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domingo, 12 de maio de 2013

Coplexo de Édipo com a mãe alheia


POR XICOSA

“Antigamente quando eu me excedia/ Ou fazia alguma coisa errada/Naturalmente minha mãe dizia:/ Ele é uma criança, não entende nada.” (Erasmo Carlos)

Porque as mulheres com filhos são especiais, especialíssimas, como sempre sublinho nestes papiros mudernus.
Porque tem homem que morre de medo do que se costuma chamar por ai de “pacote completo”, quando a deusa vem com os seus meninos à tiracolo, canguruzinha marlinda.
Se bem que conheço amigas que temem mais do que nós hombres. Diante do menor barulho dos diabinhos fazem cara de Herodes.
Eu faço é cara de marido.
E tenho inveja porque não são meus. E tenho inveja porque não pude influenciá-los, ainda, nem na escolha do time.
Tudo bem, já saquei muito da cachola aquela lengalenga tipo Brás Cubas: não quero deixar na terra o legado da minha miséria etc etc.
Balela.
Bora fazer menino, minha musa, e confundir de vez criador e criatura.
As mulheres com filhos são o que há de mais tentador nesse lero-lero vida noves fora zero.
Incríveis, magníficas, únicas. No papo e na cama.
Agora rio aqui sozinho lembrando da noite em que fui pela primeira vez para a casa de uma ex-ex-ex.
Saía desesperado do quarto em busca de um copo d´água. O amigo que bebe sabe o que é um homem cego, que não achou os óculos na cabeceira, saindo por uma arquitetura desconhecida, na madruga, em busca de um refrigério para a ressaca.
Depois de alguns tropicões, seguindo uma fresta de luz, ainda sem fazer ideia onde estava a geladeira… eis que um endiabrado menino, senhoras e senhores, portando uma daquelas armas iluminadas que me levou direto para um conto de ficção científica.
Aquela tocha de fogo aumentou ainda mais a minha sede e desespero. Não se nega um copo d´água a um ressacado, apelei ao rapazinho.
Sorriso sádico, o menino, armado com uma daquelas miseráveis espadas de He-Man, não cedeu ao meu apelo. Quem manda mexer com a sua linda Jocasta. O ciúme e a sede de aventura o faziam me espetar e dar pulinhos ridículos e cegos.
Quando fui tomar o mísero copo d´água, o dia já havia dado as caras. Depois do duelo, e muitos passeios a três, de mãos dadas, nos tornamos grandes amigos.
Por isso é que aqui repito um haikai que fiz ainda nos anos 80:
Que coisa feia/ Complexo de Édipo/ com a mãe alheia!

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2013/05/12/coplexo-de-edipo-com-a-mae-alheia/

 

sábado, 11 de maio de 2013

MÃE




MÃE

A minha tem nome com cheiro de terra, de índio, fonte e doçura de mel,
- JANDIRA.
Pariu sete, mimou, lavou, beijou, alimentou, criou, preparou,
- LIBERTOU.
Fortaleza, remanso, caudaloso rio, lugar seguro, abertura, acolhimento, música, romance,
- LOUVOR A DEUS.
Minha mãe me ensinou a ser mãe e avó, me preparou para a vida, confiou nas minhas
- ESCOLHAS.
Luz que segue em mim, nos meus dias, nos meus passos e ações.
Presença, além daquele beijo de despedida, beijando-lhe as mãos da benção, o sussurro:
- “SEJA FELIZ, MINHA FILHA!”

Regina Soares 05/10/13


sexta-feira, 10 de maio de 2013

A pessoa é para o que nasce

Nossa diretora de redação fala sobre a cobrança que as mulheres têm consigo mesmas.

11.10.2011 | Texto: Carol Sganzerla | Fotos: Nelson Di Rago/Editora Abril
Nelson Di Rago/ Editora Abril

