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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

“a consciência da América”



Pete Seeger, o decano da folk americana, o activista pelos direitos civis e pela ecologia, morreu de causas naturais, disse a família ao New York Times, na manhã de segunda-feira no Hospital Presbitariano em Nova Iorque, onde estava internado há seis dias. Tinha 94 anos.


Um dos grandes responsáveis pela transmissão do conhecimento sobre a música de raiz americana aos seus compatriotas, autor de Turn turn turn, If I had a hammer e responsável pela popularização enquanto hino de We shall overcome, Pete Seeger atravessou todas as convulsões do século XX e as do início deste em que vivemos actualmente. Sempre presente. Como nota em obituário o Washington Post, cantou contra o terror de Hitler, nas décadas de 1930 e 40, opôs-se à utilização da energia nuclear, foi incluído na lista negrado McCarthismo na década de 1950, juntou-se, na década seguinte, aos movimentos pelos direitos cívicos liderados por Martin Luther King e aos protestos dos estudantes americanos na década de 1960, e, já nonagenário, fez questão de marcar presença nas mais recentes manifestações Occupy Wall Street: “Desconfiem dos grandes líderes”, declarou nesse contexto à Associated Press, em 2011. “Desejem que existam muitos, muitos pequenos líderes.”

Companheiro de estrada de Woody Guthrie no início de carreira, com influência marcante na ascensão de uma figura chamada Bob Dylan (foi ele que o recomendou a John Hammond, que o contrataria para a editora Columbia), Pete Seeger era, como titula o obituário do Los Angeles Times, “a consciência da América”. Várias das suas canções foram alvo de diversas versões, muitas vezes com maior popularidade. Cantaram-no, por exemplo, Marlene Dietrich (em inglês, francês e alemão), Peter, Paul & Mary ou os Byrds. Em 2006 Bruce Springsteen dedicou-lhe um álbum inteiro, We Shall Overcome: The Pete Seeger Sessions.

Nascido a 3 de Maio de 1919 em Manhattan, Nova Iorque, viveu uma vida longa e preenchida, activa até ao fim. “Ainda há dez dias estava a cortar lenha”, contou a sua neta, Kitama Cahill-Jackson, ao Washington Post. Deixa na memória colectiva a sua imagem imponente, o rosto adornado pela barba icónica e, a tiracolo, o banjo, instrumento pelo qual se apaixonou ainda muito jovem e que divulgou incansavelmente. Isso e, claro, a sua voz, arma poderosa contra a opressão, qualquer que fosse a forma que esta assumisse.



A sua voz, incapaz já de atingir tom de tenor, pouco rico timbricamente, mas muito expressivo, que lhe ouvimos na juventude, continuava hoje a ser instigadora daquilo que Seeger via de mais precioso na música, a capacidade de reunir comunitariamente e de contribuir para a transformação do mundo. Nos concertos dos últimos tempos, limitava-se a lançar o início dos versos ao público e a deixar que este os completassem num coro de milhares – desejo de partilha que o público português pôde testemunhar, voz ainda intocada, em Dezembro de 1983, data do único concerto em Portugal de Pete Seeger, no Pavilhão dos Desportos.

Não por acaso, afirmava que as suas canções não eram verdadeiramente suas (fazia até questão de desvalorizar os seus talentos de compositor, afirmando que se limitava a adaptar velhas canções do cancioneiro do folclore e dos espirituais negros americanos). O seu forte sentimento comunitário, aliado a uma humildade desarmante, conduzia a afirmações como as dadas aoGuardian numa entrevista de 2007. Comentando o álbum que Bruce Springsteen lhe dedicara, disse que preferia que o cantor de New Jersey não tivesse utilizado o seu nome na capa. “Sobrevivi todos estes anos mantendo um perfil discreto. Agora o meu disfarce foi desmascarado. Se tivesse sabido antecipadamente, ter-lhe-ia pedido que só mencionasse o meu nome algures no interior.” Depois, enfatizou novamente o seu papel reduzido enquanto compositor: “Aquelas não são as minhas canções, são velhas canções, eu limitei-me a cantá-las.” Exemplo máximo, We shall overcome, o hino da luta pelos direitos cívicos nos Estados Unidos, hino intemporal para qualquer luta de oprimidos perante a opressão, tem a sua génese na canção gospel I'll overcome someday, de Charles Albert Tindley. Em 1948 surge publicada noPeople's Song Bulletin, dirigido por Seeger, com o título We will overcome. A sua única contribuição, diria depois o cantor, seria uma pequena alteração prática: "shall" adequava-se melhor ao canto que "will". Ainda assim, apesar de Seeger procurar a discrição, essa não foi uma marca permanente na sua carreira.

Filho de um musicólogo, Charles Louis Seeger, e de uma violinista, Constance de Clyver Edson, ambos professores na prestigiada Juilliard School, e enteado de uma compositora modernista, Ruth Crawford Seeger, segunda mulher do pai, Pete Seeger foi colega de John Kennedy enquanto estudante de Sociologia em Harvard, período em que se juntou à Juventude Comunista Americana. Desiludido com o percurso académico, teria os momentos definidores da sua vida quando, juntamente com o pai, viu uma velha cantora tocar o banjo de cinco cordas, que se tornaria o seu instrumento de eleição – usava um de braço longo, criado por si. “Gostei do tom vocal estridente dos cantores, da dança vigorosa”, recorda na biografia de David Dunaway, How Can I Keep From Singing, citado no obituário do New York Times. “As palavras das canções tinham todo o sangue da vida nelas. O seu humor era mordaz e não trivial. A sua tragédia era real, não sentimentalista.”

Pouco antes de assistir na Carolina do Norte àquele festival, começara a trabalhar na Biblioteca do Congresso Americano, fazendo catalogação e transcrição da música tradicional recolhida em todo o país. Fora convidado por John Lomax, histórico folclorista e amigo próximo de Charles Seeger. Essa música passou a ser a sua música e foi perante ela que ele se definiu enquanto músico, autor e intérprete.

