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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um, dois, feijão com arroz

postado por Cleidiana Ramos
14 de agosto de 2013



Mãe Stella faz reflexão sobre importância da oralidade e da memória. Foto: Fernando Amorim/ Ag. A TARDE/06.12.2012

Maria Stella de Azevedo Santos

“Lá em cima do outeiro tem uma gata borralheira, quem falar primeiro, come tudo o que é porqueira Menos eu que sou rendeiro, que como carne de carneiro; menos eu que sou rainha, que como carne de galinha”.

Essa é uma parlenda, geralmente dita por um grupo de crianças, que vem sendo transmitida de geração para geração, com o intuito de treinar o ser humano para a importante capacidade de se manter em silêncio. O ato de silenciar-se, tão necessário na vida adulta, é também usado como forma disciplinar através de um provérbio que diz: ” A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro”.

Parlendas, ditados populares, adivinhações, brincadeiras, lendas… tudo isso forma o conjunto de sabedoria popular, cuja importância é tão grande para a formação do indivíduo e da sociedade, que existe uma ciência específica para estudar este tipo de saber. Folclore é o nome dessa ciência. No dia 22 de agosto é comum encontrarmos as escolas em movimentação, festejando este dia e o que ele significa.

Quando pensei em falar sobre o folclore, neste artigo, eu tinha uma intenção muito séria, que era a de alertar as escolas e os professores sobre o pouco aprofundamento que este setor da sociedade tem sobre o assunto e do quão pouco proveito está tirando dos valorosos saberes populares, na formação de seus alunos, tanto no aspecto intelectual, quanto emocional. Mesmo sabendo que apesar da pedagogia atual não incentivar a memorização dos conhecimentos, e sim a compreensão dos mesmos, não é possível negar a importância de exercícios de memorização em todas as fases da vida.

Aprendíamos na escola, por exemplo, a memorizar o nome e ordem dos planetas, recitando: “Minha velha, traga meu jantar, sopa, uva, nozes e pão”, onde a primeira letra de cada palavra coincidia com a primeira letra de um planeta. Hoje, é comprovado pela ciência que exercitar a memória é tão necessário quanto exercitar os músculos.

Infelizmente, ou felizmente, não possuo uma natureza doutrinadora; não consigo me sentir à vontade nem com direitos de chamar a atenção de quem quer que seja. Até mesmo porque minha experiência me diz que cada ser e cada instituição tem consciência do que precisa ser trabalhado no sentido de aperfeiçoar-se cada dia mais. Por todos os motivos anteriormente citados é que resolvi, mais uma vez, seguir minha natureza e também obedecer a minha mãe de santo que costumava orientar seus filhos espirituais dizendo: ” A vida é bela e gozá-la convém”.

Ao tomar essa decisão, minha memória começou a trazer à superfície de minha mente, alegres e sábios conhecimentos populares, que fizeram com que o fato de escrever este artigo se transformasse em uma grande diversão. Conhecimentos esses que, usando uma palavra típica da turma jovem, passarei agora a compartilhar com meus leitores, na esperança de que eles se divirtam tanto quanto eu.

Que forma interessante o povo escolheu para comunicar a sua família ou comunidade que está brigado com um irmão: “Éramos dois irmãos unidos, todos dois de uma cor; nunca eu fiquei sem missa, mas meu irmão ficou. Para festas e banquetes, a mim convidarão; para festas de cozinha, convidarão meu irmão”.

Na verdade, isso é uma adivinhação cuja resposta é vinho e vinagre. No momento atual da humanidade, ela já pode contar com as técnicas dos fonoaudiólogos para conseguir que as palavras sejam bem expressadas. Mas no passado, a sabedoria popular aperfeiçoava a fala humana através de trava-línguas, um poderoso exercício de dicção que incentiva, de maneira lúdica, o gosto das crianças pela pronúncia correta de palavras difíceis:

“Num ninho de mafagafos, seis mafagafinhos há; quem os desmafagafizar, bom desmafagatizador será”. A rapidez da fala também podia ser treinada: “Quero ver você dizer, sete vezes encarrilhado; sem errar, sem tomar fôlego, vaca preta, boi pintado”. Vamos falar de maneira ligeira, tomando cuidado para não dizer besteira: “Pedro tem o peito preto, o peito de Pedro é preto; quem disser que o peito de Pedro não é preto, tem o peito mais preto que o peito de Pedro”.

Mãe Stella é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Quinzenalmente, sempre às quartas-feiras, ela escreve no Jornal A Tarde

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