NORMAN GRANZ: THE MAN WHO USED JAZZ FOR JUSTICE
João Marcos Coelho
João Marcos Coelho
Contar a história do jazz desfilando biografias dos músicos é como contar a história dos Estados Unidos falando só dos presidentes: pode ser o fundamental, mas não é tudo, disse certa vez o crítico John McDonough. Houve quem jamais tenha tocado uma nota sequer e assim mesmo foi decisivo, a ponto de ter sido comparado a Franz Schubert e suas mais de 600 canções, o rei do "lied" alemão nas primeiras décadas do século 19, por causa da amplitude e qualidade das milhares de gravações que capturam a essência do gênero, como comparou o crítico Gene Lees. Não se trata de nenhum presidente ou compositor, mas de um produtor de shows, dono de gravadora e empresário de artistas como Ella Fitzgerald, Oscar Peterson e Duke Ellington. Estamos falando de Norman Granz, nascido em 1918 em Los Angeles, e morto dez anos atrás, na Suíça, o homem que levou o jazz ao mundo inteiro, viabilizou-o comercialmente e ao mesmo tempo gerou obras-primas da única maneira possível para o gênero: com pioneiros registros ao vivo de performances de alta adrenalina e qualidade musical.
Lees detestava o homem, e mesmo assim idolatrava sua obra. Só por causa de Granz temos hoje tesouros de valor artístico incalculável. Alguns deles: as dez horas gravadas por Art Tatum, o maravilhoso gênio cego do piano-jazz dos anos 40; os 16 CDs de Ella Fitzgerald contendo os "songbooks" da era de ouro da música popular americana e do jazz; os dez CDs de Billie Holiday registrando performances emocionantes de seus últimos 14 anos de vida ; retratos musicais de corpo inteiro de gênios como Count Basie e Duke Ellington. Isso além das dezenas de discos de Oscar Peterson, Louis Armstrong, Benny Carter, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Lester Young, Coleman Hawkins, Joe Pass, Ben Webster, Roy Eldridge.
Até agora não havia nenhuma biografia dele. Simples. Granz - o sobrenome original era Granzinski, mas seu pai cortou o final por considerar que seria mais fácil adaptar-se ao novo país quando chegou aos EUA em 1906 - de fato era um sujeito de difícil trato para o mundo inteiro, com uma exceção: seus músicos, para os quais fazia o possível e o impossível. Todos os que tentaram se aproximar dele com projetos biográficos foram rechaçados. Granz temia que estivessem apenas em busca de fofocas. "Querem que eu conte coisas como o que Billie Holiday tomava no café da manhã." Tinha medo também que enfocassem apenas o seu formidável êxito financeiro e os cachês pagos a músicos mitológicos como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Count Basie, Duke Ellington, Ella Fitzgerald, entre tantos outros. Já com câncer, e poucos dias antes da morte, Granz colocou os documentos "top secret" em pastas de plástico e exigiu que fossem enterradas com ele. Levou literalmente seus segredos para o túmulo.
Por isso, a primeira biografia exaustiva só agora é publicada, dez anos após sua morte. Norman Granz: The Man Who Used Jazz for Justice já traz no título o motivo pelo qual Tad Hershorn teve acesso aos arquivos pessoais do biografado e privou de sua intimidade em seus anos finais de vida. Ele queria ser retratado como um campeão da luta contra a discriminação racial. Foi muito difícil e vagaroso o processo de aproximação. A ideia do livro nasceu em 1975, quando Tad, filho de mãe jornalista e pai fotojornalista, começou a fotografar os shows de Joe Pass, Ella Fitzgerald e Oscar Peterson, entre outros. Nos anos seguintes, suas fotos frequentaram as capas de discos dos "pablovianos", como os chamou certa vez o crítico Gary Giddins. Na década de 90, defendeu tese sobre Norman Granz na George Mason University e mandou-a para ele em cortesia. No dia seguinte, recebeu um telefonema alertando para alguns erros e chamando-o para conversar na Suíça. "Nos últimos cinco anos de sua vida, conversamos bastante", conta Tad.
