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terça-feira, 17 de julho de 2012

sobre livros...


Convidado da semana: A trama do casamento


Por: Bruno Leite
Assumo, de peito aberto: fui ler A Trama do Casamento imbuído de toda tendenciosidade existente na biosfera. Prazer, eu sou a Madeleine Hanna! Então, permitam-me apresentar meu alter ego. Madeleine é uma estudante de letras que escolheu o curso por ser uma apaixonada por livros. Mais precisamente por literatura. Mas ao contrário do que ela - e do que eu também - pensava, tudo que ela leu foram críticos, livros teóricos e alguns romances que representam bem determinados períodos, não necessariamente grandes romances. Preciso dizer o grau de insatisfação estampado na testa dela? Mas um desses teóricos salvou a lavoura: Roland Barthes com Fragmentos de um Discurso Amoroso. Confesso que paralelo ao livro do Eugenides, eu lia Fragmentos e se eu pudesse resumir ele em uma palavra, seria em um palavrão bem sonoro e entusiasmado. Mas me limito a dizer que é muito bom. Faz todo o sentido do mundo. No livro. Na minha vida. Na sua vida. Quer uma dica? "esqueça" ele no criado mudo da sua mãe. E da sua avó.

Voltando a Srta. Hanna, ela tem um relacionamento conturbado com um personagem - no mínimo - apaixonante: Leonard Bankhead (suspira). Ele é um biólogo gigantão, barbudo, gentil, masca fumo, usa bandanas, sabe tocar músicas eslavas e o principal: ele é bipolar. Porque eu e Madeleine não nos apaixonamos perdidamente se não houver o elemento problema. Ela também se relaciona amigavelmente com Mitchell Grammaticus - um loirinho fofo, inteligente, bondoso, carinhoso, todo disponível. Em suma: o cara perfeito - pra ser melhor amigo, obviamente. Formado o triângulo amoroso, o que se desdobra são quebras de paradigmas, de sonhos, de posturas, de filosofias. Tudo vai caindo por terra, ou todos vão amadurecendo, dependendo do seu nível de otimismo.
Isolando a crítica literária dentro do livro - sobre como o divórcio e o feminismo afetaram a estrutura do romance; dai o título - e as incríveis semelhanças de Leonard com David Foster Wallace, na qual eu prefiro não opinar, o romance em si vale cada esforço para mudar de página. Porque é desses que falam a verdade, que capturam o que toda uma geração sente em comum - mesmo que seja a geração de 80. Dói, profundamente, porque é de verdade; as verdades ditas se sustentam no mundo real. Bem nessa hora você para de ler e olha pela janela do ônibus ou pra parede do seu quarto e fica imaginando um "putz" se desenhando na sua frente.

Uma coisa que ninguém disse, mas que eu achei muito latente, é o humor do Eugenides. Ele é muito bobo. Ele vem seguindo uma linearidade narrativa quando de repente - tá lá! A piada feita e você rindo alto. Um desses pontos altos é quando Madeleine senta nua num sofá imundo e levanta torcendo pra não pegar uma infecção urinária.

Falar mais seria estragar o prazer de deflorá-lo: devore o quanto antes e vá ser feliz.

Bruno Leite: Um taurino neurótico. Um beatlemaníaco que samba. Porque literatura é luz, raio,
estrela e luar.
 
 
 
 
 

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