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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O jornal dos sonhos




Todo homem tem o jornal pessoal dos seus sonhos.
Sou um incurável gutenberguiano e curto jornal de papel. Passei a maior parte da minha existência gastando sola de sapato e cadernos de anotações, duas coisas fundamentais para um homem de imprensa.
Os jornais de papel que existem na praça possuem certezas demais e não me satisfazem no momento –e aqui incluo minhas humaníssimas gotas lacrimejantes de nostalgia na parada, óbvio, o que seria de uma criatura se não se pusesse nostálgica até pelo ocorrido da última hora?.
O jornal dos sonhos carece de um certo lirismo bêbado e irresponsável, aquela onda “vai ser gauche na vida”, o lirismo anárquico, jamais um se dobre à direita, donde já se viu sinal tão troncho, meu jovem.
O jornal dos sonhos larga tinta e suja a tapioca branquinha da rotina.
O jornal dos sonhos tem que ter mulher na manchete diariamente. Mulher fez isso, mulher fez aquilo, mulher acordou, mulher dormiu, mulher e um verbo. Um jornal de verdade só precisa de mulher e um verbo.Talvez sangrentas exclamações uma vez por mês!!!
Jornalismo é sangue e amor!!!
Jane Fonda subindo aos ares como  Barbarella, por exemplo, é manchete em seis colunas.
Uma boa rótula de uma galega que acabo de ver aqui na Miguel Lemos é manchete.
Meu novo amor que precisa de um hotel com varanda é manchete!!!
Mas eis que me sinto vingado!
Eis que meu amado Paulo Mendes Campos me sai com o seu “Diário da Tarde”. Alvíssaras, meus camaradas, desbocarro-me em risadas tantas e celebro a notícia. Da janela de Copacabana, ai de mim, estouro duas caixas de fogos Caramuru, comemoração sem barulho constrange minha alminha vira-lata nada zen.
O “DT” até havia saído em forma de livro. Era dos 80. Mas agora saiu como PMC, o cronista do “o amor acaba”, queria, gostaria mesmo, imagino. Um tablóide dos sonhos, meu caro Flavio Pinheiro, meus renovados parabéns e longa vida, amigo.
O “Diário da Tarde’ é o meu jornal e pode ser folheado, como recomendava seu diretor de redação, “num lindo dia de chuva, à falta de uma boa pilha de revistas”.
Em tempos de mais de 30 0×0 no campeonato nacional -vai, Corinthians!-, o meu jornal berra em crônica esportiva: “O gol é necessário”. O gol é o pão do povo. Morte a quem inventou o ferrolho, a retranca, como os suíços na Copa de 50.
“Você gosta de angu à baiana?”, perguntou Garrincha ao nosso amado PMC. Assim eles se encontraram, botafogamente ao crepúsculo de General Severiano.
Notícias quentinhas que você só lê no “Diário da Tarde”. Garrincha prometeu o angu, mas driblou o cronista, tinha mais o que fazer: foi matar passarinho no arvoredo de Pau Grande.
O “Diário da Tarde” é assim, como vou contando aqui.
O “DT” é de fácil de entendimento e assim estão distribuídas as editorias do mesmo: Artigo indefinido, Coriscos, O Gol é necessário, Poeta do dia, Bar do Ponto, Piripau, Grafite e Suplemento Infantil. Ilustrações: Veridiana Scarpelli.
Vamos todos ler o “Diário da Tarde”, minha gente, conclamo. Lá tem até o Jayme Ovalle dizendo coisas: o importante não é gostar ou não do uísque, “o importante é saber se o uísque gosta da pessoa”.
No capítulo bebedeira, o jornal se esmera, folgado, folgazão.
PMC revela, por exemplo, que o pior bêbado é o que tem razão para beber. O bêbado de tese, o bêbado em dor-de-cotovelo, o bêbado que sabe de cor os embargos infringentes.
Leia também no seu “Diário da Tarde”: o milagre da vida está em Walt Whitman. Quem há de discordar? Eu mesmo não sou doido. Eu vejo W.W. em tudo, até na bunda da mulata que sobe agora faceira a escadaria de Cantagalo. Há vida, há Whitman.
O “Diário da Tarde” só tem um defeito: tem futebol, tem drama, tem a dor da gente, tem poesia, tem jazz, tem o coração das trevas… só não tem horóscopo. (Sim, senhor diretor de redação, também sou supersticioso, viver dá azar etc.)
E para terminar a nossa preleção, caros colegas, reparem que pérola atualíssima do nosso homem de imprensa Paulinho Mendes Campos, gênio-mor das Geraes e região:
“Hai-kai: Pobre/apanha/até da mãe”.
O “Diário da Tarde”(ed.IMS) está à venda nas boas casas do ramo, tem 96 páginas e custa 44,90 mangos.  Gastar é gosto.
Como você faria o jornal do sonho?

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/o-jornal-dos-sonhos/

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