Encontramo-lo então, no final dos anos 1940, enquanto membro dos Weavers, uma das bandas que se revelariam fundamentais no revivalismo folk com centro na Greenwich Village nova-iorquina (essa que os irmãos Cohen revisitam no recente A Propósito de Llewyn Davis). Durante o seu curto primeiro período de vida, os Weavers estiveram no topo das tabelas de vendas com uma versão de Goodnight Irene, original do mítico bluesman Leadbelly (que Seeger conhecera através de Lomax), e venderam em quatro anos cerca de quatro milhões de discos, números impressionantes para a época. Foi o momento de maior exposição mediática e sucesso comercial de Seeger, contrapondo com o breve período durante o início da Segunda Guerra Mundial em que percorrera os Estados Unidos à boleia ou saltando ilegalmente para os vagões de comboio, como o faziam os milhões de deserdados da Grande Depressão. Ganhava dinheiro tocando o seu banjo em cafés a troco de gorjetas. Aprendera as melhores técnicas para o fazer com Woody Guthrie, que se tornaria seu mentor e companheiro.

Tocaram juntos nos Almanac Singers, cantando canções antiguerra e anti-racismo e promovendo o poder sindical na luta por melhores condições de vida dos trabalhadores. A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial acabaria com a banda. O fim da guerra traria o nascimento dos Weavers e a imagem inusitada de Pete Seeger no topo das tabelas de venda – “não consigo lembrar-me de um momento que ele sinta como menos importante na sua vida”, declarou Arlo Guthrie, filho de Woody, no concerto de celebração dos 90 anos de Seeger. A América em histeria anticomunista dos anos McCarthy não tardaria, porém, a voltar-se para ele.

Abandonara o Partido Comunista em 1950, em conflito com o estalinismo, mas não o invocou em sua defesa perante a Comissão de Actividades Antiamericanas. Recusando-se a qualquer denúncia declarou perante ela, em 1955: “Sinto que não fiz nada de natureza conspirativa em toda a minha vida. Não vou responder a quaisquer questões relacionadas com as minhas filiações, as minhas crenças filosóficas, religiosas ou políticas, ou em quem votei nas últimas eleições, ou qualquer um desses temas da minha privacidade. Julgo ser muito imprópria colocar essas perguntas a um americano, especialmente neste contexto de coacção” – na supracitada reportagem do Guardian, o jornalista Edward Helmore conta que, ao subir ao palco de um pequeno clube em Beacon, a terra nas margens do rio Hudson em que viveu desde os anos 1940, se apresentou dizendo: “Ainda me considero um comunista falhado.”

Condenado em 1961 a um ano na prisão, que não chegou a cumprir, foi colocado na lista negra, impedido de actuar na rádio e televisão e proscrito dos grandes palcos. Os Weavers terminaram (três dos quatro membros tinham enfrentado a comissão) e, no que é um aparente paradoxo, Pete Seeger entrou naqueles que considerou serem os melhores anos da sua vida. Passou a tocar apenas em universidades ou em pequenas associações locais. Adepto da máxima “pensa globalmente, age localmente”, revelou aos jovens estudantes a música americana que eles nem imaginavam existir e mostrou a todos os que o ouviam, dizia, que não era necessário entrar no jogo do comércio para viver em sociedade. Foi neste período que ouviu com atenção um jovem Bob Dylan, de quem se tornou conselheiro. E seria com Bob Dylan que viveria um episódio que entrou nos anais da história da música popular.

Em 1965, Dylan apresentava-se novamente no Newport Folk Festival, de que Seeger fora em 1959 um dos fundadores. Momento histórico: pela primeira vez, a jovem esperança da folk, a “voz de uma geração”, surgia acompanhado de uma banda eléctrica. Conta a lenda que, irado com o seu protegido, que trocava a pureza acústica do folclore pela selvajaria gratuita e burguesa do rock’n’roll, terá pegado num machado e tentado cortar a fonte de alimentação do palco. Seeger e outras testemunhas viriam a negá-lo. Estava irritado, sim. Não com Dylan, mas com o técnico de som que afogara as palavras do cantor sob o volume da guitarra – e Seeger achava que era importante que o público ouvisse os versos de Maggie’s farm.

Era difícil, de resto, imaginá-lo a tomar tal atitude. Se a guitarra de Woody Guthrie tinha inscrita no seu corpo “This machine kills fascists” (“Esta máquina mata fascistas”), no banjo de Seeger lia-se “This machine surrounds hate and forces it to surrender” (“Esta máquina cerca o ódio e força-o a render-se”). Firme nas suas convicções, corajoso na sua afronta ao poder, dono de uma coerência a toda a prova, Pete Seeger era um revolucionário humanista, crente no futuro – autor de música para crianças, afirmava que era impossível não acreditar no futuro quando cantava para elas.

O homem que fora sentenciado pelo Estado americano, que erguera a sua voz com Martin Luther King e 200 mil pessoas na Marcha de Washington contra a ignomínia desse crime legalizado que era a segregação racial; ele que amante e estudioso da tradição americana se mantivera sempre aberto ao mundo (cantou Guantanamera, cantou canções republicanas da Guerra Civil de Espanha, transformou uma canção russa sobre cossacos partindo para a guerra em hino anti-Guerra do Vietname, Where have all the flowers gone), seria, já septuagenário, distinguido por Bill Clinton com a Medalha Nacional das Artes, a mais alta distinção que o Estado americano atribui aos seus artistas. Cinco anos depois, em 1999, Cuba concedeu-lhe homenagem semelhante, a medalha da Ordem Félix Varela, pelo seu “humanismo e trabalho artístico em defesa do ambiente e contra o racismo”. A 18 de Janeiro de 2009, estava nas escadas do Memorial Lincoln cantando This land is your land, a canção do velho amigo Woody Guthrie, para o novo presidente americano, Barack Obama.

