Foi bonita a festa, pá. O tapete multicolorido em que se transformou minha TL do feicebuque ontem. Um a um, meus amigos iam ficando cobertos pelo arco-íris. E eu me alegrava, “curtia” até ficar com o dedo doendo, sorria e, ocasionalmente, ficava com os olhos cheios de lágrimas.
Voltava aos meus afazeres e, quando ia lá de novo, mais uma ruma de amigos tinha se transformado e entrado debaixo do arco-íris.
Celebrando. Celebrando o quê? Celebrando o fato de que uma pá de gente no mundo passou a ter seus direitos garantidos, num país pro qual todo mundo olha, que exporta seus jeitos e suas modas pro mundo todo, ou pelo menos pra boa parte do mundo.
Celebrando a solidariedade, o fato de que gente é pra brilhar, celebrando a alegria do outro, a festa do outro, comemorando junto com o outro, junto com a outra.
Dia do Orgulho Alheio, disse a Lena, e eu pego emprestado: orgulho e alegria dos amigos que não precisam ser gays para saber que isso muda a vida, a deles, a nossa que passamos a viver num mundo melhor e mais justo.
Casamento? É besteira, você diz? Intromissão do Estado nas relações privadas? Tinha que acabar, é? Ué, mas quem está discutindo casamento? A gente tá celebrando é a conquista do direito. Pra que os gays, as sapatas também possam dizer que é besteira, que não querem casar. Não querem, mas podem. Ou querem, e também podem.
Well done, tio Zucka. O arco-íris foi bem sacado que só.
E quando a gente celebra e faz festa junto por mais um direito adquirido, que já existia aqui, mas não lá, quando os juízes da Suprema Corte lá garantem o direito porque reconhecem que é um direito constitucional, isso muda coisas. Não é mera burocracia. Não é a mera permissão para os estados de celebrar o casamento gay: é a obrigação, visto que é direito constitucional, e o embasamento é a 14ª emenda, que fala da igualdade de todos os cidadãos diante da lei. Entendeu-se, pois – em votação apertada, 5 a 4 – que isso abrange o direito dos cidadãos de casar. A discussão toda faz diferença, do ponto de vista dos direitos. E vai bem além dos Estados Unidos.
Abraços, risos, lágrimas: foi dia de festa, em meio a tantas dores de todo dia. E meu coração se alegra com os amigos e amigas de cujos sofrimentos sei tão pouco, de que só ouço ecos: o de sair do armário (ou não), o de contar para os pais, para os irmãos, para a família toda, o de ser apontado como “aquele ou aquela que….” . E é tão lindo e tão raro quando a reação é “eu quero que minha filha seja feliz” e ponto. Tantas vezes é dor, é incompreensão, é um “não criei filho meu para…”, é choro e ranger de dentes, apenas porque o desejo da gente é o que é e a gente não tem controle disso. Não sei dessa dor que deve ser você ser motivo de tristeza para seus pais, simplesmente por ser quem é. A dor de escolher não contar, por ser mais fácil, para não confrontar. O dia-a-dia de quem assume, o dia-a-dia de quem disfarça: dores que não conheço, eu, cis e hétero.
Então quando tem um dia assim, em que a linha do tempo do fêice se transforma em tapete multicolorido, meus olhos se enchem de lágrimas e, sem achar que a revolução foi feita, permito-me acreditar que um passo foi dado na direção certa. A da gente juntos. A da gente gente. Em direção ao dia em que isso não será mais questão nem motivo de sofrimento: Ana namora Luciana, Claudio namora Ricardo, Mariana namora Paulo, Fábia namora Stella. Mônica namora Max. Fabi namora Rita. Dodô namora todo mundo, claro. E a gente vai dançar ciranda, todo mundo junto, rodar até perder o fôlego e cair na areia da praia.
http://biscatesocialclub.com.br/2015/06/uma-onda-colorida/
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