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sábado, 7 de abril de 2012

Bororó e as cores do Brasil

Por Túlio Villaça


A Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, inaugurou uma espécie de blog de análise musical, só que, como deve ser numa rádio, sonorizado. A ideia deles é a cada vez um autor fazer um pequeno ensaio sobre uma canção, um autor, um tema da música brasileira. Então, Tubo de Ensaio abre neste programa, com Paulo da Costa e Silva falando de duas canções fundamentais de um autor fundamental:

Da Cor do pecado, de Bororó, com Ney Matogrosso


Curare, de Bororó, com Rosa Passos


Da cor do pecado e Curare, ambas sucessos estrondosos da década de 1930, apresentam uma novidade transgressora no seu modo de retratar a mulher. Em cada uma das duas canções, a miscigenação da sociedade brasileira vem retratada de forma elogiosa, ao contrário de paliativos como O teu cabelo não nega, cujo viés racista hoje se torna patente à escuta. A mulher negra e a índia, são retratadas em toda a sua sensualidade, sem caricaturas carnavalescas e sem a idealização romântica – e às vezes empolada, como Paulo ressalta – das valsas, mas em melodias sinuosas e sensuais como elas (caso de Da cor do pecado), ou coloquiais, próximas da fala e da vida cotidiana (caso de Curare).
Minha vontade era transcrever o artigo aqui, mas isso seria empobrecê-lo, ao retirar os exemplos musicais que vão acompanhando a narração. Limito-me a deixar uma água na boca:

Sobre os versos iniciais da Da cor do pecado:
Numa só tacada, a primeira, a satisfação de pelo menos quatro dos cinco sentidos: visão, com a palavra moreno; olfato, com cheiroso; paladar e tato, com gostoso.
Sobre Curare:
Não se trata da típica mulher fatal, arrebatadora, não. O curare é veneno suave, que nos mata não por espasmos e contrações, mas por relaxamento. Morte esparramada, preguiçosa. Tudo na canção aponta para esse torpor.
E mais não digo, recomendando a escuta integral dos 18 minutos do programa e aguardando os próximos. E comemorando a lembrança de um autor que celebrou uma mulher real e desejável fora de um baile, fosse de salões sofisticados ou de carnaval, e através dela um Brasil que se desenhava e ainda está longe de se completar, mas que arrisca um projeto particular e original, que sabe desejar e sabe o que quer, diferente dessa gente que finge querer.

http://tuliovillaca.wordpress.com/

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