mais virtuoso que os empregados.E assim acumulava seu capital.Acumulação primitiva
Fatores históricos atípicos do capitalismo que favoreceram os capitalistas e ajudaram no estabelecimento do capitalismo.Conteúdo Livro 4
Reposição de máquinas (Capital constante)
No Livro 4 existe a seção 10 dentro do cap III: "Pesquisar como é possível ao lucro e salário anuais comprarem as mercadorias anuais que, além de lucro e salário, contém capital constante"."É claro que o problema da reprodução do capital constante se enquadra no estudo do processo de reprodução ou de circulação do capital, mas isso não impede de se tratar aqui do que é essencial." (A circulação é assunto do Livro 2 e a reprodução, do Livro 3)
Embora muitos se contentem com a explicação da acumulação primitiva e da extrações de mais-valia (assuntos do Livro1) para a explicação da continuidade dos negócios do capitalista, ela se esbarra em problemas: a acumulação primitiva explica a compra da 1° máquina pelo capitalista mas não explica a reposição da maquinaria. Já a mais-valia explica a expansão dos negócios, a compra de mais máquinas ou máquina maior de modelo melhor, mas não a reposição da máquina já existente do mesmo modelo que eventualmente precise ser reposta. Se é preciso explorar o trabalhador para algo que inevitavelmente acontecerá, como a quebra da máquina velha, fica impossível de se alcançar o comunismo sem exploração.
"...de seu trabalho excedente -que forma o lucro- parte é fundo de consumo do capitalista, e parte se transforma em capital adicional. Mas não é com esse trabalho excedente ou com o lucro que o capitalista substitui o capital já gasto em sua própria produção. Se fosse assim, a mais-valia não seria fundo para formar novo capital e sim para manter o velho." (Livro 4, cap III seção10 - página 87 da tradução de Sant'Anna)
É um erro pensar que o $ para a máquina vem apenas da produção de mercadorias e do excedente chamado mais-valia: trabalho descontado o salário (assunto do Livro1), pois isso justificaria o capitalista (ou outro que comanda e extrai a mais-valia) e fomenta a Teoria da Abstinência, que diz que o capitalista repõe a máquina de seu próprio bolso (bolso aqui entendido como seu patrimônio do âmbito privado e individual, para seu consumo e da sua família, separado do caixa da empresa). Como o capitalista é dono do processo inteiro, tem-se uma ilusão de óptica de que ele tira do próprio bolso.
Então é necessário entender da onde vem o $$ que possibilita essa reposição. Como se calcula o valor da maquina? Ela se desgasta de tempos em tempos, usa combustível, etc. Então a gente vê o quanto ela conseguiu produzir em mercadorias, e dividimos por elas. Assim, o lote total da mercadoria contém: o salario, o lucro, o custo das matérias-primas e custo de máquina. Se ela quebrou após produzir mil latas de tomate, o valor da máquina vale essas mil latas (embora infelizmente não se saiba com precisão quando uma máquina quebrará, e no caso de máquinas novas, não se tem ainda nem uma média). O lote é dividido entre vários consumidores.
E quem são os consumidores? Os trabalhadores e capitalistas. O problema é que mesmo para um produto para todos, como uma lata de tomate, não se consegue vender o suficiente para cobrir os custos da maquina! Isso porque mesmo somando o salário e lucro, se compra uma parte do lote e não o lote inteiro.
Surge uma pista: a de que poderiam os outros trabalhadores e capitalistas produtores, de digamos latas de azeitona e de milho comprarem as latas de tomate. Ou seja, esferas de produção B e C comprarem de A. Mas Marx mostra que a pista é falsa: Pois então quem vai comprar de B e C? Talvez as pessoas de outras esferas como D, E ,F, G ... e ainda não se resolveu o problema, que aumenta cada vez mais, pois supondo que G compre de todos, alguém tem de pagar ao G, segundo cálculos de Marx, mercadorias caras com valor de 972 horas de trabalho. Os produtores de latas de azeitona e milho tiveram de gastar todo o $ para ajudarem a comprarem as latas de tomate e ficaram sem $ para comprar seus próprios produtos, dependendo de D, E, etc. E os de latas de tomate gastaram todo o $ no próprio produto.
OBS: Isso não é nada saudável. É melhor cada um comprar coisas diferentes, A comprar um pouco de B e C, B de A e C = quem faz lata de tomate comprar milho e azeitona e assim temos um comércio mais saudável. Pensando bem, não é necessário gastar todo o sala´rio+ lucro no próprio produto, pode-se gastar em outros: 1- Se todos gastarem em produtos variados, consome-se um pouco de cada, mas fica sobrando um enorme estoque de cada produto 2- Se resolverem comprar um produto só, fica sobrando o estoque de outros produtos, e o montante em valor estocado é mesma coisa. É o mesmo se depois do pessoal de A,B e C comprarem todo o estoque de A, se queixarem de enjoarem de A e irem ao armazém de B e C e trocarem (sem compra e venda) por latas de outros produtos.
