O fascínio dos intelectuais brasileiros pela ausência de projeto político dos guerrilheiros que derrubaram Fulgêncio Baptista em 1959 é compreensível porque havia grande expectativa de que ali, pela primeira vez, pudesse surgir um socialismo equalitarista e não alinhado à URSS.
Eles partilhavam da simpatia expressa por figurões como Herbert Marcuse, Waldo Frank, Allen Ginsberg, Octavio Paz, Gabriel García Márquez e Julio Cortázar, entre outros. Mas a partir de 1965, com a fundação do PC cubano e a gradual institucionalização do modelo soviético na ilha, Fidel passou a mostrar sua vocação totalitária e muitos pensadores passaram de apoiadores a críticos do regime. Sartre foi um deles.
Já no final de da década de 60, quando o mundo intelectual só tinha olhos para a Revolução Cultural chinesa, o interesse dos brasileiros pela Ilha de Fidel continuou a crescer.
Em 1967, nos bastidores do 3º Festival da MPB da Record, o compositor José Carlos Capinam escreveu um poema em homenagem a Che Guevara, morto naquele ano, e pediu a Gilberto Gil que dele fizesse uma canção. Nascia — no auge da censura instituída pelo governo militar — a famosa declaração de amor à revolução cubana, Soy loco por tí, America.
As relações diplomáticas com Cuba estavam rompidas desde 1964 e os passaportes brasileiros traziam a advertência impressa “Não é válido para Cuba”. A lua-de-mel entre brasileiros e cubanos ficou interrompida durante anos.
Só a partir da segunda metade da década de 70, já no período de distensão política, voltou a crescer o interesse de artistas, escritores e jornalistas brasileiros pela ilha de Fidel, num momento em que parte da esquerda mundial repudiava o regime.
Surge então um número razoável de obras publicadas sobre aquele país, com enfoques e tons variados, alguns excessivamente laudatórios e outros com a acuidade científica das boas reportagens. Cuba, para o bem e para o mal, passou ser um assunto sobre o qual todos tinham de ter uma opinião.
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