Nada disso o alterou. Continuou a tocar regularmente nos pequenos clubes nas redondezas de sua casa, que construíra na década de 1940 com a mulher, Toshi-Aline Öta (morreu em 2013, a dias de festejar os 70 anos de casamento), e a participar em acções de intervenção social e de activismo ecológico, principalmente em defesa da despoluição do seu amado rio Hudson. O humor mantinha-se intacto. Os locais lembrar-se-ão dos autocolantes que distribuía com o slogan “Gravity – it’s just a theory” (“Gravidade – é apenas uma teoria”), encorajando a que os enviassem para alguém no Kansas, o estado criacionista por excelência.

“A chave para o futuro do mundo”, afirmava em 1994, “é encontrar as histórias optimistas e torná-las conhecidas.” Pete Seeger encontrou as histórias e cantou-as. No processo, pelo seu exemplo e atitude, tornou-se também ele parte da história. Essa. Com agá maiúsculo.

http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-pete-seeger-o-decano-da-folk-americana-1621379#/0


Pete Seeger: 20 Essential Tracks

Remember the folk icon with a playlist spanning his acclaimed career







domingo, 26 de janeiro de 2014

"sobre o nada"

Comediante mais famoso do mundo, Jerry Seinfeld faz pequenos planos

OLIVER BURKEMAN

DE SÃO PAULO


Ouvir o texto

Uma ou duas vezes por semana, no finzinho da tarde, Jerry Seinfeld deixa seu escritório em Manhattan, onde passa suas tardes escrevendo, e não vai para a casa ficar com a família. Em vez disso, aparece de surpresa num pequeno clube de comédia de Nova York ou de Nova Jersey e se encaixa na programação.
Seinfeld tem avião particular e mais de 40 Porsches antigos. Ganha, por baixo, US$ 32 milhões (R$ 75 milhões) por ano, grande parte deles por direitos autorais que adicionam ainda mais dinheiro a uma fortuna avaliada em US$ 800 milhões (RS 1,9 bilhão) em 2010.


Christopher Lane/The Guardian
Jerry Seinfeld é milionário e passou uma década fazendo um programa 'sobre o nada
Jerry Seinfeld é milionário e passou uma década fazendo um programa 'sobre o nada'

