O ponto de partida do longo namoro de Zweig com o Brasil
27/03/2012 | Autor: Pedro Corrêa do Lago
Em fevereiro, o suicídio do grande escritor austríaco Stefan Zweig completou setenta anos. Ele se envenenou em 1942, com sua segunda mulher, na casa que alugara em Petrópolis.
O lento processo que levou um dos homens de maior sofisticação intelectual da Europa ao fim melancólico no Brasil merece ser evocado, e o documento aqui reproduzido representa nesse percurso uma etapa significativa.
Trata-se de um formulário de entrada no Rio de Janeiro preenchido por Zweig quando de sua primeira visita ao Brasil em 1936, marco inicial de uma história de fascinação − e mesmo amor, − por uma nova “pátria” que escolheria para se exilar. Em 1941 publicaria um retrato apaixonado, seu famoso “Brasil, país do futuro”.
O “futuro” era de fato o que Zweig via de mais incerto durante o tempo passado entre nós. A ameaça nazista, a perseguição aos judeus e finalmente a guerra na Europa haviam erradicado o mundo no qual vivera com tanta intensidade e conforto, transformado sua realidade num trajeto a esmo e sem esperança.
Nascido numa família rica, Zweig viveu a ebulição do começo do século XX numa Viena onde brotavam grandes talentos na literatura, na arte e na música e na qual despontava a influência de Sigmund Freud, cujas ideias fascinavam o escritor. Mas Zweig não se limitava à Áustria e circulava também com desenvoltura nos meios intelectuais de toda a Europa.
Suas biografias históricas eram grandes best-sellers e lhe garantiam uma vida próspera. Morava numa bela casa, onde passou décadas felizes com a primeira mulher e duas enteadas, cercado por obras de arte e lembranças históricas e literárias.
Zweig redigia seus livros sobre a escrivaninha que pertencera a Beethoven, de quem possuía várias partituras originais de algumas de suas maiores obras. Colecionava manuscritos e rascunhos de seus ídolos literários: Goethe, Balzac, Heine, Schiller assim como dos grandes compositores como Mozart, Haydn ou Schubert.
Por volta dos cinquenta anos, o escritor havia atingido um equilíbrio pessoal e material invejável, que o avanço do nazismo iria ameaçar e, finalmente, destruir.
Mas, em 1936, quando Zweig aportou pela primeira vez no Brasil, (a caminho da Argentina onde atenderia um congresso do P. E. N. Clube, então a mais prestigiosa agremiação internacional de escritores) mal poderia imaginar, aos 54 anos, o papel que o país onde fazia escala viria a representar em sua vida.
Se Zweig não pôde entender completamente o Brasil – como era naturalmente difícil para um homem de tradições tão distantes − não há dúvida que o país exerceu imediatamente sobre ele um encanto profundo, muito maior que a européia Argentina.
O formulário de entrada preenchido em 21 de agosto de 1936 especifica que Zweig era hóspede do Governo Federal do Brasil e que se hospedou no Copacabana Palace. Os outros dados são preenchidos em tinta roxa na letra do escritor, e este documento assume hoje uma carga simbólica ao evocar o ponto de partida do longo namoro de Zweig com nosso país, que culminaria seis anos mais tarde com a escolha de Petrópolis para o gesto final de sua vida.
Descoberto pelo grande jornalista Alberto Dines em suas pesquisas iniciais para sua obra clássica sobre Zweig no Brasil, Morte no paraíso, este documento foi reproduzido numa fotobiografia do escritor e encontra-se agora numa coleção particular brasileira.
O lento processo que levou um dos homens de maior sofisticação intelectual da Europa ao fim melancólico no Brasil merece ser evocado, e o documento aqui reproduzido representa nesse percurso uma etapa significativa.
Trata-se de um formulário de entrada no Rio de Janeiro preenchido por Zweig quando de sua primeira visita ao Brasil em 1936, marco inicial de uma história de fascinação − e mesmo amor, − por uma nova “pátria” que escolheria para se exilar. Em 1941 publicaria um retrato apaixonado, seu famoso “Brasil, país do futuro”.
O “futuro” era de fato o que Zweig via de mais incerto durante o tempo passado entre nós. A ameaça nazista, a perseguição aos judeus e finalmente a guerra na Europa haviam erradicado o mundo no qual vivera com tanta intensidade e conforto, transformado sua realidade num trajeto a esmo e sem esperança.
Nascido numa família rica, Zweig viveu a ebulição do começo do século XX numa Viena onde brotavam grandes talentos na literatura, na arte e na música e na qual despontava a influência de Sigmund Freud, cujas ideias fascinavam o escritor. Mas Zweig não se limitava à Áustria e circulava também com desenvoltura nos meios intelectuais de toda a Europa.
Suas biografias históricas eram grandes best-sellers e lhe garantiam uma vida próspera. Morava numa bela casa, onde passou décadas felizes com a primeira mulher e duas enteadas, cercado por obras de arte e lembranças históricas e literárias.
Zweig redigia seus livros sobre a escrivaninha que pertencera a Beethoven, de quem possuía várias partituras originais de algumas de suas maiores obras. Colecionava manuscritos e rascunhos de seus ídolos literários: Goethe, Balzac, Heine, Schiller assim como dos grandes compositores como Mozart, Haydn ou Schubert.
Por volta dos cinquenta anos, o escritor havia atingido um equilíbrio pessoal e material invejável, que o avanço do nazismo iria ameaçar e, finalmente, destruir.
Mas, em 1936, quando Zweig aportou pela primeira vez no Brasil, (a caminho da Argentina onde atenderia um congresso do P. E. N. Clube, então a mais prestigiosa agremiação internacional de escritores) mal poderia imaginar, aos 54 anos, o papel que o país onde fazia escala viria a representar em sua vida.
Se Zweig não pôde entender completamente o Brasil – como era naturalmente difícil para um homem de tradições tão distantes − não há dúvida que o país exerceu imediatamente sobre ele um encanto profundo, muito maior que a européia Argentina.
O formulário de entrada preenchido em 21 de agosto de 1936 especifica que Zweig era hóspede do Governo Federal do Brasil e que se hospedou no Copacabana Palace. Os outros dados são preenchidos em tinta roxa na letra do escritor, e este documento assume hoje uma carga simbólica ao evocar o ponto de partida do longo namoro de Zweig com nosso país, que culminaria seis anos mais tarde com a escolha de Petrópolis para o gesto final de sua vida.
Descoberto pelo grande jornalista Alberto Dines em suas pesquisas iniciais para sua obra clássica sobre Zweig no Brasil, Morte no paraíso, este documento foi reproduzido numa fotobiografia do escritor e encontra-se agora numa coleção particular brasileira.
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