POR XICO SÁ05/04/14 21:34
Meu personagem de José Wilker preferido é o Vadinho, um dos melhores canalhas da literatura brasileira.
Óbvio que Roque Santeiro da novela e o Tenório Cavalcanti do filme “O homem da capa preta” também são inesquecíveis. Isso até a Lurdinha sabe.
Menino do Cariri (Juazeiro), JW fez-se grande ator no Recife/Olinda, daí para a glória em terras cariocas.
Apesar de chatear a gente, parece menos bruta, parece mais suave a morte dormida. Parece que nem é obra da traiçoeira Velha da Foice.
Vadinho não teve essa sorte. Se bem que estava tão bêbado –Jorge Amado é o escritor com o maior número de personagens bêbados do mundo, ganha até dos russos nesse quesito.
Estava tão bêbado o canalha -um legítimo macho-jurubeba, um verdadeiro pau-d´água- que talvez tenha morrido feliz. Os bêbados morrem sonhando com bares celestiais ou drinques no inferno.
No meio do mulherio, em pleno domingo de Carnaval na cidade da Bahia, nem a morte conseguiu apagar, como narra Jorge, o sorriso de folião definitivo que ele fora.
É, amigo, tem homem que nasce para Vadinho e tem homem que nasce para Teodoro.
O primeiro não presta, mas derrete o coração das mulheres com a sua canalhice; o segundo é um sujeito virtuoso, direito, o objeto de desejo de uma fêmea quando está sofrendo, no dia-a-dia do lar, com um macho desmantelado.
Eles se completam nas suas oposições de espírito. Os Vadinhos jogam, bebem e são raparigueiros, piolhos de cabarés, só voltam para casa quando fecha a última barraca do mercado do Peixe, para ficarmos na geografia soteropolitana.
Os Teodoros não deixam faltar nada em casa, homens corretos, responsáveis, cumpridor dos seus deveres.
Como de besta não tinha nada, Dona Flor, por força da quentura do corpo e de alguma espiritualidade, conseguiu o milagre de viver com os dois maridos ao mesmo tempo, o cabra safado e o virtuoso.
Morena gulosa. Mas fez por merecer em vida o banquete, a moqueca de machos fervida no óleo da testosterona.
Fora dos livros e do cinema, pode ser que o esquema não funcione a contento. Mas não custa tentar, evoluída leitora!
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