Leila Diniz no Rio de Janeiro, em 1969

E um dia você acorda, olha para o calendário pendurado na geladeira e acha que o sono embaça a vista. Mas é fato: outubro chegou. Se põe, então, a pensar nas promessas que listou nove meses atrás naquele guardanapo amassado que não sabe onde enfiou depois de pular as sete ondas: “Ano que vem quero ser uma profissional mais qualificada, uma filha mais dedicada, uma mulher mais sarada, uma namorada mais carinhosa, uma dona de casa mais empenhada”.
Cansa só de imaginar.
Feita a checklist, se dá conta de que, até o momento, conseguiu comparecer a todos os almoços de família – pelo menos os comemorativos. Agora, correr de segunda a sexta, começar o mestrado, ler os clássicos encostados na estante, se engajar em uma causa, pintar o apartamento, comprar uma bicicleta... Ficou para 2012.
A sensação é a de que é preciso mudar a toda hora, necessariamente ser a melhor, guiada pelos anseios e pelas cobranças individuais e coletivas que só aumentam, criam dúvidas, testam os limites. Como afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, em entrevista nas Páginas Vermelhas, “as mulheres querem se levar menos a sério” (por onde começa?). Embora seja estudiosa ferrenha do comportamento feminino há duas décadas – se refere a Leila Diniz e a Simone de Beauvoir como velhas conhecidas – e entenda como funciona o cérebro da mulher, nem ela própria está a salvo: “Não estou necessariamente preocupada com a ruguinha, com a celulite, mas, quando profissionalmente não sou 1.000%, fico insatisfeita”, admite.
Mirian é bem-sucedida profissionalmente (tem 14 livros lançados), aos 54 anos diz ter o mesmo peso que aos 30, mora em uma casa separada do marido e escolheu não ter filhos. Conta que o relógio biológico não apitou. Essa questão, essencialmente feminina, ganha espaço – e margem para discussão – em outra personagem retratada por aqui: a arte-terapeuta Paola Di Cola. Aos 36 anos, sem namorado nem perspectiva de engravidar tão cedo, ela resolveu congelar seus óvulos, na tentativa de “garantir” a maternidade futura. As opiniões médicas quanto à eficácia do método se dividem; mas a certeza de Paola é uma só: fazer tudo que estiver ao alcance para realizar uma de suas vontades na vida, a de ser mãe.
Leila Diniz se casou aos 17 anos, exibiu sua gravidez em trajes de biquíni, foi perseguida na ditadura militar, fez e falou o que quis (“Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”). Morreu precocemente num acidente aéreo no início dos anos 70. Mas seus 27 anos foram suficientes para se tornar um símbolo da liberdade feminina que, a muito custo, hoje tentamos pôr em prática.
Toda mulher é meio Leila Diniz.

Carol Sganzerla, diretora de redação
http://revistatpm.uol.com.br/revista/114/editorial/a-pessoa-e-para-o-que-nasce.html
 

Carmela y el extranjero


Javier Navares, Javier Enguix, Inma Cuesta y Álvaro Morte, en una escena de '¡Ay Carmela¡' / Javier Naval

Francesc Orella y Ferran Carvajal están incandescentes en 'L'estranger'

La versión musical de '¡Ay Carmela¡' padece de una combinación de poda y sobrecarga

 
Carles Alfaro ha presentado en el Lliure una versión de El extranjero de Camus, en superlativa versión catalana de Rodolf Sirera (y del propio director) en la que el soliloquio de Meursault se convierte en dúo y en coro. Meursault Uno (Francesc Orella) dialoga con Meursault Dos (Ferran Carvajal), pero no queda ahí la cosa, porque Orella interpreta también a los restantes personajes del drama, salvo a Marie, su novia, que corre a cargo de Carvajal. Contado así parece un lío de tres pares de narices (y ha hecho arrugar más de una), pero funciona porque la dirección de Alfaro es milimétrica y la entrega de los dos actores absoluta. ¿Artificioso? Pues sí, un poco, pero el teatro está lleno de artificios esplendorosos: lo importante, como siempre, es la convicción. ¿Un Meursault maduro hablando con un Meursault joven? No necesariamente: más bien un Meursault que se ve desde afuera, que habla con un yo interior porque es su único interlocutor posible. En ambos hay una mezcla constante de tiniebla y luminosidad, de hielo y fuego, ejemplificados en esa Gimnopedia con fraseo árabe que es la perla de la banda sonora. Digamos que el Meursault de Orella es un cadáver de permiso que parece hablar desde la otra orilla, y el de Carvajal, con más gatos en la tripa, bien podría ser un aspirante a Roberto Zucco: el ritmo majestuoso, las interpretaciones aparentemente frías pero a la postre incandescentes, me hicieron pensar en Koltès, Koltès dirigido por Chéreau.
Quizás (obviedad cierta) el sentido último de los relatos llevados al teatro radique en que te hacen percibir por la vista y el oído algunos aspectos que no advertiste en el texto: una lectura más atenta, con más ventanas y más pasajes. La escritura de Camus adquiere ecos inesperados en este montaje. Yo le escuché, por primera vez, un aire celiniano. La conversación con el cabrón que se quiere vengar de su mujer, los paseos del viejo y el perro, el aire de putrefacción moral, de deriva, de que nada importa, están muy cerca de Viaje al fin de la noche. Y del Jim Thompson de 1200 almas: ese golpe de sol que detona el asesinato, el mismo sol del día del entierro de la madre. Dos únicos peros: a) la escenografía, a caballo entre la celda y el portal, es eficaz pero un tanto mamotrética y, b) no veo demasiado sentido a que suenen algunos fragmentos grabados estando los actores en escena. Por lo demás, un excelentísimo trabajo, febril y arriesgado, de los que siguen resonando en tu memoria.
2. Un espectáculo con tantos altibajos como ¡Ay, Carmela! El musical, que Andrés Lima ha dirigido en el Reina Victoria, obliga a un continuo ejercicio de caliarenismo. El formidable texto de Sanchis Sinisterra resulta explicativo, esquelético, casi telegramático en la adaptación que firma el veterano José Luis García Sánchez. Y, paradoja, se hace largo porque padece de sobrecarga. Aquí tenemos a Marta Ribera, que lleva casi veinte años siendo un animal escénico de instantáneo poderío, interpretando a una narradora cupletista con la inquietante gestualidad de Ann Reinking. Da gusto verla, haga lo que haga, y se la echa de menos cuando no está en escena, pero a) su parlamento es redundante y, b) su segundo rol, el del mudo Gustavete, es prácticamente inexistente. Grandes momentos: Suspiros de España, mano a mano con Inma Cuesta, y el argentinísimo tema Yo no pedí nacer, que le ha escrito Víctor Manuel.
Inma Cuesta tiene encanto, gracia, y canta muy bien, pero no acabo de ver a Carmela con una sofisticada combinación negra ni cantando canciones como Abrázame otra vez, de Víctor Manuel, o Mientras duermes, de Vanesa Martín, que “te sacan” absolutamente de época. Le encajan mejor, del nuevo material, Yo reparto besos, también de Vanesa Martín, y la emotiva nana que le canta al miliciano herido, y, desde luego, las clásicas Yo te diré, En el café de Chinitas y Que viene el coco. Por otro lado, las podas del texto afectan al dibujo del personaje. Baste un ejemplo: en el original había un crescendo de tensiones, culminado por el humillante sketch de la burla a la República, que venía al pelo porque era el detonante para su enfrentamiento con los fascistas, unido al coro de los brigadistas condenados. Carmela no tenía ideología: su decisión final surgía del corazón, brotaba de la rabia y del dolor ante la injusticia, y por tanto era más fuerte, más orgánica. Aquí se rebela ante la imposición de tener que cantar el Banderita y se envuelve en la tricolor como la libertad guiando al pueblo: diría yo que perdemos con el cambio. Javier Gutiérrez exhala su verdad habitual y recuerda a un joven López Vázquez como Paulino, pero la potentísima parte onírica en el teatro vacío ha quedado muy menguada. Hablando de onirismos, tiene una escena “nueva” original y bien resuelta: el recitado de Romance de Castilla en armas que desemboca en una terrible anticipación de la victoria franquista a lomos del Ya hemos pasao de Celia Gámez. Me gustan mucho las estremecedoras filmaciones de la guerra, montadas por Valentín Álvarez, que abren la segunda parte; me gusta mucho la agónica versión de Jarama Valley a cargo del brigadista (Pablo Raya), y la idea, plenamente “de musical”, de enfrentar la canción al himno fascista Giovinezza, otra escena estupendamente levantada. Hay otro momento en esa línea pero de menor impacto, cuando las fuerzas del eje, encarnadas en un cura español (Javier Enguix), un teniente italiano (Javier Navares) y una oficial nazi (Marta Ribera) hacen un medley con Fiel espada triunfadora, Funiculí Funiculá, y Lili Marleen (que aquí adscriben tópicamente al nazismo: la cantaban soldados de ambos bandos). Entre la narración “externa” y las intervenciones fascistas poco tiempo les queda a Carmela y Paulino: esa es la sobrecarga a la que al principio me refería. Hay, sin embargo, una estrella inesperada en esa segunda parte: Javier Navares, que interpreta fenomenalmente al teniente Ripamonti y además canta de fábula. Álvaro Morte (el sargento Peláez) y Javier Enguix (el cura) tienen energía, pero sus personajes apenas poseen relieve. La escenografía de Beatriz San Juan queda un tanto acogotada en el escenario del Reina Victoria: lo mejor, con sus limitaciones, el felliniano carromato de los cómicos. ¡Ay Carmela! El musical tendrá éxito, pero podría ser un cañón y no lo es: sobran y faltan demasiadas cosas. Y, sobre todo, falta ritmo. Cabe esperar que Andrés Lima se lo inyecte.

L’estranger. De Albert Camus. Versión de Rodolf Sirera. Director: Carles Alfaro. Intérpretes: Ferran Carvajal, Francesc Orella. Teatro Lliure, Barcelona. Hasta el 12 de mayo.
¡Ay Carmela¡ El musical. De Sanchis Sinisterra. Director: Andrés Lima. Intérpretes: Inma Cuesta, Javier Gutiérrez y Marta Ribera. Teatro Reina Victoria, Madrid. Hasta el 26 de mayo.
 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

VINCENT VAN GOGH: A ARTE EM FORMA HUMANA

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em Pintura por em 11 de out de 2012
 
Vincent van Gogh foi um herói. Um gênio louco, miserável, dotado de sentimentos e verdade.

