Ficaram-me as
penas
O pássaro fugiu, ficaram-me as penas
da sua asa,
nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma
lembrança e outros pequenos nadas.
Passou o vento mau, entre
açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glorias
terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.
A água correu veloz,
fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria
alma me despoje!
Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a
vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.
Cassiano Ricardo
(1895-1974)
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