16/07/2012
Nunca existiu nenhuma questão. Você veio. Depois de tantos esboços. Meu personagem preferido. Para me fazer perguntar quem inventou quem. Veio vestido em diferenças de tudo que não. Não pode, não devo, não quero.
Não era pela lógica dos fatos para ser. Mas é. E eu que sempre me encontrava em casas de espelhos refletindo o que era apenas mistério, tive que limpar os murmúrios às minhas costas, depois de deitar em verdes e abraços que apenas contei a outras pessoas que existiam em meu corpo.
Te mostrei pai e mãe no mundo, para que quando você chegasse aqui, nessa cama simples, não se assustasse com a minha humanidade ao adentrar portões e ilusões de herança e história, que eram apenas as raízes que finquei para que você me soubesse.
Quis amanhecer em suas idiossincrasias porque te mostrei as minhas, as asas quebradas, os restos de membranas que carrego entre os dedos.
Ah, eu briguei, você sabe. Comigo mesma, principalmente. Mas fui corajosa. Tentei. Era só a claridade de mais uma manhã. Mas eu que sempre mantive certezas trancadas em quartos escuros, não devo ter entendido alguma coisa.
O que foi?
Você esqueceu seu casaco, eu a educação, e o que não era pra ser aconteceu. Sua armadura virou despojo de uma guerra. E eu tola, achei que seria um sinal de sua volta, você voltaria para nós dois, como me preparei todos esses anos, sendo ponte e laço, até acreditar.
Tornou-se apenas disfarce pro silêncio e para uma mudança de quarto quando entrei sozinha, mais uma vez, na casa que ainda moro.
Menor, tão menor.
E eu não sabia.
Foi o vento que me contou.
Até ele, nesse momento, me dói a pele.
Então não quero nem vou ficar aqui esperando. Porque sei que as voltas do mundo serão para relembrar que você nos negou. Porque já fiquei tempo demais sem ar e suspirar pelos cantos só faz com que as teias que teci até que chegasses balancem nas paredes que não escondem mais nada. Nem impedem o anúncio de um longo inverno.
Porque você quis acreditar que o destino une, amanhã, daqui a pouco, depois, quando eu te mostrei, nua, que ele separa.
E eu não quero acreditar que não foi alegria o que eu senti. E que o amor é alegre.
Deixei, pois, teu casaco no lugar do primeiro reconhecimento de seu gosto, porque você já levou todas as minhas armas. Mas você precisa se proteger, eu sei. Até quase esquecer.
Por isso, com você, só posso compartilhar o silêncio que ainda me resta.
Porque nunca fomos amigos.
Porque nunca fomos amigos.
E quando eu contar essa história vai parecer só mais uma história dessas que uso como alimento em outras mesas, porque aqui, dentro de mim, é tão solitário desde muito antes. Até me convencer que é questão de tempo, o titã que engole os males inventando falsos sentimentos e estações. Que me trouxe uma notícia grandiosa só para esconder nosso segredo dos olhos alheios.
Sei que vou continuar sobrevivendo. Singrei muitos mares, desbravei tantos reinos, derramei dor demais para que chegasses. Estou desnorteada, mas continuo insistindo em escrever para alimentar a ilusão de que aquela noite poderá se repetir com outro alguém, e que esse alguém ao me convencer de que foi tudo uma mentira, me inserindo num conforto de normalidade e equilíbrio, me fará perguntar novamente: Porque você não acreditou em mim, que guardei tanto para te contar? Não há nada de assustador no desejo.
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