Postado em 22-11-2011 no blog http://bahiaempauta.com.br/
Aninha Franco: “nenos lambuzada”
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CRÔNICA/ MAPA
Bahia com menos dendê
Aninha Franco
A Geração Mapa (anos 1930), sucessora da Geração Baianidade (anos 1910), que mapeou a Bahia popular nos livros de Amado, na música de Caymmi e nos desenhos de Carybé; nasceu menos lambuzada de dendê e menos pop que a Geração Tropicalista (anos 1940) dos Velloso, de Capinan, de Tom Zé e Rogério Duarte, mas capaz das criações extraordinárias de Fernando Péres, Florisvaldo Mattos e Joca. Dela, Glauber Rocha é o farol no Brasil e no mundo. Em lugares culturalmente remotos do Brasil, como Marrocos, nos anos 1990, o Povo apreciava jogadores de futebol e os intelectuais curtiam Glauber.
Quando Ivana Bentes lançou as Cartas ao Mundo com a correspondência de Glauber, coladas à biografia Esse Vulcão, de João Carlos Teixeira Gomes, Joca advertiu que o pensamento de Glauber se insere na linha dos explicadores do Brasil, de Euclides da Cunha, Gilberto Freyre. Que Glauber pensava o cinema como guerrilha cultural, capaz de criar um território e uma rede de trocas culturais, novos mitos, novas formas de resistência e criação estética, onde ficasse visível nossa diferença e originalidade como civilização. Que era hora de olhar menos para o Glauber folclórico, delirante, e enxergar sua originalidade, lucidez e a consistência do seu pensamento, o que só pode ser feito por uma Bahia menos idiotizada que essa.
Se vocês me perguntarem se outra biografia sobre Glauber Rocha é oportuna, eu digo que sim, porque sua vida, riquíssima, o mais atraente cineasta brasileiro de todos os tempos, ainda hoje, é desconhecida do Brasil, e escrita por Nelson Motta, homem pop, pode popularizá-la, o que as obras de Joca e Bentes não podem. Quando eu pesquisei o Teatro na Bahia, na Biblioteca dos Barris, nos anos 1980, Motta também estava lá, desconfio que pesquisando Glauber, ambos lutando contra os maus gestores e as baratas, como de hábito, para proteger a memória do Brasil. Mas uma biografia pop, ou qualquer outra coisa que se faça sobre o pensador-cineasta Glauber Rocha, precisa ser avalizada pela Geração Mapa, à qual eu, minha geração, do AI-5 (anos 1950), a Bahia e o Brasil devem respeito e deferência.
Aninha Franco é autora teatral e pesquisadora baiana. O texto sobre a Geração Mapa foi publicada originalmente na revista MUITO, encarte da edição dominical de A Tarde.
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