Você sabe bem quando sua realidade está prestes a mudar. Um sorriso pode mudar o mundo e uma frase, uma vida. Não nos resta apenas memórias muito boas ou muito ruins, mas histórias. Construídas por momentos que precedem cada mudança. Você lembra ou imagina a sensação pouco antes de tudo isso acontecer?
Emplacar uma conversa surpreendentemente agradável com alguém totalmente novo e, dali, saber que algo fora do comum está para acontecer. O primeiro beijo apaixonado após anos de transtornos e desilusões. O sabor, diferente. Acordar abraçado por uma pele que te eletrifica em cada movimento e manter-se imóvel, acordado, para aproveitar cada segundo...
A conquista do primeiro bom emprego. Daqueles que você não consegue passar o primeiro dia sem sorrir e achar todos os afazeres, prazeres. Receber uma condecoração, à vista de seus amigos mais queridos, que te aplaudem com um sincero entusiasmo. Ver seu nome naquela lista em que tantos queriam estar. Mas é o seu. Foi você.
Bater o próprio recorde. Depois de desafiar o próprio corpo e ser desafiado pela concorrência que o próprio mundo constitui. Andar com as próprias pernas, depois de não conseguir senti-las. Abrir os olhos e ver. Depois de tanto tempo na escuridão. Vencer o medo do palco e cantar na frente de inúmeros olhares estranhos. Não precisava ser bom, era sua música favorita.
Esperar uma ligação e, ao olhar o celular, vê-lo tocar e saber que é ela. Confirmar como positivo o teste de gravidez depois de anos tentando. Confirmar como negativo a biópsia do tecido que ameaçava se espalhar por seu corpo contra sua vontade. Esbarrar em um amigo realmente querido, no meio da rua, por acaso, depois de longos períodos sem vê-lo.
Ser pedido em casamento quando se menos espera, no meio do nada ou do tudo. Gritar o gol definitivo de seu time na final do campeonato mais importante dos últimos tempos. Ouvir ao telefone que alguém está te cedendo o órgão de um ente que se foi. Receber um abraço de quem não se esperava e ouvir atentamente enquanto ela diz: “eu perdoo você”.
Observar seus filhos dormirem tranquilamente, graças ao trabalho de seu braço e aconchego de suas mãos. Voltar para casa depois de uma temporada fora a trabalho. Comer a receita especial de sua mãe depois de anos de estudos no exterior. Alguém te dá, sem pedir nada em troca, uma nota mais gorda, quando o estômago já começa a consumir a ele próprio e as ruas nada mais oferecem além do frio.
Ouvir “você me inspira”, quando está se sentindo a pior das pessoas da Terra e também um “parabéns”, quando parece que ninguém mais dá a mínima. Ver alguém te esperando após a notícia de sua derrota, com um abraço displicente. Receber o abraço de um estranho que comemora sua aprovação no vestibular. Ser o responsável por entregar a notícia à família: “ela vai viver”. Ouvir o choro de seu bebê pela primeira vez e até ignorar quando dizem “é perfeito”. Ele já o seria.
Correr com o cachorro na praia até cansar, deitar na areia e sentir as ondas molharem apenas a ponta de seus pés. Assistir, de perto, a melhor banda que você já ouviu na vida. Ouvir na rua, a música que um dia foi sua predileta e você nem lembrava mais. Receber uma carta, que não é cobrança. Poder dizer a seus pais “tudo vai ficar bem” e poder ouvir “tenho orgulho de você”. Ganhar na loteria. Em meio ao desespero, receber a mensagem “estamos todos bem”.
Por fim, seguir o próprio caminho. Não sabendo se é o certo, o melhor, claro. Isto, nunca sabemos. Sabemos, no entanto, que estamos indo. Certos e na melhor esperança que tudo mude mais uma vez.
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