Jolivaldo Freitas
Quase esqueço que a Primavera chegou. A culpa do meu esquecimento é da própria Mãe Natureza que já não avisa, como avisava em priscas eras. Ela, como a maioria das mães, está muito mudada. A Mãe Natureza anda meio relapsa, talvez cansada de guerra ou apanhar tanto sem ter uma Lei Maria da Penha para punir os seus agressores. Tanto que ela deixa a data quase que passar a data em branco. Quando a Primavera chegava era uma alegria. Seus sinais eram claros. Nas escolas participávamos de peças com roteiro que contemplava as flores, o sol e o arco-iris. Lembro até de um trecho de uma musiquinha que me fizeram cantar, ainda menino, no Colégio Luiz Tarquínio. Era mais ou menos assim: "Somos as flores/Mais perfumadas...Do jardim da infância". Nem lembro do início, nem do meio e só do final. E lá estava eu vestido como pé de planta. Tudo valia em homenagem à chegada da Primavera. Eram feirinhas, peças, festivais, gincanas e o abraço de Marana, uma coleguinh a somente acessível nas festinhas. Até hoje a Primavera me remete aos seus braços. Será que ela lembra de mim? Que nada. Já não sabia mesmo quem eu era naqueles tempos. Ainda mais depois de tantas Primaveras. Tínhamos apenas meia dúzia. A Primavera dava seus ares com as plantas em pleno cio, fazendo surgir as mais lindas e coloridas flores: lírios, flor-do-campo, dálias, Sorriso-de-Maria, rosas, rosas meninas, cravos-de-defunto, boninas, girassóis, margaridas, amarillis, antúrios, boca-de-leão, copos-de-leite, gardênias, jacintos, tulipas e sem falar nas graxeiras de todas as cores, tons e semitons. Era a natureza esperando a cópula das abelhas, colibris e corrupixeis. Os pássaros pareciam terem se multiplicado e seus trinos mais altos e alegres. O verde exuberante da copa das árvores contrastando já com o azul do céu de poucas nuvens e quase chuva nenhuma. Algumas árvores frutíferas, como o jambeiro ou uma teimosa mangueira que dominavam o pomar de uma mansão à beira-mar na Boa Viagem, decidiam sempre sair na frente e já apresentavam seus frutos devezes que nossa avidez de criança comia assim mesmo e amargava dores na barriga no meio da noite para tirar o sono dos avós e dos pais. Estamos quase uma semana em plena Primavera e ainda não vi a profusão de flores, embora olhe todos os cantos, jardins e avenidas. Embora os jornais tenham anunciado. Mesmo na minha varanda as flores estão tímidas, escondidas. Frô Maria e Craudio, o casal de gaviões que todas as manhãs sobrevoava o mar e vinha pousar na antena de TV no prédio defronte, fazendo revoada de bem-te-vis e canários-da-terra tiveram dois filhotes antes da Primavera. Eles – Anita e Duda – aprenderam a bater asas e todos desapareceram. Por sorte vieram para alegrar a Primavera um Sabiá e uma Garrincha estridente que se aproveitam do mamão e da água colocadas na varanda. A Primavera está muito estranha, sem cor. A Mãe Natureza deve estar aborrecida co m tanto gás na atmosfera, desmatamentos, degelo, queimadas e agressões que deixam marca. Devia ter mesmo uma lei que punisse quem maltrata a Mãe Natureza. Mãe é mãe e merece respeito. Se bem que a Primavera ainda está começando e o tempo não obedece relógios análogos nem digitais. Ainda espero o brotar das flores. Todas as manhã e na lua quarto crescente. Ou, quem sabe, o abraço de Marana, a flor mais bela da minha infância
Quase esqueço que a Primavera chegou. A culpa do meu esquecimento é da própria Mãe Natureza que já não avisa, como avisava em priscas eras. Ela, como a maioria das mães, está muito mudada. A Mãe Natureza anda meio relapsa, talvez cansada de guerra ou apanhar tanto sem ter uma Lei Maria da Penha para punir os seus agressores. Tanto que ela deixa a data quase que passar a data em branco. Quando a Primavera chegava era uma alegria. Seus sinais eram claros. Nas escolas participávamos de peças com roteiro que contemplava as flores, o sol e o arco-iris. Lembro até de um trecho de uma musiquinha que me fizeram cantar, ainda menino, no Colégio Luiz Tarquínio. Era mais ou menos assim: "Somos as flores/Mais perfumadas...Do jardim da infância". Nem lembro do início, nem do meio e só do final. E lá estava eu vestido como pé de planta. Tudo valia em homenagem à chegada da Primavera. Eram feirinhas, peças, festivais, gincanas e o abraço de Marana, uma coleguinh a somente acessível nas festinhas. Até hoje a Primavera me remete aos seus braços. Será que ela lembra de mim? Que nada. Já não sabia mesmo quem eu era naqueles tempos. Ainda mais depois de tantas Primaveras. Tínhamos apenas meia dúzia. A Primavera dava seus ares com as plantas em pleno cio, fazendo surgir as mais lindas e coloridas flores: lírios, flor-do-campo, dálias, Sorriso-de-Maria, rosas, rosas meninas, cravos-de-defunto, boninas, girassóis, margaridas, amarillis, antúrios, boca-de-leão, copos-de-leite, gardênias, jacintos, tulipas e sem falar nas graxeiras de todas as cores, tons e semitons. Era a natureza esperando a cópula das abelhas, colibris e corrupixeis. Os pássaros pareciam terem se multiplicado e seus trinos mais altos e alegres. O verde exuberante da copa das árvores contrastando já com o azul do céu de poucas nuvens e quase chuva nenhuma. Algumas árvores frutíferas, como o jambeiro ou uma teimosa mangueira que dominavam o pomar de uma mansão à beira-mar na Boa Viagem, decidiam sempre sair na frente e já apresentavam seus frutos devezes que nossa avidez de criança comia assim mesmo e amargava dores na barriga no meio da noite para tirar o sono dos avós e dos pais. Estamos quase uma semana em plena Primavera e ainda não vi a profusão de flores, embora olhe todos os cantos, jardins e avenidas. Embora os jornais tenham anunciado. Mesmo na minha varanda as flores estão tímidas, escondidas. Frô Maria e Craudio, o casal de gaviões que todas as manhãs sobrevoava o mar e vinha pousar na antena de TV no prédio defronte, fazendo revoada de bem-te-vis e canários-da-terra tiveram dois filhotes antes da Primavera. Eles – Anita e Duda – aprenderam a bater asas e todos desapareceram. Por sorte vieram para alegrar a Primavera um Sabiá e uma Garrincha estridente que se aproveitam do mamão e da água colocadas na varanda. A Primavera está muito estranha, sem cor. A Mãe Natureza deve estar aborrecida co m tanto gás na atmosfera, desmatamentos, degelo, queimadas e agressões que deixam marca. Devia ter mesmo uma lei que punisse quem maltrata a Mãe Natureza. Mãe é mãe e merece respeito. Se bem que a Primavera ainda está começando e o tempo não obedece relógios análogos nem digitais. Ainda espero o brotar das flores. Todas as manhã e na lua quarto crescente. Ou, quem sabe, o abraço de Marana, a flor mais bela da minha infância
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