 
O que dizer de Vincent van Gogh? Eu tenho uma paixão platônica por ele desde os meus sete anos quando tive uma aula de educação artística sobre suas obras e sua vida. Encantei-me e desde então é meu pintor favorito. Tudo que sei sobre arte, todo o meu interesse, toda a minha curiosidade existe por causa dele. É um dos seres mais influentes do mundo e o seu demasiado desejo de ser simplesmente humano vai além de algo comovente.
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Vincent
Vincent van Gogh era epilético, depressivo e colecionava estampas japonesas. É, comecemos assim a falar sobre ele. Nasceu no dia 30 de março de 1853 na Holanda. Era um gênio torturado por sua própria emoção e quando foi diagnosticado como um homem mentalmente afetado viu nisso a oportunidade de converter seus demônios em arte. Foi a partir daí que deixou a Holanda para viver em Londres tendo em mente apenas um objetivo que não era pintar, mas sim pregar a palavra divina, salvar almas, mostrar para os miseráveis que era possível ser feliz se analisassem as coisas mais infames da vida. Esse foi o primeiro fracasso de Vincent. Ninguém se importava com suas palavras. Mesmo sendo um leitor assíduo de Dickens, Shakespeare e Victor Hugo, seus discursos eram fracos. Não bastava sem um grande pensador ou intelectual porque as pessoas ao seu redor não ligavam.
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A Pair of Shoes, 1885
Quando tinha 30 anos resolveu largar a bíblia para pintar. Simples assim. Ele já tinha familiaridade com a arte porque chegou a passar um tempo trabalhando na loja de quadros de seu tio e quando criança, pintava algumas coisas com sua mãe. Vincent tomou essa decisão certo de que através de seus quadros poderia tocar os pobres e mostrar a eles que seria possível sonhar mesmo vivendo de desgraças. Para Vincent, o paraíso estava nas coisas mais simples como as folhas das árvores, o sol, o vento batendo na cara... Vale lembrar que esses pensamentos otimistas não o livravam de seu temperamento grosseiro, irritável. Foi nesse período que conheceu sua grande musa: Sien, uma mãe sozinha e abandonada, igualmente miserável. Vincent considerava a convivência com ela uma influência positiva para sua criatividade. Sua família ao saber das condições de vida que ele levava em Londres o rejeitou, exceto seu irmão Théo que passou a apoia-lo em sua carreira como pintor.
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Sien retratada por Vincent, 1885
Seu primeiro grande quadro é o famoso “Os Comedores de Batata” de 1885. Vincent justificava as cores sujas, os tons escuros e a aparência “amarronzada” do quadro dizendo que queria mostrar que os comedores haviam arrancado as batatas do solo com suas próprias mãos, haviam conquistado aquela refeição através do esforço do trabalho honesto.
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The Potato Eaters, 1885
Logo em seguida, Vincent mudou-se para Paris e sua maneira de pintar também sofreu uma forte influência do espírito otimista parisiense, sendo visível através da presença de mais luz e cores em suas pinturas. Diferenciava-se dos demais impressionistas da época porque retratava a melancolia de Paris, os sentimentos negativos mais intensos como a raiva. Foi nesse período que conheceu Paul Gauguin e então, teve a ideia de unir-se a ele. A união não aconteceu de imediato porque Gauguin retornou para Londres enquanto Vincent permaneceu em Paris.
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Café Terrace at Night, 1888
Em 1888, Vincent partiu para Provença onde teria o ano mais frenético e angustiante de sua vida, tendo ao mesmo tempo a fase mais criativa de sua carreira artística. Foi nesse lugar que ele começou a pintar os campos de trigo e os girassóis, visíveis no quadro “O Semeador”. Vincent costumava definir seus quadros como grandes orgasmos. Curioso ou não, dizia também que transar e pintar muito não combinava, porque tanto uma coisa quanto a outra amolecia o cérebro.
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O Semeador, 1888
Théo resolveu patrocinar Gauguin com a condição de que o mesmo fosse trabalhar junto com Vincent e mesmo receoso por ter que conviver com ele, Gauguin aceitou a proposta.
Vincent não pintava baseando-se em questões estéticas, mas sim na emoção que seria possível passar através das cores selecionadas.
