28 Dezembro 2011
Quinta-feira, dia 29 de dezembro, já no ocaso de 2011, a Televisão Educativa da Bahia exibe, às 22 horas e 30 minutos, o premiado documentário Samba Riachão, de Jorge Alfredo, que, há dez anos, ganhou o prêmio principal do Festival de Brasília, ex-aequeo com Lavoura Arcaica. Jorge escreveu um texto sobre o filme que publico abaixo:
por Jorge Alfredo
Não é por acaso que a minha estréia no cinema foi um documentário sobre o samba da Bahia. A MPB e o cinema marcaram demais a minha formação cultural. Sempre tive a impressão de que muito do que aconteceu comigo foi motivado pelas músicas e filmes que insistiam em permanecerem vivos dentro da minha cabeça. No cinema, quando as luzes se apagam eu saio da real e embarco numa viagem, onde o ritmo da montagem e a intencionalidade da fotografia trazem um significado a mais para cada ação, para cada sentimento. Ouvindo música sempre vejo imagens, personagens, é sempre a mesma sensação de sair do corpo e conviver com novas fantasias. E foi assim que imaginei um dia mostrar um pouco das histórias maravilhosas que ouvi contar e outras que cheguei a presenciar. Levar um pouco da MPB para a tela grande é uma coisa que já estava escrita. Influências e misturas. Sincretismo e pluralidade. O passado afirma e o presente confirma; o samba surgiu de misturas e continua sendo o resultado de uma constante miscigenação étnico-cultural que se manifesta numa multiplicidade rítmica estonteante.
Desde menino, já respirava cinema e já havia cometido meus pecados pilotando uma câmara super 8 lá pelos anos 70. O samba, esse gênero “inculto”, sempre esteve no cerne de tudo que aconteceu na música popular brasileira do século XX. Nasceu urbano e moderno junto com o rádio, e se transformou em cultura de massa, influenciando e sendo influenciado. Apesar de João Gilberto praticamente só gravar sambas, não se costuma falar assim: o sambista João Gilberto. (ah, como João ia adorar isso!) Nem Caymmi, nem tão pouco Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Novos Baianos, Carlinhos Brown são considerados sambistas. Na Bahia, quando se fala em samba se pensa logo em Batatinha, Panela ou Riachão. O filme Samba Riachão fala disso. As permanentes transformações, o link entre tradição e modernidade, entre tecnologia e folclore. Os encontros musicais, situações únicas produtoras de novos sentidos. O filme surgiu disso aí; de um desejo de não querer simplesmente juntar as peças de um imenso quebra cabeça, mas de jogar um lance de dados sobre a mesa. Falar de samba é falar da formação do Brasil. Ouvir os grandes mestres baianos foi um aprendizado e tanto! Riachão e o samba; não há como dissociar uma coisa da outra. Riachão é um clown. Esse lado performer dele é a sua marca registrada. Ele vive isso por inteiro. O seu canto a capela, do qual muito me utilizo no filme, intercalado por histórias hilárias, cheias de picardia, trejeitos e sabedoria, fazem dele o samba em pessoa. Quer dizer, eu utilizo a trajetória pessoal de Riachão para contar, em paralelo, na voz de gente muito especial, a história do samba da Bahia. Eu quis falar para o mundo, na voz de gente bamba, o ritmo e a alma de um povo de um lugar chamado Brasil. Usei a Bahia como base de tudo, mas não me deixei levar por um sentimento barrista.
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