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quinta-feira, 19 de julho de 2012

vista da janela para o mundo

17/07/2012

Apertem os cintos, os pilotos sumiram

O que incomoda no relatório sobre a economia mundial, divulgado ontem pelo Fundo Monetário Internacional, é menos a perspectiva de contínua desaceleração econômica do planeta --e o Brasil, infelizmente, faz parte do planeta-- e mais a absoluta falta de líderes e ideias à altura do tamanho da crise.
Quem se der ao trabalho de ler as análises e recomendações do FMI ficará chocado com a catarata de platitudes e obviedades vertidas pelos especialistas.
No fundo, no fundo, rebarbado o economês inevitável nesse tipo de documentos, o que está dito é mais ou menos assim: se cada grande área do mundo fizer a coisa certa, a economia melhorará. Se um ou mais de um errar o passo, tudo vai piorar.
É bom lembrar que o FMI foi absolutamente incapaz de antever a crise que começou com as hipotecas "subprime" e virou uma confusão global que parece não ter fim, como, de resto, confirma o relatório do Fundo.
Quando a crise ameaçava corroer o mundo, os líderes da época (2008) tiveram um momento de ousadia e lucidez: sentiram que a governança global, de que o FMI era parte essencial, estava defasada.
Transformaram então o G20 de um clube de ministros de Economia e presidentes de bancos centrais, dedicado a assuntos técnicos e, como tais, muito chatos, no principal fórum de coordenação econômica global (a definição foi adotada na cúpula de Pittsburgh em 2009).
No princípio, até funcionou. Medidas coordenadas de estímulo à economia adotadas na China e nos Estados Unidos, no Brasil e na Europa, evitaram um colapso ainda mais brutal do que a recessão do período 2008/09.
Mas, de Pittsburgh em diante, o G20 foi ficando mais e mais irrelevante, pela sua absoluta incapacidade de coordenar o que quer que seja. Ficavam de um lado os europeus, prometendo fazer a lição de casa, e de outro os demais cobrando que os europeus fizessem a lição de casa.
De modo geral, entendia-se por lição de casa erguer um "firewall" suficientemente imponente para evitar que a crise dos países chamados periféricos (Portugal, Grécia, Irlanda) atingisse os grandes como Espanha e Itália.
O relatório do Fundo certifica o fracasso dos europeus: prevê que a economia espanhola retrocederá 0,6% no ano que vem, o que significa que os "firewalls" anunciados não foram suficientes para içar o país do poço, sem o que fica difícil, talvez impossível, pagar sua dívida e reduzir seu deficit,
No Brasil, por mais que a presidente Dilma Rousseff diga que não vai seguir o caminho europeu, no que, de resto, faz muito bem, o resultado da política inversa não chega a entusiasmar: segundo o FMI, o crescimento deste ano não irá além de 2,5%, ou 0,6 ponto percentual menos do que o previsto há apenas três meses (os mercados, aliás, preveem anêmicos 2%).
Tudo somado, não está funcionando a austeridade europeia, não estão funcionando os "firewalls" europeus, não estão funcionando (ou funcionam mal) os estímulos brasileiros, americanos, chineses. Os pilotos parecem não saber o que fazer com a nave Terra.

Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.

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