Enquanto Gauguin não chegava, ele ansiava pela convivência dos dois e foi ai que surgiu seu vício por absinto. Conheceu nessas mesmas condições a família Roulin. Era uma família feliz, tranquila, normal e que fazia muito bem a Vincent por distrai-lo e tira-lo do modo de viver autodestrutivo. Chegava a dizer que os amava.
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Retrato do carteiro pai de família, Joseph Roulin, 1888
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Sra. Roulin, 1888
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O jovem Armand Roulin, 1888
Gauguin finalmente começou a viver com Vincent, mas a relação dos dois não ficou nada bem depois de um mês. Tinham filosofias artísticas muito diferentes! Enquanto Gauguin considerava o ato de pintar como algo passageiro, uma inspiração que vem e vai, Vincent jurava que pintar era dar todo o suor e trabalho para concretizar algo real, permanente. Sua alta produção, às vezes com direito a mais de um quadro por dia, começou a irritar Gauguin, despertando nele um sentimento de inveja. Tomado por isso, pintou o quadro “Van Gogh pintando girassóis”, algo chulo, representando Vincent com o rosto desajustado, como um simples pintor sentado analisando um vaso. Reduziu a intensidade dele meramente a isso. Quando viu o quadro, Vincent disse que Gauguin havia o retratado como um louco.
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Van Gogh pintando Girassóis por Paul Gauguin, 1888
Com o relacionamento cada vez pior, Gauguin o abandonou numa certa noite para dormir num hotel e Vincent, por volta da meia noite, foi ao seu bordel favorito e entregou para uma das prostitutas um papelote. Nele estava embrulhado um pedaço de sua orelha. Na parte da manhã quando Gauguin resolveu retornar ao estúdio, encontrou policiais e sangue por toda parte! Esse famoso acontecimento levou Vincent a internar-se num hospício, temendo que nunca mais se recuperasse, tendo espasmos de loucura sem cura que o levavam a comer a tinta de seus próprios tubos.
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Autorretrato com a orelha cortada, 1889
No hospício Vincent começou a aperfeiçoar sua pintura. Em 1889 pintou seu último autorretrato e considerou que tentar suicídio era como recuar da margem de um rio ao ver que a água é fria. Théo decidiu manda-lo para Auvers Sur Oise, lugar um pouco distante de Paris, sob a vigia do Dr. Paul Gachet.
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Dr Paul Gachet, 1890
Foi nessa fase que Vincent começou a revolucionar seu modo de pintar. Sua recuperação chegou a ser cogitada já que era visto vivendo bem, recebendo a visita dos familiares e feliz. Théo acreditava que finalmente seu irmão estava salvo, mas não era isso que realmente acontecia.
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Seu último Autorretrato, 1889
Eis o quadro revolucionário, a grande obra prima de Vincent van Gogh: O Campo de Trigo com Corvos, pintado um pouco antes de sua morte.
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Campo de Trigo com Corvos, 1890
Foi sua primeira obra vendida e reconhecida graças à falta de perspectiva, já que ao observar o quadro não sabemos exatamente para o que estamos olhando, e os corvos que aparentam ora voar para longe, ora voar para perto, além das cores pulsantes. O quadro era um bloco de cor vivo e inaugurou o Modernismo e o Expressionismo.
Vincent estava no ápice de sua carreira, artisticamente lúcido, mas a loucura continuava a destruir seu lado emocional. Não suportava mais os espasmos e acompanhado por isso, surgia a ideia de que sua família havia o abandonado de vez.
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Skull With Cigarette, 1886
Théo o encontrou morto em seu estúdio. Vincent havia dado um tiro no próprio abdômen e já estava completamente inconsciente! Havia cometido suicídio e a tentativa de salva-lo foi em vão...
Vincent morreu com a esperança de que teria seu trabalho reconhecido pela emoção que sempre depositava em cada pincelada. É revoltante saber que poucos anos depois, seus quadros começaram a ser vendidos por milhões. O importante e, talvez, confortante é ter noção de que pelo menos hoje em dia sua obra é reconhecida e emociona milhares de pessoas ao redor de todo mundo.

