...onde anda você?
e
por falar em paixão, em razão de viver,
você bem que podia me aparecer,
nesses mesmos lugares, na noite,
nos bares, aonde anda você?
“O
único poeta que viveu como poeta”, disse Drummond. E como poeta morreu. Ou
ainda: ele era um amor. E mais, ele era o amor. O amor nem sempre chega na hora
certa nem nos dá o que esperamos. Aliás, quase sempre o amor nos surpreende. Mas
é também ele, amor, que nos comove, que nos faz ser tanto, que nos exige e nos
alegra, que nos excita e transforma. Que nos faz cada vez mais nós mesmos sendo
cada vez mais outros. Então, Vinícius.
Teve
mulheres, muitas, todos sabemos. E as amou de forma tal que enternece pela
entrega absoluta. Que mal há em saber o amor temporário se o sabemos eterno na
sua duração? Era sua forma de estar no mundo, este coração nos olhos, na mão, na
bandeja. Esta sede do outro. Ele sabia-se para encontros. Porque era de tantos e
a tantos se dava. Foram vários os parceiros como Tom Jobim, Carlinhos Lyra,
Baden Powell, Toquinho, Chico Buarque, Pixinguinha, e diversas as pessoas com
quem dividiu palco e disco: Maria Creuza, Quarteto em Si, Maria Bethania, Clara
Nunes...Amar não lhe era pesado. Vinha fácil. Punha brilho no olho e beleza nas
letras.
Vinícius
correu o mundo e fez do mundo todo sua mesa de bar: lugar de risos, afetos,
intimidade e samba. Encantador, sabia-se fazer amado, mas amor com amor pagava e
era um encantado pela vida. E pela vida no outro. E pela vida no
outro.
Não
farei biografia, há lugares em demasia pra saber em que dia e hora nasceu ou
morreu, que foi diplomata, crítico e sei lá mais quê antes, durante e depois de
ser o poeta que era sempre. Não vou listar canções e poemas que me fazem ser sem
pele e sentir em tal intensidade que morrer não é idéia que se descarte. Não
direi da identidade que me deu com seu Para Uma Menina Com Uma Flor nem
explicarei porque minha filosofia de vida é a letra de uma canção sua: “porque a
vida só se dá pra quem se deu, pra quem chorou, pra quem amou, pra quem sofreu”.
Não falarei do seu Orfeu, tão meu, que deu ritmo à peregrinação que é sempre
amar: ir ao Inferno, encontrar quem amamos e deixá-lo lá. Não mencionarei seu
lirismo, sua capacidade de fazer simples o sublime e sublime o corriqueiro e de
dar a tudo os ares do atemporal e, ainda assim, rotineiras imagens.
Só
o que quero é dizer que o amo. Amo-o pelo que explicitamente escreveu e pelo que
não foi claro, pelo que produziu e pelo que me deixou a desejar, pelo que era e
pelo que fazia ser. Havia, em seus olhos, beleza. Foi poeta, podia ter sido,
talvez, mergulhador, sabia ser leve e profundo, ver - onde havia demasiada
pressão - graciosidade e encanto, sabia mergulhar com coragem onde ninguém ia e,
também, fazer dos espaços onde se vai todo dia sem perceber, lugares de encontro
e deslumbre.
Há
talvez, quem torça o nariz pro Vinícius. Eu respeito, mas não passo nem perto de
entender. Porque não há nada no mundo que me pareça mais digno de letras que o
amor. Nada mais real que amar. E ele era um amor. Era, talvez, o amor. Tá na
hora de rever o menino bochechudo, nú e com flechas, estou a pensar que o amor é
um senhor com um copo de uísque na mão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário