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sábado, 11 de agosto de 2012

A liberdade, essa mulher

  
Aninha Franco

A trilha de hoje era outra até o momento em que Na estrada, de Walter Salles, se exibiu para a minha intranquilidade provinciana. O ponto de partida do filme é On the Road, romance que Jack Kerouac (1922-1969) escreveu em 1951 e que se tornou referência da Geração Beat. Mas o livro é só o miolo da massa. Salles usou a câmera de maneira, às vezes, crítica, para falar da mais benéfica das revoluções humanas do século 20, a revolução Beat, com Allen Ginsberg (1926-1997), William Burroughs (1914-1997), os hippies, o rock-and-roll, o sexo livre, o uso de drogas, a vida em comunidade, conduzindo o planeta Terra a um estágio menos ameaçador.
Sempre há guerras. A dos anos 1940 foi assustadora. Campos, gás, genocídio, e a multiplicação dessa capacidade Humana de destruir a si mesmo e as outras espécies fotografada e filmada, não tanto como agora, mas em velocidade considerável. Devia ser difícil acreditar nos humanos nos anos 1950, talvez mais que agora. A mesma espécie que condenava a liberdade sexual e o uso de drogas, se matava com requintes de perversidade, como ainda hoje, e aplicava as regras do capitalismo com sofreguidão. O capitalismo, instituído pela revolução industrial do século 18, estava pleno. A mais valia, substituta astuta da escravidão, multiplicava fortunas.
Quem precisava fugir disso, como aquela juventude inteligente e desencantada, ia para a estrada, comportamento de outros transgressores que Salles cita todo o tempo, exibindo o exemplar sebento de No Caminho de Swann, de Marcel Proust, outra estrada, ou a única foto conhecida de Rimbaud que, depois de escrever uma obra pequena e capital, embarcou para sempre, na África, traficando armas, escravos e outras especiarias.
Os muros Beat caíram quando o capitalismo se apropriou de seus signos, da calça azul e desbotada, da música, da estrada, da droga, mas ninguém conseguiu impedir que a liberdade, essa mulher de ombros largos e risada escandalosa, que mete medo aos tiranos, abrisse caminhos. Por causa de suas conquistas, essa foi a melhor revolução que os humanos fizeram no século 20.

http://revistamuito.atarde.uol.com.br/

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