Ele esmiúça com paciência de relojoeiro os três pilares sobre os quais Granz construiu sua reputação: apresentar jazz de qualidade; desafiar a segregação racial; e mostrar que era possível ganhar um bom dinheiro combinando as duas coisas. Sem querer, ou melhor, de tabela, ele mostra como o produtor furou o paredão erudito reinante nas salas de concerto. Quando levou pela primeira vez seu Jazz at the Philharmonic, que se tornou mundialmente conhecido pela abreviação JATP, o "Philharmonic" referia-se ao espaço, o Philharmonic Hall da Orquestra de Los Angeles. Lotação esgotada, assobios, gritos, palmas de delírio - houve de tudo. Quando pensou em fazer o segundo, o diretor da sala chamou-o e lhe disse que aceitaria só se tirasse o "Philharmonic" do título de seus eventos. Granz deu de ombros. Não precisava mais daquela sala de concertos - a fórmula já se revelara vencedora: reunir no mesmo palco grandes músicos de diferentes grupos ou big bands em situação de concerto, provocar surpresas, estimular nos palcos eruditos o clima das "jam sessions". Granz levou, enfim, para outro ambiente as famosas "after hours" dos fins de noite, quando os músicos de jazz se reuniam para tocar de graça, só pelo prazer da música. Só que com cachê. Ao público, dava a chance inédita de curtir seus ídolos improvisando sem amarras.
Repetidas vezes Granz disse em entrevistas que sua vida começou de fato aos 21 anos. "Tudo que vivi até então foi apenas um preâmbulo ao fato mais importante da minha vida: o encontro com Coleman Hawkins! E ouvir Body and Soul! Isso me introduziu no jazz verdadeiro." Uma antológica gravação de outubro de 1939, em que o saxofonista toca a melodia da canção apenas nos primeiros quatro compassos e em seguida "viaja" num improviso excepcional. Dez anos depois, quando conseguiu pôr seu ídolo num dos JATPs, Hawkins tocou - e no final, quando todos os participantes deveriam retornar ao palco para uma "jam" final, ele, com o sax já guardado no estojo, queria se mandar e exigiu de Granz seu cachê. A rusga terminou com o produtor arrancando do bolso uma nota de US$ 100. Foi um eficiente lance de marketing pessoal, pois Hawkins espalhou para os demais músicos que nele se podia confiar.
No entanto, para dar status de grande arte ao jazz, no mesmo nível da música clássica, era preciso mais. Pois, paralelamente aos concertos do JATP, Granz construiu um suporte comercial matador, gerando produtos discográficos diferenciados, como The Astaire Story, The Jazz Scene e os definitivos "songbooks" de Ella Fitzgerald dedicados a Cole Porter, Irving Berlin, Jerome Kern, Johnny Mercer, Rodgers & Hart, Harold Arlen, Duke Ellington e George Gershwin, a maioria com excepcionais arranjos de Nelson Riddle. Como escreveu Peter Watrous, crítico do New York Times, em 1994, "seu toque particular de gênio foi tornar o show business subserviente ao jazz".
Em 1994, numa declaração resgatada por Tad Hershorn, Granz reafirma que "sempre insisti que meus músicos tinham de ser tratados com o mesmo respeito devotado a Leonard Bernstein ou Jascha Heifetz, porque eles eram tão bons quanto os citados, como homens e como músicos". Talentos maravilhosos como Ella, Sarah Vaughan, Joe Pass e Oscar Peterson foram alçados ao status de estrelas internacionais. Ele gerenciou suas carreiras, produziu seus discos, mas jamais teve contratos assinados com eles - em 1958, chegou a empresariar a big band de Duke Ellington sem receber comissão de agenciamento. Durante quase meio século seu nome permaneceu chave no reino do jazz: de meados dos anos 40 até 1960, com a Verve Records, onde concentrou arquivos de seus pequenos selos anteriores; e de 1973 a 1986 com a Pablo.
