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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pra que seduzir se você pode cutucar?

Pra que seduzir se você pode cutucar?

Havia um tempo em que conquistar uma mulher era dançar o Charleston num campo minado.


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Não falo apenas de eras passadas, do tempo em que a pipa do vovô ainda subia. Há uns 15 anos, quando uma garota encantava um rapaz, o macho logo sentia a necessidade de saber mais sobre a mulher.
E será que eu devo colocar Roxette na mixtape?

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Ter essas informações era fundamental para ganhar o coração da pequena. Somos o que lemos, ouvimos, assistimos, comemos. (Na verdade, somos mais que isso. Mas por meio de nossos gostos é possível fazer um retrato – ainda que em cores opacas e imperfeito – de como nos comportamos, de como pensamos a vida.)
Cada gosto, traço da personalidade da menina descoberto pelo homem era uma peça encaixada no quebra-cabeça. Um quebra-cabeça que todo homem adepto da boa sedução adoraria passar a vida completando, peça a peça.
Assim, seduzir era matar um leão por dia, amigo. E era uma tarefa deliciosa. Você se encantava por uma garota e, em seguida, o que mais desejava era passar as horas descobrindo cada polegada da mulher.
Este tempo acabou. Pelo menos é o que dizem.
Hoje está tudo ali, impresso no perfil de Facebook, postado em 140 caracteres ou menos no Twitter, nas ondas do rádio fake que é o Last FM.
Será que ela gosta de blues? Basta checar sua playlist.
Será que ela era aficionada por Anos Incríveis? Dê uma olhada nas páginas que ela curtiu.

Link YouTube | Se eu disser que choro vendo este trecho, vocês vão me julgar?
Eu mesmo já escrevi que:
Amor em tempos de internet é algo frio. Os amantes de amanhã não conhecerão hoje a sensação de ver o rosto abobalhado da menina que recebe uma mixtape em mãos. Não saberão o que é ter febre de tanta vergonha na hora de entregar o cassete. São meninos tristes e serão homens tristes.
Este é exatamente o pensamento corrente: os alicerces para a sedução não mais existem, pois tudo está exposto. Não há o que ser descoberto. E sedução é isso: descoberta.
Não é bem assim.
Hoje eu revejo este conceito de que a sedução está no limbo. Creio que, de fato, está tudo exposto e muito não precisa ser descoberto. O que exige dos homens sedutores malabarismos de diversas sortes. Isto se explica porque aquilo que se vê não é o que se tem. Ou seja, a persona criada para Facebook, Twitter, Last FM e afins serve não para que se conheça mais sobre a mulher, mas sim para que ela se esconda por sobre aquilo que ela julga ser sua personalidade.
Nas redes sociais, o homem é desconstruído – de estratos de carne e osso e personalidade e a coisa toda. É a desfragmentação de quem realmente somos. Viramos avatares. Você tem milhares de conexões no Facebook e ninguém com quem sair no fim de semana. Você é tendência no Twitter porque só fala coisa interessante mas não sabe conversar nem com seu vizinho.
Como nos tornamos muitos e nenhum, o que resta de nós – a nossa porção offline – cria uma aura de novidade. Torna-se difícil conhecer alguém de fato, por mais que conheçamos seus perfis na internet e saibamos todos os seus gostos.
É então que o mistério da mulher é realçado e ganha outros níveis. Aquela com quem você troca mensagens no chat não é a mesma menina com quem você bate papo na mesa de um bar ou durante um jantar.
O que aqueles olhares na mesa do restaurante querem dizer, meu Deus? E o que eles escondem? É um qualquer coisa que não cabe em 140 caracteres.
O mistério acabou com as redes sociais, com esses lugares onde se escancaram gostos e opiniões? Não. Muito ao contrário. Ele apenas tornou-se mais difícil se ser decifrado.

Algumas coisas ainda são misteriosas e não podem ser descritas em sua plenitude no perfil de Facebook. Como o perfume. O cheiro, este sentido extremamente ligado à afeição, nunca é revelado.


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