Tendo passado uma década fazendo um bem-sucedido programa "sobre o nada", ele poderia facilmente não fazer nada hoje em dia. Mas ele prefere –ou se sente obrigado a– continuar burilando suas apresentações, testando uma nova tirada aqui, tirando uma palavra de um ato velho ali, e analisando o riso da plateia: um cientista da comédia, que calibra seu equipamento com um método doloroso.
Quando você ouvir uma anedota de Seinfeld nos shows que fará em junho na Arena O2, em Londres, pagando 70 libras (R$ 270), ou num talk show da TV, ela já terá passado por meses de testes, e não haverá uma sílaba desperdiçada ali.
Tipo em: "Por que creme hidratante estraga couro? As vacas não estão debaixo do sol o tempo todo?" Ou: "Ter um filho de dois anos é tipo ter um liquidificador. Sem tampa."
Por seu material nunca ser de vanguarda ou obsceno, por ele contar piadas de um jeito tão relaxado e por ele ser ridiculamente rico, é fácil desclassificar o Jerry de hoje em dia por ser muito elegante ou mainstream demais.
Mas nas suas melhores tiradas, lustradas até ficarem perfeitas, o profissionalismo extremo aparece com uma qualidade zen absurda - e isso dá trabalho. "Para um cara como eu, uma risada é cheia de informação", diz Seinfeld numa manhã de inverno numestúdio de fotos na Broadway.
Ele acaba de posar para fotos com seus ternos de grife, mas já trocou a roupa por jeans, moletom e tênis azul e verde. Sua silhueta parece afundar numa poltrona puída. "O timbre, forma e duração dela -tem muita informação numa risada. É só tocar as risadas do público no meu ato que eu sei que piada tinha feito. Porque a piada e a risada combinam."
Em abril, apesar de estar no inconsciente coletivo como um eterno quarentão, Seinfeld chega aos 60 anos, idade que ele usava em suas piadas. ("Meus pais estão se mudando para a Flórida. Eles não queriam se mudar para a Flórida, mas eles têm 60 anos, e essa é a lei.").
Ele virou o grande homem velho do stand-up, um tesouro nacional; a plateia não ri só porque ele é Seinfeld, especialmente se ele aparece de surpresa? "Talvez por uns minutos. Mas já disse muitas vezes: ninguém ri de uma reputação. Eles ficam animados no começo, mas não mentem para mim. Eles não são capazes de mentir para mim. Eu descobriria."
Anos depois do fim de "Seinfeld", em 1998 –evento só derrotado em audiência pelos encerramentos de "M*A*S*H" e "Cheers"– as pessoas se perguntavam qual seria seu próximo grande projeto. Vieram então o documentário "Comedian", de 2002, e a animação "Bee Movie", de 2007, um sucesso modesto de bilheteria, co-escrito e produzido pelo comediante, que ainda deu voz ao protagonista, uma abelha que fica irada ao saber que humanos estão roubando mel.
Mas, mesmo no período em que estava divulgando o filme, Seinfeld descartou uma carreira de produções hollywoodianas. ("Meu Deus, eu me mataria. Me dá uma arma.").
E aí veio, por poucos meses, "The Marriage Ref" (o juiz de casamento), uma combinação de jogo de auditório e reality show em que celebridades davam seus pitacos sobre vidas conjugais de pessoas não públicas.
CAFÉ COM CARONA
Hoje em dia, uma nova possibilidade está começando a se sugerir como realidade: e se o Seinfeld pós-"Seinfeld" não for um cara de grandes projetos?
Sua última criação, uma série para internet chamada "Comedians in Cars Getting Coffee", tem momentos de brilho, mas nem chega a ser um programa sobre o nada; dificilmente é um programa.
Em cada um dos episódios, cuja duração varia, Seinfeld dá carona a um colega comediante em um dos seus carros vintage (Chris Rock, Larry David, Mel Brooks e Ricky Gervais já participaram). Daí eles vão para um café ou "diner", tipo de restaurante que ficou famoso no seriado de seu sobrenome, e bebem café.
"Minha meta era fazer um talk show tranquilo, em que você não tem de se mostrar, você não tem de pensar em o que está vestindo, não tem maquiagem, não tem preparação -não tem. É, literalmente, entrar num carro. E só."
É com simplicidade parecida que ele conduz também sua vida. Diz não ter tempo para análises e professa interesse zero para entender o "zeitgeist", o espírito do tempo. Não lê trabalhos de acadêmicos que acham temas pós-modernos em suas piadas.
Até porque ele pensa em si mais como um jogador de beisebol do que como um comediante torturado por demônios internos.
"Eu me vejo mais como esportista do que como artista." O que explica sua postura ao responder se pensa em atuar em filmes. "É hilário para mim que alguém cogite que eu tenha o mínimo interesse nisso. Jogadores de beisebol não pensam 'Ah, preciso começar a jogar futebol'. Eu achei a comédia, uma carreira que satisfaz minha mente e minha força vital. Abandonar isso e ir tentar outra coisa? Não entendo isso."
Dos primeiros shows de stand-up ao estrelato, Seinfeld se forçou a trabalhar desenhando uma cruz no calendário em cima de cada dia que tinha escrito novas piadas. Em algum tempo, ele tinha feito uma corrente de cruzes, e continuou produzindo porque não queria romper esses elos.
Desde que revelou esse "segredo", o método foi vítima de culto on-line: há ao menos três aplicativos e um site para ajudar as pessoas a imitá-lo. "É uma coisa tão simples e idiota que nem vale a pena falar sobre", diz. "Sério? Tem mesmo gente que pensa 'Vouficar por aqui sem fazer absolutamente nada e o trabalho vai se fazer sozinho'?"
GARFO VERSUS SALEIRO
Ele, como bom judeu nova-iorquino, aprendeu cedo que precisaria trabalhar. Filho de imigrantes austríacos e sírios, ele cresceu na cidade de Massapequa, em Long Island, que define como "um antigo nome indígena, que significa 'perto do shopping'". A família ia à sinagoga e respeitava os preceitos kosher. O adolescente Jerome passou algum tempo em um kibutz em Israel.
Parece nunca ter cogitado outra carreira que não a comédia. Quando estava na faculdade, no Queens, conseguiu convencer professores a deixá-lo estudar stand-up -e se apresentar em vez de fazer provas-, valendo créditos acadêmicos.
Em 1988, enquanto tomava café num "diner" nova-iorquino (é claro) com Larry David, surgiu a ideia da série, então chamada de "The Seinfeld Chronicles".
O resto, é história. A não ser a parte de ele ter abandonado a cidade do seriado, Nova York, e ter ido tentar a vida em Los Angeles por uns anos."É a coisa boa de se morar em Nova York: só andar na rua já ajuda a romper [a bolha de celebridade]", ele diz. "Los Angeles? Não. Você sai da sua casa maravilhosa, pega o carro maravilhoso e vai a um lugar maravilhoso para ser bajulado. É mais difícil. Foi uma decisão consciente: quando cheguei a Los Angeles, pensei 'Se eu quiser permanecer engraçado, preciso sair daqui'." Voltou a Nova York.
Seinfeld fala de seus números de humor como se eles tivessem sido descobertos, e não criados: observações que estão ao redor, camufladas no dia a dia, esperando que ele as descobrisse. Um exemplo: outro dia, seus dois filhos estavam discutindo quem havia soltado um pum. "Eles estavam um acusando o outro - 'quem sentiu não soltou!' - e eu pensei, Jesus, esses caras precisam de piadas novas. São as mesmas coisas que eu dizia quanto tinha cinco anos. Há 50 anos! Moleques! Não acreditam que estão contando as mesmas piadas!"
Enquanto comenta a pendenga dos filhos, percebe que ela pode render um bom material. Algumas coisas têm graça na sua natureza, e outras não, ele defende, dizendo não saber o porquê. Cadeiras são intrinsecamente engraçadas. Saleiros, Seinfeld analisa, não são. Analisando o potencial de riso de outros objetos rotineiros, ele faz uma cara séria e diz: "Eu acho garfo muito engraçado".

http://www.folha.uol.com.br/

sábado, 25 de janeiro de 2014

CAMISETAS – MODO DE EXPRESSÃO

PUBLICADO EM RECORTES POR  // 25 JAN 2014

O corpo também pode ser um meio de comunicação

A camiseta é um dos itens mais democráticos do vestuário contemporâneo. Adotada tanto por homens quanto mulheres, ela consiste em um pedaço de pano, costurado em formato de T, vindo daí o seu nome original: t-shirt.
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Remonta à antiguidade a origem da camiseta - peças parecidas eram utilizadas pelos povos do Egito e Oriente Médio. No entanto, as t-shirts, tal como as conhecemos, surgiram com a Primeira Guerra Mundial. Os soldados americanos perceberam que era mais fácil se locomover com as leves camisetas, até então restritas à categoria de “roupa de baixo”, do que com os uniformes de lã grandes e pesados.
Já a popularização da peça se dá através do cinema de Hollywood. Primeiro, Marlon Brando em um Bonde chamado Desejo (1951). Depois, James Dean em Rebelde sem Causa (1955). Foi por causa desses dois galãs que muitos jovens aderiram à nova moda.
Marlon-Brando-John-Engstead-1950.jpg Marlon Brando
James-Dean12801024.jpg James Dean
Dessa forma, rapidamente o mercado foi inundado pelo produto em questão. E não demorou para que ficasse claro o grande potencial de comunicação não-verbal das camisetas. Essas foram transformadas em outdoors no qual as pessoas pagariam para anunciar, mesmo que nem dessem conta disso, logos de empresas, artistas, produtos etc.
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Matizando as relações de consumo, cabe recordar que os indivíduos não escolhem o seu vestuário roboticamente. Atualmente, a identidade de alguém é construída e reconstruída com uma grande ajuda da moda. Nesse sentido, ostentar uma marca, carregar uma frase no peito pode ser também se afirmar pertencente a um grupo social, a uma comunidade de ideias. O corpo é um espaço de poder e, é possível dizer, uma das formas mais eficientes que possuímos de nos posicionar perante os conflitos sociais.
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© obvious: http://lounge.obviousmag.org/o_grito_mudo/2014/01/camisetas-modo-de-expressao.html#ixzz2rTZD9hvl 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Confidencial






Não me perguntes,
porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.