http://lounge.obviousmag.org/cafe_amargo/2012/10/vincent-van-gogh-a-arte-em-forma-humana.html


quarta-feira, 8 de maio de 2013

La vida cubana de Hemingway


Primeras páginas del pasaporte del escritor. / Heminguay Collection (EFE)
 

La vida cubana de Hemingway llega a Boston

Un acuerdo de cooperación cultural permite la llegada de 2.000 documentos digitalizados procedentes de la casa del escritor en Cuba a EE UU y la restauración de Finca La Vigía

 

Aunque tenía un despacho preparado en la torre suroeste de su casa en el suburbio habanero de San Francisco de Paula, solo trepaba hasta allí cuando los personajes le arrastraban. Ernest Hemingway (1899-1961) prefería escribir ­–de pie con zapatillas de andar por casa, primero a mano y luego a máquina–, en su luminoso cuarto de Finca Vigía; una estancia dividida en dos alcobas que George Plimpton describió con detalle en la entrevista de The Paris Review de 1958. Eso fue cuatro años después de que el autor de París era una fiesta recibiera Premio Nobel de Literatura y tres antes de que se volara los sesos. Aquel cuarto, atestado de papeles, libros, panfletos y notas, y el conjunto de material bibliográfico que quedó en la casa han permanecido fuera del alcance de investigadores y académicos estadounidenses durante más de cinco décadas, algo que cambió este lunes con la llegada de una versión digitalizada de 2.000 documentos a la Biblioteca JFK de Boston.
Detrás de este proyecto se encuentran la fundación estadounidense Finca La Vigía, creada en 2004 tras un viaje a la isla cubana por Jenny Phillips –nieta del editor y gran amigo de Hemingway Maxwell Perkins–, y el congresista de Massachusets, James McGovern, defensor de la normalización de las relaciones entre Cuba y EE UU. Esta es la segunda partida de documentos digitalizados de Hemingway que llega a Boston, después de los 3.000 que se incorporaron a la colección en 2008, entre los que se encontraban, por ejemplo, una versión alternativa del final de la novela “Por quién doblan las campanas”. La iniciativa de la fundación La Vigía incluye la mejora de las condiciones de conservación de los materiales que allí se encuentran, la restauración de la casa, y la construcción de un nuevo edificio con controles de temperatura y humedad. También la formación de personal especializado, en un ambicioso proyecto que ha contado con la ayuda del Departamento de Estado y el Departamento del Tesoro, una acción de cooperación cultural con el gobierno cubano, sin precedentes.
Hemingway estaba en Cuba en noviembre de 1959 cuando Castro llegó a La Habana, pero abandonó el país por última vez en julio del año siguiente. Trasladó a una caja fuerte los manuscritos y papeles que consideró más valiosos. Su finca y cerca de 6.000 volúmenes de su biblioteca fueron nacionalizados por el gobierno cubano tras la fallida invasión de Bahía Cochinos. El aventurero escritor y periodista, cuyo trabajo y estilo marcaron un antes y un después en la literatura estadounidense, se suicidó en julio de 1961. La administración de Kennedy logró entonces negociar un último viaje de Mary, la viuda del escritor, a la isla. Trajo consigo un barco lleno de papeles y libros que quedaron depositados en la biblioteca de Boston, quemó lo que consideró oportuno y dejó detrás miles de documentos más.
Los que este lunes llegaron a la colección de JFK acercan la cara más doméstica y cotidiana del escritor: sus anotaciones sobre las mareas y el clima, las notas que tomó cuando navegaba por la bahía intentando avistar submarinos alemanes en los cuarenta, su pasaporte, una carta a Ingrid Bergman, listas de la compra o recibos de cuentas en bares. Trozos de una vida sobre la que aún se investiga con pasión. Se va completando el puzle con esta nueva parte de aquel barullo que rodeó al escritor de El viejo y el mar en esa bella finca cubana donde escribió ésta y otras muchas novelas, y que, según Plimpton, dejaba “el espacio justo, encima de una estantería desbordada, para una máquina de escribir”.

http://cultura.elpais.com/cultura/2013/05/08/actualidad/1367986888_672689.html


 

Gabriel García Márquez


Inspirado por Kafka, ligado a Fidel, perseguido pela CIA. De uma realidade fantástica a outra e, enfim, a nossa. Porque temos todos um pouco dos Buendías.

em recortes por em 06 de Mar de 2013

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Jornalista, escritor e ativista político, aos 86 anos, Garcia Márquez é um dos mais nobres e influentes nomes da literatura, do jornalismo e da América Latina. Ainda jornalista, criou laços com personalidades como Fidel Castro - por isso foi posto em alerta vermelho pela CIA. Publicou vários ensaios e crônicas políticas, além de livros como "Relatos de um Náufrago", 1960, e "Crônica de uma Morte Anunciada", de 1981, que são referências no Jornalismo Literário.
Como escritor, ganhou o Nobel da Literatura em 1982, pelo conjunto de sua Obra. Publicou mais de 30 livros, entre eles grandes obras como "O Amor nos Tempos de Cólera", 1985, e "Do Amor e Outros Dêmônios", 1994, as quais são algumas das suas estórias que foram readaptadas para o Cinema.
Hoje o escritor sofre de leve demência e perda da memória, o que o forçou a se aposentar, porém, até meados de 2009 ainda escrevia e esteve sempre a contribuir com importantes causas políticas e sociais.
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Inspirado por Franz Kafka na adolescência, ao ler o livro "Metamorfose", Gabo - como é carinhosamente conhecido - nos deu um mundo criativo de impossibilidades. Eu me lembro até hoje de quando li García Márquez pela primeira vez. Foi "Cem Anos de Solidão", 1967, - e os extraordinários causos da família Buendía narrados com tanta propriedade literária que se tornou um dos grandes pilares da Literatura do século 20, sendo uma das obras mais vendidas e traduzidas ao redor do mundo. Todo o realismo fantástico do livro é capaz de inspirar-nos os sentidos, transformando a leitura numa experiência quase sinestésica.
Até os meus sonhos ficaram mais criativos depois que eu li Gabo. O que mais poderia dizer?
Gabriel_Garcia_Marquez,_2009.jpg
"As pessoas não param de sonhar porque envelhecem, elas envelhecem porque param de sonhar"


