“Então fica resolvido assim: depois nós resolvemos”, concluiu Fernando Sabino num P.S. de carta para Otto Lara Resende. Dezembro é o P.S. do ano, e o que não foi dito até aqui, até o dia 31 também não será. O ano vai se resolvendo, e empurramos o fusquinha de nossa razão para a sombra de 2012. Deixa ele lá; faz calor em dezembro.
Antes de janeiro chegar, vamos ver o que passa no Facebook das ruas, adiando o que nos é dado adiar. Há muitas compras e chopes e chuva para cair. Há muitas escolhas de hotel e opções de passeio e protetor solar para estocar. A realidade pode atrasar. Não liga ainda o Excel, mas clica lá no Twitter: vê se tem piada do frasista, link bom de algum amigo, fofoca de algum famoso, tubarão comendo surfista em foto espetacular. Adia. Enrola. Deve ter alguma coisa no YouTube, procura um almoço que dure até as três e quarenta. Mesa para quantos? Então volta e tuíta alguma coisa. Não deu RT? Espera. Pergunta se alguém topa o Pirajá, diz que está em SDU chegando em CGH.
Espicha, dezembro, espicha.
Faz um parágrafo inteiro só com três palavras. Espicha, tempo, espreguiça. Só faltam quinze dias. Põe esse restinho de calendário para voltear: Rebouças via Praça Campo de Bagatelle, chegando na Anhanha Melo pelo corredor Norte/Sul ligado na Radial Leste. Trava, dezembro, estanca. Cuida que já é tarde. Tem piedade de nós.
Encontra um livro para ler. Estica na padaria, puxa conversa com o homem da banca, pergunta pela saída da revista O Tricô Moderno. Procura pela revista O Tricô Moderno, vai ver tem nos sebos da Pedroso de Morais. Compra um CD do Vinícius (baixar é muito rápido). Inventa. Perde o crachá da portaria, enguiça a catraca, esquece o celular.
Usa de todos os truques, recorre ao quanto encontrar de bobagem. Relembra frases antigas, conselhos de março ou abril. Se essa vida for uma novela, haverá eco e câmera lenta. E um segundo durará dois. Todo tempo perdido é útil em dezembro — mês de conversa fora.
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