Miguel Torga

(imagem: Norrington1)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Que me tenga como una reina


Por Coral Herrera Gómez*


La peluquería es el lugar donde más aprendo sobre el patriarcado. En la de mi barrio, las mujeres no hablamos de lo que nos importa: solo se dan consejos de belleza, trucos domésticos o culinarios, sobre noviazgos, casamientos y divorcios.

Yo querría ir a una peluquería feminista, o a una peluquería ecologista, o a una de intelectuales, pero no sé si las han inventado aún en mi ciudad. De modo que no me queda más remedio que resignarme y escuchar el patriarcado mientras lo sufro en mis carnes como una tortura. Y pago yo, encima.

Siempre me digo que nunca más, y siempre vuelvo porque no se me da bien autotorturarme con la cera y he de reconocer que es un espacio maravilloso como fuente de inspiración. Suelo salir de allí con menos canas, menos pelos, menos esperanza en la Humanidad y con ideas nuevas para mis artículos.

De todas las cosas espantosas que escucho, la peor es: "yo quiero un marido con plata". Y es que piden poco mis compañeras de barrio: un marido con dinero que además sea joven y guapo, tierno y sensible a la vez que viril y fuerte, inteligente, divertido, fiel, sincero, comprometido, estable…



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Mi peluquera dice siempre: "Los príncipes azules sí existen, pero se aman entre ellos". Y todas reímos. Sin embargo, la realidad es que muchas se frustran porque no encuentran a su media naranja. Por eso hablamos tanto en la pelu de los problemas que nos causa el mito del príncipe azul que te tiene como una reina.

De niñas no nos cuentan cuentos en los que las mujeres toman las riendas de su vida, estudian y se buscan un trabajo. En los cuentos que nos cuentan, el mensaje es que para que las cosas cambien tienes que esperar a que te rescaten. Y nos ponen de ejemplo a La Bella Durmiente, que tuvo que estar cien años en stand byhasta que llegó su amado príncipe azul a conectarla otra vez. O Blancanieves y Cenicienta, que estaban hartas de limpiar para toda la familia.



Getty.

Sus historias nos enseñan que los príncipes azules te llevan a un palacio con criados y criadas, y te dan su tarjetero para que compres todo lo que necesitas para ser feliz. La única condición para obtener la ansiada 'visa oro' es que seas bella y discreta, como las princesas Disney o las esposas de los futbolistas multimillonarios. Todas ellas mujeres bellas que han logrado fama y poder a través del amor.

Este deseo de encontrar "un marido con plata" no conoce de edad ni de clase social: lo he escuchado también en grupos de mujeres que se consideran feministas. Y me parece en extremo peligrosa, aunque todas riamos porque suena muy normal que las mujeres necesitemos un proveedor de recursos que aminore nuestra vulnerabilidad económica (las mujeres apenas somos propietarias de la tierra y de los bienes, cobramos menos, sufrimos más el desempleo, etcétera).

De ahí que rivalicemos entre nosotras y dependamos de ellos, económica y emocionalmente.

Esta dependencia crónica nos colocó hace siglos en una situación de subordinación que nos hace a todos profundamente infelices: a ellos, porque se sienten utilizados; a nosotras, porque la necesidad de tener pareja limita nuestra libertad.

Si unos necesitan una criada doméstica y otras necesitan un proveedor de recursos es porque seguimos inmersos en un sistema económico desigual en el que unos tienen los recursos y las otras, no. Por eso construimos relaciones de dependencia mutua y por eso en las parejas se desatan terribles luchas de poder.

A ellos les han contado que pueden comprar o alquilar mujeres, y a nosotras nos han contado que si un hombre nos ama de verdad nos tendrá como a una reinay nos concederá todos los caprichos a cambio de vivir encerradas en el palacio. Así no es posible quererse bien, pienso yo mientras me arrancan los pelos con cera hirviendo.

Siempre me dan ganas de decir en voz alta: "Chicas, la realidad es que nos juntamos a hombres corrientes y molientes que sufren la precariedad igual que nosotras. No nacimos princesas, y son muy pocos los príncipes herederos. Y además, la mayor parte de los multimillonarios de este planeta son viejos y panzones". Pero cuando se pierden en ensoñaciones romántico-capitalistas no me atrevo a aguarles la fiesta.



Getty.

Los hombres nos maldicen en sus operas, boleros y soleás, pero desde pequeñitas se nos educa para que deseemos un marido con plata. El estereotipo de las mujeres como seres interesados que nos aprovechamos de los hombres y les rompemos el corazón ha dado muchos frutos en la poesía y el cine, pero nos perjudica porque refuerza el estereotipo de la mujer mala, de la puta. Paralelamente, nos bombardean con la utopía del amor para que deseemos ser buenas esposas, entregadas a la causa. Pero invisibilizan el coste que tiene ser mantenida por un príncipe azul mientras se engorda y se envejece a su lado.

Para que las mujeres disfruten de la vida con sus compañeros en lugar de frustrarse anhelando "maridos con plata", creo que es esencial acabar con la desigualdad de género en todos los ámbitos. El camino, creo, es ir trazando estrategias conjuntas para crear economías solidarias en las que poder construir relaciones amorosas basadas en el bien común.

Tenemos que reflexionar colectivamente por qué seguimos soñando con príncipes, por qué queremos ser las reinas, y por qué creemos que nos salvaremos a través del amor. Nuestro sistema amoroso perjudica seriamente la igualdad, y nuestro sistema económico perjudica seriamente el amor: tenemos que replantearnos cómo queremos querernos y cómo vamos a organizarnos para evitar las dependencias mutuas. A ver si entre todos y todas se nos ocurren formas más bonitas de estar juntos.



(*) Escritora y comunicadora española residente en Costa Rica. Doctora en Humanidades y Comunicación Audiovisual, con énfasis en Teoría de Género. Bloguera queer, su sitio es El rincón de Haika.

http://blogs.elpais.com/eros/2014/01/nos-gusta-que-nos-traten-como-reinas.html#more

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Poesía de: Juan Gelman



Mi Buenos Aires querido
Sentado al borde de una silla desfondada,
mareado, enfermo, casi vivo,
escribo versos previamente llorados
por la ciudad donde nací.
Hay que atraparlos, también aquí
nacieron hijos dulces míos
que entre tanto castigo te endulzan bellamente.
Hay que aprender a resistir.
Ni a irse ni a quedarse,
a resistir,
aunque es seguro
que habrá más penas y olvido.

Opiniones
Un hombre deseaba violentamente a una mujer,
a unas cuantas personas no les parecía bien,
un hombre deseaba locamente volar,
a unas cuantas personas les parecía mal,
un hombre deseaba ardientemente la Revolución
y contra la opinión de la gendarmería
trepó sobre muros secos de lo debido,
abrió el pecho y sacándose
los alrededores de su corazón,
agitaba violentamente a una mujer,
volaba locamente por el techo del mundo
y los pueblos ardían, las banderas.
de "Gotán"


Hechos
mientras el dictador o burócrata de turno hablaba
en defensa del desorden constituido del régimen
él tomó un endecasílabo o verso nacido del encuentro
entre una piedra y un fulgor de otoño
afuera seguía la lucha de clases/el
capitalismo brutal/el duro trabajo/la estupidez/
la represión/la muerte/las sirenas policiales cortando
la noche/él tomó el endecasílabo y
con mano hábil lo abrió en dos cargando
de un lado más belleza y más
belleza del otro/cerró el endecasílabo/puso
el dedo en la palabra inicial/apretó
la palabra inicial apuntando al dictador o burócrata
salió el endecasílabo/siguió el discurso/siguió
la lucha de clases/el
capitalismo brutal/el duro trabajo/la estupidez/la represión/
[la muerte/las sirenas policiales cortando la noche
este hecho explica que ningún endecasílabo derribó hasta
[ahora
a ningún dictador o burócrata aunque
sea un pequeño dictador o un pequeño burócrata/y también
[explica que
un verso puede nacer del encuentro entre una piedra y un fulgor
[de otoño o
del encuentro entre la lluvia y un barco y de
otros encuentros que nadie sabría predecir/o sea
los nacimientos/ casamientos/ los
disparos de la belleza incesante
de "Hechos", 1978

Nota I
te nombraré veces y veces.
me acostaré con vos noche y día.
noches y días con vos.
me ensuciaré cogiendo con tu sombra.
te mostraré mi rabioso corazón.
te pisaré loco de furia.
te mataré los pedacitos.
te mataré una con paco.
otro lo mato con rodolfo.
con haroldo te mato un pedacito más.
te mataré con mi hijo en la rnano.
y con el hijo de mi hijo/ muertito.
voy a venir con diana y te mataré.
voy a venir con jote y te mataré.
te voy a matar/derrota.
nunca me faltará un rostro amado para matarte otra vez.
vivo o muerto/un rostro amado.
hasta que mueras/
dolida como estás/ya lo sé.
te voy a matar/yo
te voy a matar. 

Nota II
ya que moría mañana
me moriré anteanoche/
con un cuchillito fino
voy a cavar el 76
para limpiarle las raíces a paco
las hojitas a paco
clavado al suelo como una mula rota
gente que me quería ayudar/
después le toca al 77
para encontrar los ojos de rodolfo
como cielos terrestres
fríos fríos fríos
diseminados por ahí/
mirada vacía ahora
va a haber que trabajar
limpiar huesitos/que no hagan
negocio con la sombra
desapareciendo/ dejándose ir
a la tierra ponida sobre
los huesitos del corazón/
compañeros denme valor/
la sombra vuela alrededor
como un objeto en mi pieza/
ni remedio que la pueda parar/
ni corazón ni nada/
ni la palabra nada/
ni la palabra corazón/
pañeros/compañeros.


Si Dulcemente
si dulcemente por tu cabeza pasaban las olas
del que se tiró al mar/ ¿qué pasa con los hermanitos
que entierraron?/¿hojitas les crecen de los dedos?/¿arbolitos/
[otoños
que los deshojan como mudos?/en silencio
los hermanitos hablan de la vez
que estuvieron a dostres dedos de la muerte/sonrien
recordando/aquel alivio sienten todavía
como si no hubieran morido/como si
paco brillara y rodolfo mirase
toda la olvidadera que solía arrastrar
colgándole del hombro/o haroldo hurgando su amargura
[(siempre)
sacase el as de espadas/puso su boca contra el viento/
aspiró vida/vidas/con sus ojos miró la terrible/
pero ahora están hablando de cuando
operaron con suerte/nadie mató/nadie fue muerto/el enemigo
fue burlado y un poco de la humillación general
se rescató/con corajes/con sueños/tendidos
en todo eso los compañeros/mudos/
deshuesándose en la noche de enero/
quietos por fin/solísimos/ sin besos


