FABRÍCIO CARPINEJAR -
Eu ria do meu amigo Manoel. Avarento que só vendo. Sua tática era carregar uma nota de cem reais como desculpa para não pagar nada pela frente.
Não é que ele não tivesse dinheiro, o coitadinho não contava na hora com notas menores.
Diante do estacionamento, ele me dizia: “Paga para mim que não tenho troco”. Na banca de revistas, “paga para mim que não tenho troco”. Depois de uma cerveja, “paga para mim que não tenho troco”.
A garoupa salvava seu zoológico. Eu gastava tudo.
Salafrário! Sua companhia me multava como um Ibama. Sua companhia me convertia num traficante de animais. Meu Pantanal financeiro morria a seu lado, à míngua de água. Dos meus bolsos, ouvia os últimos suspiros da tartaruga-de-pente, da garça, da arara, do mico-leão-dourado e da onça-pintada. Não restava uma pena, uma escama, para reconstituir a história de minha generosidade.
Ele terminava o dia sem gastar um vintém. Lustrava o porquinho comigo, preservava a poupança. E ainda dissimulava a mesquinhez com simpatia filantrópica. Em sua concepção, facilitava a vida dos comerciantes ao não tirar o dinheiro miúdo da caixa registradora. Apelidei Manoel ironicamente de Lei do Troco, aquela do ônibus.
Apesar da minha raiva justificada, havia uma verdade sutil por detrás de sua atitude.
Manoel compreendeu a maldição da nota de cem reais. O fardo da nota de cem reais.
Todas as vezes em que levo a mais alta efígie da República, não posso usar.
É trocar a nota que a grana se vai num minuto. Some. Desaparece. Escorre para o ralo.
É magia negra. Algo inexplicável. Mais demorado gastar uma nota de R$ 20 do que uma de R$ 100. Os filhos farejam quando acabamos de desmembrar a quantia, as dívidas são informadas, as contas nos acham na rua.
Existem gnomos credores dentro da carteira, que devoram o cardume filhote da garoupa, deve ser isso.
Como um valor pode desaparecer momentaneamente? Vejo-me como vítima de um truque de prestidigitação, de um golpe de ilusionismo do Banco Central.
Você evita torrar os cem reais, faz solenidade, economiza a folhinha durante sete dias.
É comprar com ela uma cartela de aspirina que perde o controle da situação. Sobram R$ 98, quase a mesma coisa, quase. Mas o montante evapora em menos de duas horas.
Há uma imunidade parlamentar na cédula azul, que permite que ela resista mais. Quando vira outro bicho, desaparece.
Tanto que Eike Batista se recusa a carregar notas de cem reais. O homem mais rico do Brasil não é bobo de arriscar sua fortuna numa superstição.
Não é que ele não tivesse dinheiro, o coitadinho não contava na hora com notas menores.
Diante do estacionamento, ele me dizia: “Paga para mim que não tenho troco”. Na banca de revistas, “paga para mim que não tenho troco”. Depois de uma cerveja, “paga para mim que não tenho troco”.
A garoupa salvava seu zoológico. Eu gastava tudo.
Salafrário! Sua companhia me multava como um Ibama. Sua companhia me convertia num traficante de animais. Meu Pantanal financeiro morria a seu lado, à míngua de água. Dos meus bolsos, ouvia os últimos suspiros da tartaruga-de-pente, da garça, da arara, do mico-leão-dourado e da onça-pintada. Não restava uma pena, uma escama, para reconstituir a história de minha generosidade.
Ele terminava o dia sem gastar um vintém. Lustrava o porquinho comigo, preservava a poupança. E ainda dissimulava a mesquinhez com simpatia filantrópica. Em sua concepção, facilitava a vida dos comerciantes ao não tirar o dinheiro miúdo da caixa registradora. Apelidei Manoel ironicamente de Lei do Troco, aquela do ônibus.
Apesar da minha raiva justificada, havia uma verdade sutil por detrás de sua atitude.
Manoel compreendeu a maldição da nota de cem reais. O fardo da nota de cem reais.
Todas as vezes em que levo a mais alta efígie da República, não posso usar.
É trocar a nota que a grana se vai num minuto. Some. Desaparece. Escorre para o ralo.
É magia negra. Algo inexplicável. Mais demorado gastar uma nota de R$ 20 do que uma de R$ 100. Os filhos farejam quando acabamos de desmembrar a quantia, as dívidas são informadas, as contas nos acham na rua.
Existem gnomos credores dentro da carteira, que devoram o cardume filhote da garoupa, deve ser isso.
Como um valor pode desaparecer momentaneamente? Vejo-me como vítima de um truque de prestidigitação, de um golpe de ilusionismo do Banco Central.
Você evita torrar os cem reais, faz solenidade, economiza a folhinha durante sete dias.
É comprar com ela uma cartela de aspirina que perde o controle da situação. Sobram R$ 98, quase a mesma coisa, quase. Mas o montante evapora em menos de duas horas.
Há uma imunidade parlamentar na cédula azul, que permite que ela resista mais. Quando vira outro bicho, desaparece.
Tanto que Eike Batista se recusa a carregar notas de cem reais. O homem mais rico do Brasil não é bobo de arriscar sua fortuna numa superstição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário