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quinta-feira, 3 de abril de 2014

In my life, canção dos Beatles




Tem lugares que eu me lembro, toda vida...começa assim uma das canções mais bonitas dos BeatlesIn my life,  do Lp Rubber Soul (1965), disco em que o grupo atinge o seu auge como banda.
Depois, viriam o Revolver e o Sgt. Pepper, em que o talento dos compositores continuou a toda, mas a experimentação de outras sonoridades – com orquestra, instrumentos hindus, naipes de metais, sons eletrônicos etc, – a chamada fase psicodélica, faria John Lennon dizer que, na maioria das vezes, durante as sessões de gravação, era Paul no piano, mais Ringo eoverdubs (que é como se chamam, no jargão, os acréscimos à base musical); e o próprio Ringo comentar que aprendeu a jogar xadrez nas sessões do Pepper, pois, após as gravações da base – quando a bateria era gravada – os outros Beatles passavam o tempo nos acréscimos sonoros.
Ou seja, o som básico e orgânico de uma banda com duas guitarras, mais baixo e bateria, bastando pra dar o recado, ficara pra trás, como ficaram para trás as apresentações ao vivo. Os Beatles seriam, a partir de 1967, uma banda de estúdio, onde realizaram – se não o seu melhor -  o que fez o rock deixar de ser considerado apenas entretenimento para se alçar à categoria de obra de arte. Dionisíaco se rendendo ao apolíneo? O rock ficando adulto, perdendo a inocência edênica? Rubber Soul é o disco que marca essa transição, ainda não consolidada.
In my life também é uma das duas canções – a outra é Eleanor Rigby - em que Lennon e McCartney discordaram sobre quem compõs o que: segundo Paul, em depoimento na sua biografia autorizada – anos após a morte do parceiro  – a melodia de In my life  é toda dele, com partes da letra. Segundo John, ele iniciou a canção com letra e música, e Paul ajudou com a melodia da parte B.
Como era comum – mas não a regra – nas gravações dos Beatles, a voz principal da faixa era feita pelo compositor majoritário, e é Lennon quem cumpre esse papel, tendo ele declarado que essa era uma de suas canções que ele gostava. Como Lennon está morto, fica difícil resolver a questão, na verdade, irrelevante. A canção existe como algo uno, indivisível, partes harmonicamente combinadas. Perguntar sobre a participação de cada parceiro na composição apenas tenta responder à nossa curiosidade.
A gravação de In my life é uma síntese do que se constituía a mágica dos Beatles, como eles adequavam a canção ao arranjo e às técnicas de gravação (na faixa, além dos Beatles em seus instrumentos, tem um solo de piano tocado devagar, mas com a rotação alterada, feito por George Martin, produtor dos discos da banda)sem que a instrumentação se sobrepusesse à força da canção. Esta tem fluidez e simplicidade, adequada a um comentário denso/afetivo sobre a vida de um indivíduo e suas relações.
Depois de I'm a loser, do Beatles for sale(1964), Help  You've got to hide your love away (ambas de 1965), a canção dá seguimento ao Lennon confessional, que disse não gostar das próprias canções de amor adolescente, feitas para atender à demanda dos Beatles, mesmo que músicas como I'll cry instead  I don't want to spoil the party, ambas de 1964, sejam a cara dele, atormentadas e tocantes. Na sua carreira solo, John iria deixar de lado as canções "encomendadas", para falar de si.
In my life pode ser lida também como uma canção sobre a maturidade, ou o que esta significava para John Lennon: ao encontrar Yoko, ele dizia ter deixado a turma de amigos pra se dedicar à esposa, mesmo "sem perder a afeição pelos amigos e coisas que passaram".
Nesse sentido, a letra é curiosamente profética: faz um balanço do passado – com alguma melancolia – louvando os lugares, amizades e amores, mas entra na segunda parte cantando o primado do amor "arrasa-quarteirão", que seria o envolvimento de Lennon e Yoko, não ocorrido à época da canção, pois eles ainda nem se conheciam.
Em uma tradução livre:
mas de todos os amores e amigos
mais nenhum a ti agora se compara
quando penso no amor novo, paixão rara
as memórias quase perdem o sentido.
No final, Lennon canta:
Em minha vida, eu vou te amar mais.
Como disse Geoffrey Strokes, o irônico é que o amor entre um casal – que os Beatles mais cantaram em suas canções – tenha sido determinante para o fim do grupo.
In my life  é também a canção que abre a sérieBeatles Anthology, com um vídeo remetendo, significativamente, à memória.
No mais, é tempo de caquis. 

https://www.youtube.com/watch?v=cgB3qf4bjac
https://www.youtube.com/watch?v=3BT-93fvrFc

http://terramagazine.terra.com.br/jequietcong/blog/2014/03/27/in-my-life-cancao-dos-beatles/

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