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domingo, 22 de abril de 2012

"Xô dor, sai desse corpo que não te pertence"

Fotos Marlene Bergamo/Folhapress
Zizi Possi e seu poodle, Rubinho, passeiam em São Paulo
Zizi Possi e seu poodle, Rubinho, passeiam em São Paulo


ME ALIVIA A DOR

Depois de três cirurgias e quatro meses internada, Zizi Possi diz que foi 'dormir' com 48 anos e, após o tratamento, acordou 'de repente com 56'


A cantora Zizi Possi, 56, está tomando pelo menos dez comprimidos por dia: cinco em jejum, três depois do café da manhã, dois de um antidepressivo para "desmarcar a memória da dor". E outro, à base de morfina, quando necessário.


"A ideia é que eu chegue ao ponto de só tomar aspirina", diz a intérprete de "Asa Morena", recitando naturalmente termos médicos, enquanto espera o manobrista trazer seu carro na porta do Sírio-Libanês. No último ano, ela foi duas vezes por semana ao hospital para fazer reabilitação, após ter passado por três cirurgias e somado quatro meses de internação.

Tudo começou no dia 25 de outubro de 2010. "Acordei sem conseguir levantar da cama. Estava com minha filha [a cantora Luiza Possi] no interior. Ela me trouxe de carro até o Sírio-Libanês. Fiz ressonância e vi que estava com listese, que é quando há um escorregamento da vértebra. Dá uma dor horrorosa", relata à repórter Thais Bilenky.


Precisou ser operada. "Era para durar três horas, durou sete. Três dias depois, senti um calor horrível. E uma dor de cabeça que eu nunca tinha tido na minha vida. E imediatamente começou o calafrio. Frio, frio, frio, frio. Dias depois, fui tirar os pontos. Fiquei superfeliz, né? Cheguei em casa, começou a vazar um líquido pela cicatriz. Mas vazar de eu ter que trocar quatro jogos de lençol durante uma manhã."


Era liquor, "aquela substância líquida onde boia o cérebro" [e envolve a medula]. "Tava escorrendo pelas costas, pela cicatriz [na lombar]. Tive uma fístula liquórica. Um nervo foi pinçado, partido, perfurado." Voltou imediatamente para o hospital.


"Fiquei quatro dias em trendelemburg, jamais vou esquecer esse nome. É uma posição em que você fica na cama com os pés mais altos que a cabeça. Você come assim, bebe assim, tem que fazer número um e número dois assim. E não podia tomar remédio para dor de cabeça, porque [a dor] era a medida [de seu estado] pro médico."


Parecia que estava indo bem, "mas de repente, 'truaft', molhou tudo de novo". Lá foi Zizi, em 17 de novembro, para a segunda cirurgia, agora neurológica. Teve alta, mas foi para casa com dor.


Fez novo exame e descobriu "uma coisa terrível. Estava com uma infecção muito grande". Foi então a terceira cirurgia, em 21 de dezembro, "para extrair material infectado, porque se isso entrasse na medula, tchau".


Foram mais 40 dias sem se mexer. Começou a tomar morfina. Uma bomba, "que eu chamava de Tchernobil", pingava gotas sem parar. Se a dor aumentasse, apertava um botão e vinha quantidade maior da droga.


No período de dor aguda, Zizi chegou a tomar remédios à base de ópio e teve alucinações das quais se lembra rindo. "Eu assistia TV e falava: parece um quadro do [pintor Piet] Mondrian."


Saiu do hospital no dia 22 de fevereiro de 2011. Nos dois meses seguintes, ficou com enfermeiros em casa. Tinha um cateter embaixo do seio por onde recebia um antibiótico "barra pesada". Recomeçou a andar.


Havia engordado. "Entrei [no hospital] já gordinha, com 62 quilos. Quando saí de lá, estava com 73,5. Meu nariz parecia até pequeno de tão inchada que eu tava", ri. Agora está com 69.


Em nenhum momento, a cantora perdeu a consciência. "Pensava que estava passando por tudo aquilo para aprender alguma coisa. Aperreação você entra, discute, faz, acontece e sai igual. Quando 'cê' entra numa crise, vai ao fundo, remexe, se reposiciona. Ou eu ia morrer ou eu ia viver. Saí renovada."


Do hospital, guarda também boas lembranças. Era o Réveillon de 2010 para 2011 e ela estava sozinha. "Ia começar a ler alguma coisa. De repente, ouvi alguém: 'Pode-se entrar nessa festa?'. Era um superamigo meu, que podia estar na Europa, num iate, numa das suas milhares de casas. Veio sozinho de bermuda, chinelinho, com um champanhe na mão. Me tocou tanto, mas tanto!"


Também recebeu a visita de Líber Gadelha, pai de Luiza. Havia 25 anos que os dois e a filha não ficavam no mesmo ambiente. "Ele me falou: 'As coisas acontecem, né? Mas o tempo vai passando e de repente fica um bem querer que a gente não faz força para ter'. Putz, aí é para se acabar de chorar, né?"


Teve conversas profundas com o irmão Neco, que morreu depois que Zizi deixou o hospital. E passou noites com o outro irmão, o diretor José Possi Neto, "como fazíamos na adolescência, na Bahia". "Tava na boca da caçapa, mas percebi que tava com mais medo da vida do que da morte."


Zizi teve depressão de 2001 a 2005. Fez análise "a vida inteira". E descobriu que ficar mal "era um saco". Está acostumada com os remédios. Tem fibromialgia, "uma dor que pinta na musculatura se a gente não dorme legal. Então preciso de ajuda para dormir". "Eu sou três: eu, meus remédios e o Rubinho", seu poodle, cardíaco.


Há alguns anos, conheceu uma médica que falou: "Você tem problema ósseo crônico. Na sua depressão, teve vontade de morrer?". "Falei: 'Tive vontade de sumir'. Ela falou: 'Os arqueólogos cavocam a vida da gente e vão descobrindo os fósseis através dos ossos. A única maneira que a gente tem de apagar nossa existência neste planeta, ou seja, de sumir, é acabar com os ossos.'"


Faz uma pausa. "[Na internação] Abri os olhos e falei: 'Meu Deus, estou aqui lidando com as consequências de um dia ter querido sumir'."


Passou a ter medo de avião, perdeu o "tesão" de dirigir e a vontade de ligar o computador e só ouve música indiana.


Zizi voltou à ativa no dia 29 de abril de 2011, na gravação do DVD de sua filha. No mês seguinte, retomou a agenda de shows pelo país. Pretende gravar um CD ainda neste ano e talvez inclua sua mais nova música, "Quem Viver Terá", que compôs nas sessões de drenagem linfática. Diz assim: "Xô celulite, sai desse corpo que não te pertence".


A cantora diz que não namora desde 2008. Foi quando fez dez cirurgias dentárias -"ó, os ossos de novo". Advoga para si o direito de não falar sobre sua "vida sexual, pessoal". "Ninguém precisa nem deve saber com quem eu tô. Quero e vou ser respeitada. Entendeu?"


"Venho de uma história perturbada. Não tenho nada para dar para ninguém. Pode ser que daqui a pouco até tenha, ou não. Parece que fui dormir com 48 anos e, de repente, acordei com 56."


http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/04/monica-bergamo_22.html

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