"A saga de Norman Granz é bem mais do que apenas a história de um empreendedor ou a biografia de uma figura secundária da música. Sua arrojada interação entre cultura e ideias durante décadas deu à sua vida a dimensão de uma ‘great american story’." Ele viveu ressentido com o parco reconhecimento seus últimos anos em Genebra. "Fez pouco para cultivar a própria fama", diz Tad. Sempre trabalhou nos bastidores e preferiu retirar-se discretamente. "Eu fazia as coisas funcionarem", disse a Tad em entrevista em 2000. "Como Philip Randolph e Bayard Rustin, os organizadores da Marcha sobre Washington de 1963, que outorgou a imortalidade a Martin Luther King, Granz jamais esteve no mesmo plano de notoriedade pública de seus artistas."
Guerra pessoal. Só há um problema com esta excelente biografia. A figura que Norman Granz induziu e Tad Hershon construiu é quase a de um santo, um autêntico revolucionário de esquerda, carteirinha do PC em punho, lutando contra a discriminação racial. Granz fez Tad esmiuçar até sua ficha no FBI e os depoimentos que deu sobre sua atividade nos macarthistas anos 40 (depoimentos que só aconteceram dez anos depois, em 1956). É uma visão maniqueísta, mas que nos ajuda a compreender melhor esta figura tão criticada por comercializar demais as grandes estrelas do "mainstream jazz" dos anos 40-70. Por isso é reveladora sua guerra pessoal contra a discriminação racial na música. E autêntica sua paixão pela bossa nova. Ele levou suas maiores estrelas, como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, a colocar a BN nos repertórios de seus shows e a gravar Tom Jobim e a BN. É da sua Verve a gravação de Garota de Ipanema de João Gilberto com Stan Getz, o disco de maior vendagem da história do selo. Pois é, até na disseminação planetária da bossa nova ele foi decisivo.
Sua morte, em 22 de novembro de 2001, causada por um câncer, foi chorada em todos os cantos. No finalzinho do livro, ao comentá-la, Tad cita trecho de um artigo de Ruy Castro no Estado, de 1.º de dezembro de 2001. Ruy escreveu que "se houve um ‘branco com alma negra’, ele foi Norman Granz. A frase é apenas um clichê, já que houve muitos brancos como Granz que foram decisivos para a sobrevivência comercial e o avanço artístico do jazz no século 20. Mas ninguém (nem mesmo Creed Taylor, a quem a bossa nova deve muito nos EUA), tornou-se tão conhecido como Norman Granz". Só que ele era conhecido apenas pelo conjunto da obra. Este livro vai às entranhas desta bizarra revolução, tanto comercial quanto artística, que mudou os rumos do jazz no mundo. E nos leva a respeitar mais sua extraordinária obra.
*João Marcos Coelho é jornalista e crítico musical, autor de No Calor da Hora
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,o-genio-por-tras-do-jazz,819500,0.htm
groupmusicverve.com
'Sempre insisti que meus músicos tinham de ser tratados com o mesmo respeito de Leonard Bernstein'
Lees detestava o homem, e mesmo assim idolatrava sua obra. Só por causa de Granz temos hoje tesouros de valor artístico incalculável. Alguns deles: as dez horas gravadas por Art Tatum, o maravilhoso gênio cego do piano-jazz dos anos 40; os 16 CDs de Ella Fitzgerald contendo os "songbooks" da era de ouro da música popular americana e do jazz; os dez CDs de Billie Holiday registrando performances emocionantes de seus últimos 14 anos de vida ; retratos musicais de corpo inteiro de gênios como Count Basie e Duke Ellington. Isso além das dezenas de discos de Oscar Peterson, Louis Armstrong, Benny Carter, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Lester Young, Coleman Hawkins, Joe Pass, Ben Webster, Roy Eldridge.
Até agora não havia nenhuma biografia dele. Simples. Granz - o sobrenome original era Granzinski, mas seu pai cortou o final por considerar que seria mais fácil adaptar-se ao novo país quando chegou aos EUA em 1906 - de fato era um sujeito de difícil trato para o mundo inteiro, com uma exceção: seus músicos, para os quais fazia o possível e o impossível. Todos os que tentaram se aproximar dele com projetos biográficos foram rechaçados. Granz temia que estivessem apenas em busca de fofocas. "Querem que eu conte coisas como o que Billie Holiday tomava no café da manhã." Tinha medo também que enfocassem apenas o seu formidável êxito financeiro e os cachês pagos a músicos mitológicos como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Count Basie, Duke Ellington, Ella Fitzgerald, entre tantos outros. Já com câncer, e poucos dias antes da morte, Granz colocou os documentos "top secret" em pastas de plástico e exigiu que fossem enterradas com ele. Levou literalmente seus segredos para o túmulo.
Por isso, a primeira biografia exaustiva só agora é publicada, dez anos após sua morte. Norman Granz: The Man Who Used Jazz for Justice já traz no título o motivo pelo qual Tad Hershorn teve acesso aos arquivos pessoais do biografado e privou de sua intimidade em seus anos finais de vida. Ele queria ser retratado como um campeão da luta contra a discriminação racial. Foi muito difícil e vagaroso o processo de aproximação. A ideia do livro nasceu em 1975, quando Tad, filho de mãe jornalista e pai fotojornalista, começou a fotografar os shows de Joe Pass, Ella Fitzgerald e Oscar Peterson, entre outros. Nos anos seguintes, suas fotos frequentaram as capas de discos dos "pablovianos", como os chamou certa vez o crítico Gary Giddins. Na década de 90, defendeu tese sobre Norman Granz na George Mason University e mandou-a para ele em cortesia. No dia seguinte, recebeu um telefonema alertando para alguns erros e chamando-o para conversar na Suíça. "Nos últimos cinco anos de sua vida, conversamos bastante", conta Tad.
Ele esmiúça com paciência de relojoeiro os três pilares sobre os quais Granz construiu sua reputação: apresentar jazz de qualidade; desafiar a segregação racial; e mostrar que era possível ganhar um bom dinheiro combinando as duas coisas. Sem querer, ou melhor, de tabela, ele mostra como o produtor furou o paredão erudito reinante nas salas de concerto. Quando levou pela primeira vez seu Jazz at the Philharmonic, que se tornou mundialmente conhecido pela abreviação JATP, o "Philharmonic" referia-se ao espaço, o Philharmonic Hall da Orquestra de Los Angeles. Lotação esgotada, assobios, gritos, palmas de delírio - houve de tudo. Quando pensou em fazer o segundo, o diretor da sala chamou-o e lhe disse que aceitaria só se tirasse o "Philharmonic" do título de seus eventos. Granz deu de ombros. Não precisava mais daquela sala de concertos - a fórmula já se revelara vencedora: reunir no mesmo palco grandes músicos de diferentes grupos ou big bands em situação de concerto, provocar surpresas, estimular nos palcos eruditos o clima das "jam sessions". Granz levou, enfim, para outro ambiente as famosas "after hours" dos fins de noite, quando os músicos de jazz se reuniam para tocar de graça, só pelo prazer da música. Só que com cachê. Ao público, dava a chance inédita de curtir seus ídolos improvisando sem amarras.
Repetidas vezes Granz disse em entrevistas que sua vida começou de fato aos 21 anos. "Tudo que vivi até então foi apenas um preâmbulo ao fato mais importante da minha vida: o encontro com Coleman Hawkins! E ouvir Body and Soul! Isso me introduziu no jazz verdadeiro." Uma antológica gravação de outubro de 1939, em que o saxofonista toca a melodia da canção apenas nos primeiros quatro compassos e em seguida "viaja" num improviso excepcional. Dez anos depois, quando conseguiu pôr seu ídolo num dos JATPs, Hawkins tocou - e no final, quando todos os participantes deveriam retornar ao palco para uma "jam" final, ele, com o sax já guardado no estojo, queria se mandar e exigiu de Granz seu cachê. A rusga terminou com o produtor arrancando do bolso uma nota de US$ 100. Foi um eficiente lance de marketing pessoal, pois Hawkins espalhou para os demais músicos que nele se podia confiar.