Ofelia

" Esta ofelia no es la prisionera de su propia voluntad
ella sigue a su cuerpo
espléndido como un golpe de vino en medio de los hombres
su cuerpo estilo renacimiento lleno de sol de Italia pasa por buenos aires
ofelia yo en tus pechos fundaría ciudades y ciudades de besos
hermosas libres con su sombra a repartir con los amantes mundiales
ofelia por tus pechos pasa como un temblor de caballadas a medianoche por Florencia
tus pechos altos duros come il palazzo vecchio
una tarde de verano de 1957
iba yo rodeado de tus pechos sin saberlo
era igual la delicia la turbación el miedo
las sombras empezaban a andar por las callejas con un olor desconocido
algo como tus pechos después de haber amado
eras oscura ofelia para entonces y enormemente triste
una adivinación una catástrofe
un oleaje de olvido después de la ternura
una especie de culpa sin castigo
de furia en paz con su gran guerra
andabas por Florencia con tus pechos yendo y viniendo por las sombras
con saudade de mí seguramente
tu hombro izquierdo digamos
lloraba a tus espaldas o largaba sus ansias lentas en el crepúsculo y ellas venían a mi sangre
o eran un temblor como un presagio
gracias te sean dadas ojos míos
yo les beso las manos bésoles muy los pies
gracias narices muchas gracias oídos con que escucho los ruidos
de la ofelia
antes apenas era una ciudad de Italia
sus tiros me llenaban de otra desgracia el corazón. "

Ruiseñores de nuevo 
" En el gran cielo de la poesía,
mejor dicho
en la tierra o mundo de la poesía que incluye cielos
astros
dioses
mortales
está cantando el ruiseñor de Keats
siempre
pasa Rimbaud empuñando sus 17 años como la llama de amor viva de San Juan
a la teresa se le dobla el dolor y su caballo triza el polvo enamorado Francisco de Quevedo y Villegas
el dulce Garcilaso arde en los infiernos de John Donne
de César Vallejo caen caminos para que los pies de la poesía caminen
pies que pisan callados como un burrito andino
Baudelaire baja un albatros de su reino celeste
con el frac del albatros Mallarméva a la fiesta de la nada posible
suena el violín de Verlaine en la fiesta de la nada posible
recuerda que la sangre es posible en medio de la nada
que Girondo liublimará perrinunca lamora
y girarán los barquitos de tuñón contra el metal de espanto que abusó a Apollinaire
oh Lou que desamaste la eternidad de viaje
el palacio del exceso donde entró la sabiduría de Blake
el paco urondo que forraba en lamé la felicidad para evitarle fríos de la época
mientras Roque Dalton trepaba por el palo mayor de su alma y gritaba. "

La economía es una ciencia 
" En el decenio que siguió a la crisis
se notó la declinación del coeficiente de ternura
en todos los países considerados
o sea
tu país
mí país
los países que crecían entre tu alma y mi alma de repente
duraban un instante y antes de irse
o desaparecer
dejaban caer sábanas llenas de nuestros sexos que salían volando alrededor como perdices
quiere decir que cada vez que hicimos el amor dejábamos nuestros sexos allí?
y ellos seguían vivitos y coleando como perdices suavísimas?
qué raro
mirá que lavábamos las sábanas con subordinación y valor
para que los jugos de la noche pasada no inauguraran el pasado
y ningún pasado pusiera una oficina entre nosotros para ordenarnos el hoy
porque el alma amorosa es desordenada y perfecta
tiene mucha limpieza y lindura
se necesita todo un Dios para encerrarla
como le pasó a don francisco
que así pudo cruzar la agua fría de la muerte
es bien raro eso de nuestros sexos volando
pero recuerdo ahora que cada vez que yo entraba en tu sexo
y me bañaban tus espumas purísimas con impaciencia
y dulzura y valor
me parecía oir un pajarerío en el bosque de vos
como amor encendiendo otro amor
o más, es cierto que cada vez nuestros sexos resucitaban
y se ponían a dar vueltas entre ellos
como maripositas encandiladas por el fuego
y se querían morir de nuevo buscando incesantemente la libertad
y había un país entre la vida y la muerte
donde todo era consolación y hermosura
y no poseíamos nuestro corazón
y nuestros sexos se perdían como almas en la noche
y nunca más los volvíamos a ver
para entender
estudio los índices de la tasa de inversióún bruta
los índices de la productividad marginal de las inversiones
los índices de crecimiento del producto amoroso
otros índices que es aburrido hablar aquí
y no entiendo nada
la economía es bien curiosa
al pequeño ahorrista del alma lo engañan en wall street
los sueldos de la ternura son bajos
subsiste la injusticia en el mercado mundial del amor
el aprendiz está rodeado de nubes que parecen elefantes
eso no le da dicha ni desdicha
en medio de las razones
las redenciones
las resurrecciones
se lleva el alma a la nariz para sentir tus perjúmenes
estoy viendo volar los pajaritos que te salían del sexo
mejor dicho
de más allá todavía
de todo lo que valías
o brillabas
o eras
y dabas como jugos de la noche."
  

