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domingo, 6 de novembro de 2011

amor e dor - Gonzaguinha e Luiz Gonzaga

Coração sanfoneiro

Breno Silveira vai filmar a história de amor e dor entre Gonzaguinha e seu pai, Luiz Gonzaga





RIO - De um lado, um ícone da cultura nordestina na música popular brasileira. Do outro, o filho adotivo que lutou por toda a vida para arrebatar sua admiração. No dia 13 de dezembro, aniversário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912-1989), Breno Silveira, diretor de "2 filhos de Francisco" (2005), que arrastou 5,3 milhões de espectadores para os cinemas, começa a rodar "Gonzaga de pai pra filho", levando às telas a história do sanfoneiro mais folclórico do país e de seu filho, o cantor e compositor Gonzaguinha (1945-1991). Uma história com direito a dores, alegrias, omissões e conciliação. Previsto para estrear no segundo semestre do ano que vem, de carona no centenário de nascimento de Gonzagão, o filme, orçado em cerca de R$ 10 milhões, nasceu de uma caixa de fitas cassete nas quais Gonzaguinha conversa com o pai.
- Fica claro naquelas gravações o quanto ele desconhecia aquele pai que morreu admirando o filho. Há trechos da conversa deles em que você chora. Trechos em que Gonzaguinha diz: "Tô chegando no sertão. Sertão que era do meu pai. Pai que eu não conheci direito." Já Gonzagão fala: "Mesmo que não tenha sangue meu nas suas veias, você é meu filho" - conta Breno.
As fitas foram entregues ao diretor por Marcia Braga, uma das produtoras, e por Maria Rachel, que colabora com o roteiro do filme.
- Depois que "2 filhos de Francisco" estourou, comecei a receber biografias de todo tipo. Todas eram bonitas. Mas aí me caíram nas mãos as fitas que o Gonzaguinha gravou - lembra Breno, que atualmente finaliza o drama "À beira do caminho", a ser lançado no primeiro semestre do ano que vem.
O gaúcho Julio Andrade caracterizado como Gonzaguinha. 'Ele era um cara introspectivo, movido pela música', diz
No papel de Gonzaguinha estará o gaúcho Julio Andrade, de 31 anos, protagonista de "Cão sem dono" (2007). Gonzagão será vivido por três atores diferentes, de acordo com as faixas de idade enfocadas no longa-metragem, que será rodado em 35mm, com fotografia de Adrian Teijido, de "O palhaço". Na maior parte do filme, que abrange a ascensão artística do músico, dos 30 aos 50 anos, o Rei do Baião será o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho, de 31 anos, um paulista de São Bernardo, conhecido como Chambinho do Acordeon (os outros nomes ainda não foram divulgados).
- Em 13 de dezembro, levo Chambinho para Recife, para registrar a multidão no show de aniversário de Gonzagão. Depois, retomo as filmagens de época em fevereiro, rodando em Exu, onde Gonzagão nasceu, nos arredores da Serra do Araripe e no Rio - diz o cineasta, que vai contar com Gilberto Gil para a trilha sonora do longa-metragem.
Chambinho do Acordeon, sanfoneiro que será Gonzagão na maior parte do filme: 'Cresci ouvindo essas músicas que ele consagrou', conta
Estreante na telona, Chambinho contracena com Nanda Costa, que interpreta a dançarina e cantora Odaléia Guedes dos Santos, mãe de Gonzaguinha.
- Meu berço é musical - diz Chambinho. - Desde o meu bisavô, a minha família tem tradição de sanfoneiros. Cresci ouvindo essas músicas que Luiz Gonzaga consagrou e levanto a bandeira dos forrozeiros tradicionais. Aos 7 anos ganhei meu primeiro instrumento: um pandeiro. Aos 11, ganhei a sanfona. E nunca mais larguei. Desde 2000, vivo dela, que agora vai me levar ao cinema.
No elenco, haverá ainda participações de José Dumont e Angelo Antonio, com quem Breno rodou "2 filhos de Francisco", e João Miguel, astro de "À beira do caminho".
- Testei alguns atores, mas não encontrava a essência do Gonzagão. Resolvi então trazer para o Rio cinco sanfoneiros que foram treinados para atuar. No sorriso do Chambinho e no jeito como ele bate o pé dançando baião, encontrei o espírito que eu queria. Um espírito chapliniano marca as histórias de Gonzagão, que, após a morte de Odaléia, por tuberculose, deixa o filho de 2 anos para ser criado pelos padrinhos, no Morro de São Carlos - diz Breno. - Gonzagão foi um fenômeno de venda de discos. E o filme mostra que ele fica na pior numa época em que a carreira do filho está explodindo.
Em preparação para viver Gonzaguinha, Julio está buscando elementos da relação do músico com seus pais de criação: o casal Dina e Henrique Xavier.
- O Gonzaguinha era um cara introspectivo, movido pela música, que falava sempre na terceira pessoa. Preciso recuperar a relação dele com o padrinho Xavier, que o ensinou a tocar violão - diz Julio.
Além das fitas, Breno calça a narrativa do filme no livro "Gonzaguinha e Gonzagão - Uma história brasileira", de Regina Echeverria. Ele entra na base do roteiro, escrito por Patrícia Andrade ("2 filhos de Francisco") em colaboração com Maria Rachel e George Moura ("Linha de passe") e sob a consultoria do dramaturgo Domingos Oliveira.
- O roteiro já chegou a ter 300 páginas de tanta história que me contaram. E olha que ainda falta gente para ouvir. Pesquisando, cheguei a encontrar uma gravação de "Pra não dizer que não falei de flores" feita por Gonzagão. Levei seis anos escrevendo esse filme porque aqui estamos tratando de um personagem mítico - diz Breno.
Segundo o diretor, se "2 filhos de Francisco" era a história de um sonho sob a ótica de um pai, seu filme sobre o clã Gonzaga é a saga de um mito vista pelo olhar de seu filho.
- Quando Gonzaguinha tinha uns 17 anos, teve uma briga com o pai, que se espantou ao ver um garoto barbado, de esquerda, fazendo música. Gonzagão quebrou o violão do filho e disse que só iria reconhecê-lo se ele tivesse anel de doutor. Sem pedir ajuda, Gonzaguinha se formou em Economia só para entregar um diploma ao pai e foi viver de música. Esse cara fez tudo para conquistar o amor do pai - diz o diretor, que fala de paternidade também no inédito "À beira do caminho".
Concebido enquanto o roteiro de "Gonzaga de pai pra filho" era escrito, "À beira do caminho" traz João Miguel como um caminhoneiro obrigado a cuidar de um menino enquanto exorciza nas estradas o fantasma da morte da mulher.

- Meu pai, arquiteto, sempre foi tarado por fotografia. Esse amor pela imagem me aproximou do cinema - diz o cineasta, que encara "Gonzaga de pai pra filho" como um épico sobre o amor paterno. - Por onde viajo preparando locações para filmar com Chambinho, ouço Gonzagão. Sua música uniu o país.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/11/05/breno-silveira-vai-filmar-historia-de-amor-dor-entre-gonzaguinha-seu-pai-luiz-gonzaga-925743666.asp#ixzz1cvYhVhat
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