01/12/2011 08h00 - Atualizado em 01/12/2011 08h00
'É uma extensão do Tropicalismo', diz Gal Costa sobre álbum de eletrônica
Com 11 faixas, 'Recanto' foi produzido e escrito na íntegra por Caetano.
'Queria que as canções não evitassem sons desagradáveis', diz compositor.
Flávio Seixlack Do G1, em São PauloComo manter a relevância musical num mercado onde o novo fica velho em pouco tempo? Como fazer um disco moderno, ousado e com toques vanguardistas para os padrões atuais, mesmo que o artista responsável por ele tenha uma carreira com mais de 40 anos? Gal Costa pode não ter todas essas respostas, mas "Recanto", seu décimo segundo álbum de estúdio que será lançado no dia 6 de dezembro, fala por si só.
Gal Costa e Caetano Veloso durante coletiva de imprensa do álbum 'Recanto' (Foto: Flávio Seixlack/G1)
Idealizado, produzido e concretizado por Caetano Veloso, que compôs todas as canções, e com a ajuda de seu filho Moreno Veloso e do produtor Kassin – além da colaboração das bandas Rabotnik e Duplexx, "Recanto" é basicamente um trabalho de música eletrônica com a voz de Gal. Mas sua sonoridade não apresenta uma eletrônica fácil e certamente é algo nunca visto antes na carreira da cantora.
"É bastante ousado. Já fiz coisas tão ousadas quanto, especialmente no início da minha carreira. O disco é uma extensão do Tropicalismo”, afirmou Gal Costa em coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (30) em São Paulo. “A ousadia da produção está no nosso DNA. O trabalho tem uma carga de agressividade estética e temática, que é de ponta”, complementou Caetano Veloso sobre "Recanto".
A ideia de criar um álbum de música eletrônica não surgiu da noite para o dia nos pensamentos de Caetano. “De vez em quando isso vinha na minha cabeça. Quanto mais eu pensava, mais eu via tudo na voz da Gal. Depois de assistir a um show dela em Lisboa, tive certeza que seria um disco da Gal com bases eletrônicas”. Já acostumada a interpretar canções de Caetano ao longo de sua carreira, Gal Costa não poupou elogios ao compositor. "Cantar só músicas dele é um prazer indescritível. Caetano tem a capacidade de fazer as coisas muito redondas para mim e pro meu canto. É um compositor que sabe escrever para a minha voz", afirmou.
Ela nega que “Recanto” tenha se inspirado em novas cantoras da MPB como Céu e Tulipa Ruiz. "Acho que é o contrário. Faço isso já há 40 anos", disse, rindo. Por outro lado, Caetano não quis esconder que a nova MPB "estimulou" suas composições e sua roupagem mais moderna. "[As novas cantoras] são exemplos auspiciosos".
Mas, se Caetano é responsável pela produção e composição das canções - além da ideia que envolve todo o projeto -, por que não assinar o trabalho ao lado de Gal? "Basta que esteja escrito 'todas as canções por Caetano Veloso'. É um disco da cantora, da pessoa que está ali botando a cara e a voz", explicou, citando como exemplo o álbum "IRM", de Charlotte Gainsbourg, cujas músicas foram feitas por Beck, que também produziu o trabalho.
A ousadia do novo trabalho não está só nas batidas eletrônicas, mas também nas letras, como é o caso da ótima “Autotune autoerótico”, em que a voz de Gal é artificialmente regulada para acompanhar o texto dos versos, além de faixas como “Neguinho”, “Recanto escuro” e “Miami maculelê” - esta uma homenagem ao funk carioca e entre as mais surpreendentes de “Recanto”. “Queria que as canções não fossem recatadas. Não evitassem ideias difíceis, nem palavras pesadas ou sons desagradáveis. Eu sabia que o ‘cool’ da voz da Gal poderia conviver com segurança e autoridade em meio a tudo isso”.
Entre os 11 temas, tanto Gal quanto Caetano concordam que “Tudo dói” é a canção mais representativa de “Recanto”. "Acho que ela sintetiza de uma forma totalmente diferente o disco e a bossa nova. Ela tem a estranheza, a irreverência, a beleza e a sonoridade ideias. Algo que, pra mim, é uma coisa maravilhosa", finaliza a cantora.
Traduzindo a sonoridade ao vivo
Com direção de Caetano Veloso, o show de "Recanto" terá uma Gal Costa acompanhada de forma econômica nos palcos. "A ideia é fazer [as apresentações] com um trio e com elementos eletrônicos, com alguém que saiba operar os sons pra complementar. Vai ser um prolongamento do disco com outras canções", explica Gal, que diz que sucessos como "Meu nome é Gal" e "Vapor barato" não ficarão de fora.
Os ensaios têm servido para dar segurança à cantora, que tem observado como tudo irá se desenvolver ao vivo. "A gente viu que tudo funciona bem e quase não tem banda mesmo no palco, mas é ao vivo. Em algumas [das músicas antigas] a gente deu esse tratamento [com batidas eletrônicas]. Mas também vamos usar voz e violão", conta Caetano.
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/12/e-uma-extensao-do-tropicalismo-diz-gal-costa-sobre-album-de-eletronica.html
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