O problema permanece igual, falta consumidores, ou $ para esses consumidores. Então ao invés de B e C, entramos no interior da produção de A, para chegar ao seu antecessor: quem vendeu as maquinas de fazer enlatados, ou então quem forneceu pregos, chapas para o funcionamento da fábrica de A (talvez pudéssemos denominar esses setores de -A, -B). Os trabalhadores e o dono da fabrica de máquina ganharam salário e lucro e podem gastar nas latas de tomate, e isso, (como vimos na OBS), é o mesmo que se gastarem nas latas de milho e azeitona. OK, mais consumidores, e comprando latas de tomate, eles ajudam a comprar mais do lote e paga-se mais um pedaço do custo da máquina. Só que acaba o $ também do pessoal da fabrica de maquinas, pois eles também tiveram de comprar a maquina de fazer maquina, ou pelo menos as peças como parafusos e chapas. Quem comprou da fabrica de maquinas? As pessoas de A, B e C: eles gastam $ para comprar a máquina e para trocarem de latas entre eles mesmos. Nessas trocas as pessoas da fabrica de maquinas também não precisam comprar sua própria produção e sim entrar no sistema de compra e venda diversificada (acrescentando a indústria de máquinas na OBS)
Permanece o problema de o total de pessoas de todas as indústrias não poderem comprar todas as mercadorias (agora incluindo as máquinas que são meios de produção), mas pelo menos diminuiu a proporção não-comprada. Porém daí em diante é fácil: acrescenta-se o salário+lucro dos produtores de pregos e produtores de chapas (anteriores à indústria de máquinas). e estes por sua vez não terão como pagar totalmente os produtores de alumínio e aço refinado. Acrescenta-se o salário desses, e não se tem para pagar o produtor de limalha de ferro e do extrator de bauxita e por aí vai. Marx admite: esse jeito de resolver o problema sempre vai deixar um resto, frações cada vez menores de horas que geraram salário e lucro, mas sempre um resto. Para pagar a maquinaria de esferas de produção maiores, busca-se horas trabalhadas de esferas menores que forneceram esses meios de produção (pois nessas esferas menores também acrescentaram trabalho à matéria-prima) e resta o valor de outra maquinaria/matéria-prima.
Chamando a maquinaria de capital constante (C) e o trabalho de capital variável (V), C de sicrano foi fabricado por beltrano, que veio da soma de S + V, ou seja, para se fabricar máquinas de sicrano foi preciso a máquina de beltrano somada ao trabalho contratado por beltrano. E C de beltrano, da soma de C+V fulano, e assim por diante.
C1+V1=C2; C2+V2=C3; C3+V3=C4... (C2 maior que C1, C3 maior que C2...)
Dizer que o $ para consumo veio de esferas de produção menores não quer dizer que aí o lucro do capitalista ou os salários sejam menores, se trata de menores em volume de $, e abrangendo esferas de produção e não uma fabrica ou outra. O número de fabricas de maquinas de enlatados será sempre menor que a de produtos em lata. Se empregam o mesmo número de gente (digamos que seja dificílimo produzir as maquinas) aí sim os salários e lucros são menores, ou se o capitalista tem o mesmo lucro (ou até maior), quer dizer que os metalúrgicos são mais explorados, mas não que em volume de $ a esfera dos fornecedores seja maior que a que compra essas maquinas/ferramentas. Talvez numa petrolífera por exemplo tanto os trabalhadores quanto seus donos ganhem bem, mas isso porque são poucas as petrolíferas perto do número de fabricas de plásticos e derivados e consequentemente seu volume de $ que forma o mercado consumidor também (pois não tem sentido haver mais petrolíferas que fabricas de seus derivados).
Marx admite: esse jeito de resolver o problema sempre vai deixar um resto, frações cada vez menores de horas que geraram salário e lucro, mas sempre um resto. Para pagar a maquinaria de esferas de produção maiores, busca-se horas trabalhadas de esferas menores que forneceram esses meios de produção (pois nessas esferas menores também acrescentaram trabalho à matéria-prima) e resta o valor de outra maquinaria/matéria-prima. Uma forma da conta não deixar resto é admitir que algo veio de graça, digamos de atividade ligada à natureza como extrativismo.
Mas reparem que tal procedimento mostra que a teoria do valor-trabalho não conseguiu dar conta de todo cálculo, pois uma pequena fração do valor veio da natureza, o que lembra um pouco a teoria do valor amparada pelos antecessores ao Smith, os Fisiocratas, que diziam que o valor vem da natureza.
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital
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