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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Tom Jobim revisitado por Nelson Pereira dos Santos

 
O cineasta Nelson Pereira dos Santos Foto: Gustavo Stephan / O Globo
O cineasta Nelson Pereira dos Santos Gustavo Stephan / O Globo
RIO - O jeito despojado de Nelson Pereira dos Santos anda lembrando bastante a conhecida leveza de espírito do personagem de seus dois novos filmes. Numa entrevista em sua casa, na última quinta-feira, o visivelmente feliz e afetuoso Nelson contava piadas, contemplava a vida e dizia querer evitar brigas com quem quer que fosse. Falava de seu trabalho com juventude e narrava a boemia do passado como quem viveu o suficiente para ter muitas histórias para contar. Em determinado momento, ao lado de uma mesa em que estavam seu iPad e seu notebook e próximo à coleção de vaquinhas em miniatura disposta numa prateleira, Nelson ainda disse: "Vou tomar meu remedinho, você me acompanha?" E pegou um copo, pôs algumas pedras de gelo, serviu-se de uísque e completou com água. Foi só aí que o grande cineasta de 83 anos começou a falar sobre Antonio Carlos Jobim, o grande maestro e compositor morto em 1994, aos 67 anos, conhecida figura afetuosa, boêmia e fã de uísque. Nelson está prestes a lançar dois documentários sobre Tom Jobim. Está prestes, mais uma vez, a tentar encantar a plateia com imagens e música. Muita música.

Os filmes de Nelson, ambos documentários, chamam-se "A música segundo Tom Jobim" e "A luz do Tom". O primeiro, que será lançado em circuito comercial no próximo dia 20 e foi codirigido por Dora Jobim, neta de Tom, reúne dezenas de imagens de arquivo de cantores e instrumentistas interpretando composições do maestro ao longo dos anos. Há cenas lindas e raras de Vinicius de Moraes, Agostinho dos Santos, Frank Sinatra, Judy Garland, Elis Regina, Nara Leão, Aloysio de Oliveira, Silvinha Telles, Pierre Barouh, Ella Fitzgerald, Milton Nascimento, Dizzy Gillespie e muitos outros. Não há diálogos, entrevistas, voz em off, nem legendas. O filme começa com imagens de um Rio antigo, feitas nos anos 1950 por Jean Manzon, e logo depois parte para a música. A primeira a aparecer é Gal Costa, cantando "Se todos fossem iguais a você", e o último é o próprio Tom, com "Garota de Ipanema".
— O nosso orçamento inicial previsto aumentou em 50% por conta dos preços dos direitos autorais. O pesquisador Antonio Venancio foi quem cuidou disso. Outro problema que tivemos foi com a qualidade do som de algumas imagens. O Paulo Jobim (filho de Tom), que fez a direção musical, prestou atenção para tudo ficar bom — conta Nelson. — Nossa ideia inicial, no "Música segundo Tom Jobim", era fazer um filme em três atos, sobre os três temas recorrentes nas canções dele, que eram o Rio, a natureza e as mulheres. Mas percebemos que seria uma opção artificial, imposta de fora para dentro. O material nos fez entender que não era necessário estabelecer uma estrutura dramática. Era só colocar as músicas organizadas numa cronologia do tempo em que foram feitas. Não eram necessárias palavras.
Já o segundo documentário, previsto para este ano, mas ainda sem data definida, não apenas tem palavras, como é todo baseado no Rio, na natureza e nas mulheres. Com codireção de Marco Altberg, "A luz do Tom" também já está pronto, e a expectativa de Nelson é que ele seja lançado até o fim do ano. Nele, o ponto de partida foi o livro de memórias "Um homem iluminado", de Helena Jobim, irmã do maestro. Percorreu-se a história de Tom com entrevistas com a própria Helena; com Thereza Hermanny, primeira mulher do maestro; e com Ana Lontra Jobim, sua segunda e última mulher. As locações — Florianópolis, um sítio em Itaipava e o Jardim Botânico, no Rio — têm a função de remeter o espectador ao Rio de Tom Jobim, quando, por exemplo, Ipanema era um "imenso areal", representado por uma praia de Florianópolis.
— São locais com uma presença forte da natureza — diz Nelson. — Eu as deixei totalmente livres para falar sobre o Tom. A Helena tem uma paixão imensa pela memória do irmão, ela se empolga ao lembrar dele. A Thereza tem humor e traz histórias afetuosas e engraçadas. E a Ana tem um jeito tranquilo, também com humor, e tratou muito do namoro deles.
Em "A luz do Tom", Helena conta que "o mesmo parteiro que trouxe o Tom foi quem trouxe Noel Rosa" — não por acaso, a única música do filme não composta pelo maestro é "Três apitos", de Noel. Thereza, por sua vez, se recorda de como Tom implicava com ela, chamando-a de pirralha. Já Ana diz que ele "foi um superbom pai", agregador com a família.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/nelson-pereira-dos-santos-revisita-obra-vida-de-tom-jobim-3543522#ixzz1iK34yI00

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