Leia mais: http://obviousmag.org/sphere/2013/03/gabriel-garcia-marquez.html#ixzz2SjQqYFzS
 

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Silêncio

em Três Poemas (por Drummond)

Folheando o “Discurso de Primavera e Algumas Sombras“, um livro indevidamente pouco recordado no conjunto geral da extraordinária poesia do meu querido Drummond, me deparei “casualmente” com o que chamei pessoalmente de uma Trilogia do Silêncio. Um conjunto de três belos poemas sobre a dialética entre silêncio e palavra com os títulos de: “A Palavra Mágica”; “O Constante Diálogo” e “SOM”. Drummond não era psicanalista e na sua arte não encontraremos o rigor da teoria, mas sua poesia fabulosamente se debruça sobre o mesmo fenômeno do incompleto da existência e das armadilhas da palavra. Cuidadoso que era, sabia que poesia é palavra lapidada sendo antes de mais nada ritmo e forma. Poesia não nasce pronta num instante de comunicação cósmica. A palavra deve ser lapidada, catada, escolhida, escrutinada. O silêncio somente deve ceder de sua condição de possibilidade ante o minuto de ouro da poesia que dorme na sombra e somente encontra o motivo de despertar diante de algo que vibra na vida do poeta.
“A PALAVRA MÁGICA
——————————————– 

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra
O CONSTANTE DIÁLOGO
——————————————–

Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro
Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.
SOM
——————————————–
Nem soneto nem sonata
vou curtir um som
dissonante dos sonidos
som
ressonante de sibildos
som
sonotinto de sonalhas
nem sonoro nem sonouro
vou curtir um som
mui sonso, mui insolúvel
som não sonoterápico
bem insondável, som
de raspante derrapante
rouco reco ronco rato
som superenrolado
com se sona hoje-em-noite
vou curtir, vou curtir um som
ausente de qualquer música
e rico de curtição.”

Silêncio e Palavra

Thiago de Mello

Thiago de Mello

I
A couraça das palavras
protege o nosso silêncio
e esconde aquilo que somos

Que importa falarmos tanto?
Apenas repetiremos.

Ademais, nem são palavras.
Sons vazios de mensagem,
são como a fria mortalha
do cotidiano morto.
Como pássaros cansados,
que não encontraram pouso
certamente tombarão.

Muitos verões se sucedem:
o tempo madura os frutos,
branqueia nossos cabelos.
Mas o homem noturno espera
a aurora da nossa boca.
II
Se mãos estranhas romperem
a veste que nos esconde,
acharão uma verdade
em forma não revelável.
(E os homens têm olhos sujos,
não podem ver através.)

Mas um dia chegará
em que a oferenda dos deuses,
dada em forma de silêncio,
em palavra transfaremos.

E se porventura a dermos
ao mundo, tal como a flor
que se oferta - humilde e pura - ,
teremos então cumprido
a missão que é dada ao poeta.
E como são onda e mar,
seremos palavra e homem.

Fonte: www.fisica.ufpb.br

Tai o que eu queria dizer...

