Convidado da semana: A trama do casamento
Por:
Bruno Leite
Assumo,
de peito aberto: fui ler A Trama do Casamento imbuído de toda
tendenciosidade existente na biosfera. Prazer, eu sou a Madeleine Hanna! Então,
permitam-me apresentar meu alter ego. Madeleine é uma estudante de letras que
escolheu o curso por ser uma apaixonada por livros. Mais precisamente por
literatura. Mas ao contrário do que ela - e do que eu também - pensava, tudo que
ela leu foram críticos, livros teóricos e alguns romances que representam bem
determinados períodos, não necessariamente grandes romances. Preciso dizer o
grau de insatisfação estampado na testa dela? Mas um desses teóricos salvou a
lavoura: Roland Barthes com Fragmentos de um Discurso Amoroso. Confesso
que paralelo ao livro do Eugenides, eu lia Fragmentos e se eu pudesse
resumir ele em uma palavra, seria em um palavrão bem sonoro e entusiasmado. Mas
me limito a dizer que é muito bom. Faz todo o sentido do mundo. No livro. Na
minha vida. Na sua vida. Quer uma dica? "esqueça" ele no criado mudo da sua mãe.
E da sua avó.
Voltando
a Srta. Hanna, ela tem um relacionamento conturbado com um personagem - no
mínimo - apaixonante: Leonard Bankhead (suspira). Ele é um biólogo gigantão,
barbudo, gentil, masca fumo, usa bandanas, sabe tocar músicas eslavas e o
principal: ele é bipolar. Porque eu e Madeleine não nos apaixonamos perdidamente
se não houver o elemento problema. Ela também se relaciona amigavelmente com
Mitchell Grammaticus - um loirinho fofo, inteligente, bondoso, carinhoso, todo
disponível. Em suma: o cara perfeito - pra ser melhor amigo, obviamente. Formado
o triângulo amoroso, o que se desdobra são quebras de paradigmas, de sonhos, de
posturas, de filosofias. Tudo vai caindo por terra, ou todos vão amadurecendo,
dependendo do seu nível de otimismo.
Isolando
a crítica literária dentro do livro - sobre como o divórcio e o feminismo
afetaram a estrutura do romance; dai o título - e as incríveis semelhanças de
Leonard com David Foster Wallace, na qual eu prefiro não opinar, o romance em si
vale cada esforço para mudar de página. Porque é desses que falam a verdade, que
capturam o que toda uma geração sente em comum - mesmo que seja a geração de 80.
Dói, profundamente, porque é de verdade; as verdades ditas se sustentam no mundo
real. Bem nessa hora você para de ler e olha pela janela do ônibus ou pra parede
do seu quarto e fica imaginando um "putz" se desenhando na sua frente.
Uma
coisa que ninguém disse, mas que eu achei muito latente, é o humor do Eugenides.
Ele é muito bobo. Ele vem seguindo uma linearidade narrativa quando de repente -
tá lá! A piada feita e você rindo alto. Um desses pontos altos é quando
Madeleine senta nua num sofá imundo e levanta torcendo pra não pegar uma
infecção urinária.
Falar
mais seria estragar o prazer de deflorá-lo: devore o quanto antes e vá ser
feliz.
Bruno
Leite: Um taurino neurótico. Um beatlemaníaco que samba. Porque literatura é
luz, raio,
estrela e luar.
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