E a Cultura?
EDUARDO
PORTELLA
Cumpre repensar a mídia eletrônica, longe de conceitos patrimonialistas de integristas e de preconceitos intelectuais das academias engessadas |
São válidos, mesmo que contraditórios, os
recentes debates sobre o lugar da cultura hoje.
Cabe ao Ministério da Cultura a função de
operar políticas públicas enraizadas e promissoras, tornando-se inadiável
formular, ver e rever o seu percurso, selecionar questões pertinentes, absorver
formas de criação e compreensão. Talvez deva mesmo situar a sua política
cultural no contraponto de ação-reflexiva e reflexão-ativa.
O modelo predominante vinculava claramente
estabilidade econômica e desenvolvimento. Mas o desenvolvimento já não é uma
empresa de alguns, e sim um empreendimento de todos. Por isso mesmo deixou de
ser operação contábil para se transformar no esforço radical de
qualificação.
É preciso elaborar indicadores qualificativos,
capazes de reequilibrar ou até de civilizar a voracidade dos indicadores
quantitativos. A cultura perde a sua força vital toda vez que adota a economia
como padrão ou referência compulsiva.
Não podemos ignorar que herdamos um pesado
deficit cultural que vem de longe. A reversão desse quadro clínico desfavorável
deve ser rigorosamente priorizada, o que exige a inclusão da cultura como
trabalho social avançado.
É preciso incluir a fatura cultural no empenho
de reprocessamento da fratura social. É verdade que o Estado não produz cultura
(graças a Deus!), mas pode ter função democratizadora no estímulo, na
distribuição e no consumo.
Ao Estado, consciente de ser um mediador
social, igualmente voltado para a prestação de serviços públicos, cumpre:
contribuir ativamente para a desobstrução dos canais de transmissão existentes e
apoiar outros novos meios; formar novas plateias, implantando e ampliando
auditórios formais e informais; vitaminar a procriação cultural, mediante a
seleção criteriosa de projetos instauradores; e estabelecer um novo repertório
de endereços e núcleos culturais.
Sobretudo, cumpre repensar a mídia eletrônica
despreconceituosamente, longe dos conceitos patrimonialistas dos integristas e
dos preconceitos intelectualistas das academias engessadas. Patrimônio cultural,
sim; fundamentalismo, não. Indústria cultural, por que não? Sem o esvaziamento
contundente da complexidade.
Tudo isso passa pelo livro, pela leitura em
campo aberto, pelas bibliotecas, pelas salas de cinema e de teatro, pelo vídeo,
pelos cultos diversos, pela cultura do videoclipe, pelas lonas do circo, pelas
quadras e pelos terreiros, pelos estádios esportivos e assim por
diante.
Passa antes pela compreensão de que cultura é
coisa séria. Para começo de conversa, cultura deve ser política de Estado, mas
de Estado socialmente enraizado.
Vale lembrar algumas recomendações, talvez
redundantes: reforçar o orçamento do MinC; ampliar as iniciativas
interministeriais; descentralizar mais as ações do ministério; reoxigenar os
fundos de cultura; trabalhar as emendas parlamentares para ganhar mais
musculatura financeira, longe do clientelismo e da propaganda enganosa; reforçar
a compreensão federativa.
Isso sem esquecer de que fins e meios devem ser
calibrados cuidadosamente. À cultura cabe alistar-se na frente comum do hoje e
do amanhã, como parte integrante do processo, e ajudar a devolver a confiança no
país. Ela dispõe de condições
potenciais.
Read more: http://clippingsetaro.blogspot.com/2011/01/e-cultura.html#ixzz22b9gxqyD
Nenhum comentário:
Postar um comentário