sábado, 11 de janeiro de 2014

D.R. no avião

 e outras turbulências do amor



sylvia-kristel
Por terra, mar ou ar, uma discussão de relação, a mitológica D.R., é capaz de catástrofes nada naturais.
Por temer o pior, um piloto da Azul resolveu fazer um pouso não programado hoje em Salvador.Leia aqui. Melhor não arriscar. O barraco aéreo chacoalhou geral o ambiente.
Apertem os cintos, pombinhos, que a sensatez sumiu de vez.
“Love is in the air” um cacete, caríssimo Paul Young.
Amor que é amor costuma não acabar de forma civilizada. Viver não é céu de brigadeiro. Não custa, porém, esperar a aterrissagem, não acha?.
Esse casal deve ter mais hora de discussão do que urubu de voo. A parelha acaba de criar a “D.R. caixa preta”. Felizmente a tragédia aérea foi evitada, os segredos desse barraco, porém, jamais saberemos ao certo.
No que relembro, velho cronista de costumes, outros tipos de D.Rs. já catalogados por este blog. Sim, são D.Rs. metidas a besta, D.Rs pequeno-burguesas, D.Rs. “intelectuais”:
D.R. constitucionalista – aquela em que o canalha, como a corja de corruptos nos tribunais, se apega ao direito constitucional de ficar calado para não se complicar ainda mais.
D.R. Sartreana – Tem culpa eu? Neca. Aqui o inferno são sempre os outros.
D.R.Kerouac – A mulher começa a falar e o cara já pega a estrada como um bom beatnick.
D.R. Marcel Proust – Uma simples conversa sobre um bolinho vira seis grossos volumes.
D.R. Kurosawa – Uma discussão lenta, imagens lindas, arrozais sob montanhas, silêncios que falam coisas, uma peleja quase em ideogramas. Pense!
D.R. MPB -  Indecifrável e incompreensível como o “zum de besouro ímã” do verso do Djavan. Muita onomatopéia e nem uma idéia os males da D.R. são. É uma D.R. assim “nem menina nem mulher, lilás”, como no enigma de uma canción de Zé Ramalho.
D.R. Erística _ Como na corrente homônima herdada dos gregos, a arte de triunfar no barraco oral mesmo sem ter razão.
D.R. punk-rock _ Três acordes e vai cada um pro seu lado, dormir na casa da mãe, de um(a) amigo (a), hotel, flat, amante, homeless…
D.R. Paulo Coelho _ Depois de “Onze minutos” de sexo, o barraco sempre começa com uma parábola bíblica ou uma lenda árabe.
D.R. Bartleby _   “Prefiro não discutir”, diz uma das partes, repetindo o mantra do escriturário do livro homônimo de Melville.
 D.R. free-style _ É a discussão rimada, estilo rap, passionais MC´s:  “Assim você me afunda/ com esse pé-na-bunda/ com essa insensatez…/ meu barquinho já naufraga/bossa nova é uma praga/veja só que a vida fez!”
D.R. brechtiana _ A arte de enfrentar o público, seja num botequim seja numa festa, com o distanciamento do personagem, como se dissessem do palco, a cada golpe, “não é nada disso que vocês estão pensando, controlem-se”.
D.R. Abaporu ou D.R. arte moderna _ Típica discussão sem pé nem cabeça, que para nenhum dos dois interessa.
D.R. metalingüística _ A D.R. da D.R., tipo roteiro de Kauffman (“Adaptação”, o filme), exercício das cabeças requentadas ou das mentes ressentidas.
D.R. grega –Segue um mantra do poeta Eduardo Cac: “Para curar um amor platônico, só uma trepada homérica”.

Na terra, no mar ou nos ares, faça como a gostosa da Emanuelle (Sylvia Kristel, na foto), faça amor, não faça D.R.

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/

Corsário - João Bosco e Djavan




Corsário

De: João Bosco - Aldir Blanc


Meu coração tropical está coberto de neve, mas

Ferve em seu cofre gelado

E à voz vibra e a mão escreve mar

Bendita lâmina grave que fere a parede e traz

As febres loucas e breves

Que mancham o silêncio e o cais

Roserais, Nova Granada de Espanha

Por você, eu, teu corsário preso

Vou partir a geleira azul da solidão

E buscar a mão do mar

Me arrastar até o mar, procurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas

Mensagens por todo o mar

Meu coração tropical partirá esse gelo e irá

Com as garrafas de náufragos

E as rosas partindo o ar

Nova Granada de Espanha

E as rosas partindo o ar

Iela, iela, iela, iela la la la

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Luxos de verão

10/01/2014



ruy castro




RIO DE JANEIRO - Para fascínio do noticiário, o Rio está passando por temperaturas de 40 graus, com "sensação térmica" de 50. "Sensação térmica" é qualquer coisa 10 graus acima dos termômetros de rua, os quais marcam, cada um, uma temperatura diferente. Enquanto isso, Nova York está a 15 graus abaixo de zero, com "sensação térmica" de 25 abaixo, ideal para trincar narizes e orelhas. O frio de Nova York é multiplicado pelo vento, que varre as ruas, dobra esquinas e penetra pelas fechaduras.

Em janeiro de 1974, conheci o pior dos dois mundos. Saí do antigo Galeão, onde a temperatura devia estar beirando os 50 graus, e, dez horas depois, desembarquei em Nova York a 10 abaixo de zero –uma diferença de 60 graus. E, como bom brasileiro, protegido por um casaco, suéter e cachecol, tudo da Ducal, ou seja, nu. Aprendi a diferença: no extremo calor, a sensação é a de estar morrendo aos poucos; no extremo frio, é a de já estar morto.

Mas ninguém morre de calor no Rio. Para quem pode se dar ao luxo, há as praias (inclusive à noite), a brisa do mar, o ar das montanhas e florestas e os vários parques públicos, além de bairros excepcionalmente frescos, como o Alto da Boa Vista, o Horto, as Paineiras. Nestas, por sinal, toma-se banho de cachoeira –a 10 minutos de carro de Ipanema. E, para quem não pode dar-se ao luxo, resta o ar-condicionado dos escritórios, lojas, táxis e residências. Os aparelhos estão por toda parte.

Bem ou mal, somos equipados para o calor. Ao contrário de Paris, onde, em julho e agosto, idosos morrem sozinhos, às dezenas, em seus cubículos fechados, asfixiados por roupas de lã, desidratados e sem atendimento, porque os médicos saem em massa da cidade.

E, como se não bastasse, no Rio, este ano, estamos assistindo à volta do leque, nas mãos de lindas mulheres nas sorveterias.




Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Pedro Mariano solta a voz...


ALMA DE POETA

‘Ano Comum’

Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.

Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.

Joaquim Pessoa, in ‘Ano Comum’



“Tenho sede quando te beijo. Quando não te beijo tenho sede.”







Amei Demais. Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'



Acaso - Cesar Camargo Mariano & Pedro Mariano -


sábado, 4 de janeiro de 2014

Um novo ano



Ano Novo

(Fernando Pessoa)




Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa: tudo continua.


Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.

(fragmento de "Começa Hoje o Ano", 01/01/1923