Encarou a folha de papel
em branco. Há quanto tempo não pegava numa caneta para obrigá-la a desafiar a
superfície convidativa que apenas os derivados da celulose oferecem? Trocou,
como quase todo mundo, o cheiro do livro novo e do caderno pouco rabiscado pelas
telas geladas e impessoais. Sem capas coloridas, dedicatórias nas folhas de
rosto, recados sacanas nas contracapas...
Queria
escrever sobre a vida. Sobre os prazeres de vivê-la. Acabou acometido por uma
série de pensamentos negativos que em nada respiravam o odor de orvalho fresco,
quase se esvaindo por uma alta relva esquecida. Decidiu que seus sorrisos,
naquele momento, eram insuficientes para tratar do assunto.
Passou então
a ensaiar sobre as dificuldades do caminho. Das provações inevitáveis que se
apresentam no trajeto. Mas em nada isso se aproximava da inquietação morna que
lhe tomava o peito, das belas imagens que lhe marcava a retina como que
tatuagens de uma memória mais que presente. Decidiu que seus desamores, naquele
momento, eram insuficientes para tratar do assunto.
Olhou fixamente os
caracteres invisíveis de uma crônica inexistente. Como se, esta, valesse de
algo, ainda que se fizesse imaterial. Como se um grito silencioso lhe saísse de
olhos e ouvidos, contrariando os cursos naturais. Decidiu que escrever, naquele
momente, era insuficiente para qualquer assunto. Foi viver.
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