No entanto, para dar status de grande arte ao jazz, no mesmo nível da música clássica, era preciso mais. Pois, paralelamente aos concertos do JATP, Granz construiu um suporte comercial matador, gerando produtos discográficos diferenciados, como The Astaire Story, The Jazz Scene e os definitivos "songbooks" de Ella Fitzgerald dedicados a Cole Porter, Irving Berlin, Jerome Kern, Johnny Mercer, Rodgers & Hart, Harold Arlen, Duke Ellington e George Gershwin, a maioria com excepcionais arranjos de Nelson Riddle. Como escreveu Peter Watrous, crítico do New York Times, em 1994, "seu toque particular de gênio foi tornar o show business subserviente ao jazz".
Em 1994, numa declaração resgatada por Tad Hershorn, Granz reafirma que "sempre insisti que meus músicos tinham de ser tratados com o mesmo respeito devotado a Leonard Bernstein ou Jascha Heifetz, porque eles eram tão bons quanto os citados, como homens e como músicos". Talentos maravilhosos como Ella, Sarah Vaughan, Joe Pass e Oscar Peterson foram alçados ao status de estrelas internacionais. Ele gerenciou suas carreiras, produziu seus discos, mas jamais teve contratos assinados com eles - em 1958, chegou a empresariar a big band de Duke Ellington sem receber comissão de agenciamento. Durante quase meio século seu nome permaneceu chave no reino do jazz: de meados dos anos 40 até 1960, com a Verve Records, onde concentrou arquivos de seus pequenos selos anteriores; e de 1973 a 1986 com a Pablo.
"A saga de Norman Granz é bem mais do que apenas a história de um empreendedor ou a biografia de uma figura secundária da música. Sua arrojada interação entre cultura e ideias durante décadas deu à sua vida a dimensão de uma ‘great american story’." Ele viveu ressentido com o parco reconhecimento seus últimos anos em Genebra. "Fez pouco para cultivar a própria fama", diz Tad. Sempre trabalhou nos bastidores e preferiu retirar-se discretamente. "Eu fazia as coisas funcionarem", disse a Tad em entrevista em 2000. "Como Philip Randolph e Bayard Rustin, os organizadores da Marcha sobre Washington de 1963, que outorgou a imortalidade a Martin Luther King, Granz jamais esteve no mesmo plano de notoriedade pública de seus artistas."
Guerra pessoal. Só há um problema com esta excelente biografia. A figura que Norman Granz induziu e Tad Hershon construiu é quase a de um santo, um autêntico revolucionário de esquerda, carteirinha do PC em punho, lutando contra a discriminação racial. Granz fez Tad esmiuçar até sua ficha no FBI e os depoimentos que deu sobre sua atividade nos macarthistas anos 40 (depoimentos que só aconteceram dez anos depois, em 1956). É uma visão maniqueísta, mas que nos ajuda a compreender melhor esta figura tão criticada por comercializar demais as grandes estrelas do "mainstream jazz" dos anos 40-70. Por isso é reveladora sua guerra pessoal contra a discriminação racial na música. E autêntica sua paixão pela bossa nova. Ele levou suas maiores estrelas, como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, a colocar a BN nos repertórios de seus shows e a gravar Tom Jobim e a BN. É da sua Verve a gravação de Garota de Ipanema de João Gilberto com Stan Getz, o disco de maior vendagem da história do selo. Pois é, até na disseminação planetária da bossa nova ele foi decisivo.
Sua morte, em 22 de novembro de 2001, causada por um câncer, foi chorada em todos os cantos. No finalzinho do livro, ao comentá-la, Tad cita trecho de um artigo de Ruy Castro no Estado, de 1.º de dezembro de 2001. Ruy escreveu que "se houve um ‘branco com alma negra’, ele foi Norman Granz. A frase é apenas um clichê, já que houve muitos brancos como Granz que foram decisivos para a sobrevivência comercial e o avanço artístico do jazz no século 20. Mas ninguém (nem mesmo Creed Taylor, a quem a bossa nova deve muito nos EUA), tornou-se tão conhecido como Norman Granz". Só que ele era conhecido apenas pelo conjunto da obra. Este livro vai às entranhas desta bizarra revolução, tanto comercial quanto artística, que mudou os rumos do jazz no mundo. E nos leva a respeitar mais sua extraordinária obra.
*João Marcos Coelho é jornalista e crítico musical, autor de No Calor da Hora
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,o-genio-por-tras-do-jazz,819500,0.htm
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