Eu não sabia você. Não sabia seu olho que me faz bonita. Não sabia esperar letras em azul. Não sabia espreitar árvores que abraçam o céu. Não sabia a melancolia das frases inacabadas. E tudo que eu não sabia era um vazio que eu me acostumei a chamar serenidade. Eu nem percebi quando as coisas foram pedindo você. Não eu, as coisas, digo pra me convencer. Devagar, devagar, eu me digo, eu sei, tem uma dor latente tão imprevista que pode cortar o respirar. Escrevo longos textos que não publico. Construo paisagens, de palavra em palavra, um mosaico de caminhos que, todos eles, me levariam a você. Desfaço, letra a letra, sabendo que não é isso que esperas. Mas é que não sou uma pessoa boa. E isso significa que eu não sei silenciar em elegante compostura. Você já viu aquele filme: Lições para toda a vida? Há uma tocante conversa entre o tio e o sobrinho em que aquele diz a este que um homem deve poder acreditar em coisas que são ou não verdades (...) um homem deve acreditar na honra, na coragem e na justiça e um homem deve acreditar no amor, não porque sejam verdades, mas porque é importante que se acredite nelas. Eu não sou homem, tenho minha própria lista de crenças. Bem no topo, esta: não se deve abrir mão de um desejo, mesmo que este nunca se realize. Apenas o fato de existir já me faz outra pessoa. Mais intensa. Mais viva. Mais nítida. E completo dizendo que se faço drama é porque não sei fazer poesia e que nem um nem outro deviam lhe chegar como uma exigência ou convite, mas como uma tentativa de humanidade. Se me ferir a pele, eu sangro, mas é o sangue quem sempre esteve aqui, não o corte. Viver é muito perigoso, alertou Guimarães Rosa, mas é o que melhor faço, enquanto morro um pouco a cada dia.
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