Um Girassol da Cor de Seu Cabelo: Saudades da Esquina e do Clube


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A capa do álbum Nel­son Angelo & Joyce, 1972
Nos anos 70, já havia o Chico Buar­que de “Mulhe­res de Ate­nas”, o Cae­tano Veloso de “Sampa”, o Edu Lobo de “Arras­tão” na indo­má­vel voz de Elis. E isso era bom. Mas nós, na peri­fe­ria da peri­fe­ria do mundo neces­si­tá­va­mos de algo mais. Algo mais cos­mó­po­lis, que nos  sin­te­ti­zasse e sin­to­ni­zasse com o mundo ou ligasse defi­ni­ti­va­mente ao rock sem dei­xar de ser orgu­lho­sa­mente peri­fé­ri­cos – até mesmo den­tro de nosso país. Fal­tava a esses todos uma carga pop, bem sabía­mos. Uma liga­ção com o mundo de uma forma ainda mais espon­tâ­nea e com­plexa que nos eflú­vios dema­si­ado van­guar­dis­tas da Tro­pi­cá­lia ou de Os Mutan­tes. Ou que nas bem lapi­da­das rimas toan­tes de Chico, decal­ca­das de João Cabral de Mello Neto. Nós já éramos, de há muito, o cen­tro de nosso mundo. Mas ainda não sabíamos.
Esse fenô­meno, radi­cal­mente musi­cal, rico na inven­ção harmô­nica, ante­nado ao que ocor­ria lá fora, porém sem per­der a bossa de ser­tões pro­fun­dos, sem pre­dar a ore­lha ser­ta­neja e sem dei­xar de des­cer o Rio São Fran­cisco até desviar-se a Ponta de Areia, no Recôn­cavo Bai­ano, deu-se atra­vés de Mil­ton Nas­ci­mento e seus cola­bo­ra­do­res: Lô Bor­ges, Beto Gue­des, Tavi­nho Moura, Toni­nho Horta, Nel­son Angelo, Joyce, Alaíde Costa, Wag­ner Tiso, Flá­vio Ven­tu­rini, Fer­nando Brant, Ronaldo Bas­tos, O Som Ima­gi­ná­rio, et alli. Era como se o bar­roco das igre­jas de Minas de repente fun­disse com o som dos Bea­tles para pro­du­zir um ter­ceiro que era ainda mais ambi­ci­oso até mesmo que o som do quar­teto de Liver­pool depois do Pep­pers. Chico e Cae­tano eram poe­tas valendo-se de can­ções. Edu Lobo, um com­po­si­tor sofis­ti­cado, embora exces­si­va­mente cau­te­loso. Mil­ton era a can­ção em estado bruto. 
A onda ficou conhe­cido como Clube da Esquina. Um rótulo gené­rico, super­fi­cial, mas sufi­ci­ente. O lema era um pouco o que segue na letra de Fer­nando Brant em “Para Len­non e McCart­ney”, que, aliás presta conta de um misto de fas­ci­na­ção, des­con­solo, emu­la­ção, supe­ra­ção: “Por que vocês não sabem do lixo Ocidental/ Não pre­ci­sam mais temer/ Não pre­ci­sam da solidão/ Todo dia é dia de viver// Por que vocês não verão meu lado Ocidental/ Não pre­cisa medo, não/ Não pre­cisa da timidez/ Todo dia é dia de viver// Eu sou da Amé­rica do Sul/ Eu sei, vocês não vão saber/ Mas agora sou cowboy/ Sou do ouro, eu sou vocês/ Sou o mundo, sou Minas Gerais”. É ao mesmo tempo senso de sentir-se des­pre­zado ou igno­rado, e supe­rar esse estado, esse opró­brio, por inven­ti­vi­dade. Ser radi­cal­mente do mundo care­cia de ter um pé no quin­tal, na pro­vín­cia. Assu­mir ser o lixo, e, nesse movi­mento, por amal­ga­mar aspesc­tos “arcai­cos”, “taca­nhos” e infor­ma­ções moder­nís­si­mas, converter-se no luxo do Oci­dente. Ser o rema­tado luxo da aldeia musi­cal do globo. E esse luxo tam­bém somos, doa em quem doer. (Ante­on­tem, aliás, Paul McCart­ney fez show em Belo Hori­zonte (antigo Cur­ral d’El Rey) e disse em por­tu­guês: “eu vim dizer: uai!”).
Enquanto isso há três álbuns abso­lu­ta­mente vene­ra­dos: o Clube da Esquina; o cha­mado disco do Tênis (de Lô Bor­ges); e o Nel­son Angelo & Joyce. Todos do emble­má­tico ano de 1972. Estra­nha coin­ci­dên­cia. Atra­vés des­ses álbuns – e do ras­ti­lho deles em outros menos memo­rá­veis ou mais epi­só­di­cos, depois mas sobre­tudo antes – nós sabía­mos que não só tínha­mos che­gado ao pata­mar da con­tra­cul­tura inter­na­ci­o­nal, mas a supe­rado com a tran­qui­li­dade e a efi­cá­cia artís­tica e musi­cal daque­les caras. (Lem­bro que em 72, eu tinha ape­nas 9 anos, e ia des­co­brir esse uni­verso, fas­ci­nado, um tanto mais adiante).
Mas então, nós saía­mos do Nor­deste sequi­o­sos por Minas. Minas era nosso suple­mento. Saía­mos lou­cos pelas mon­ta­nhas, velhos ritos, as fer­ro­vias, a mís­tica do Grande Ser­tão, as igre­jas, coros e cida­des colo­ni­ais de Minas – que, de outra forma tam­bém as tínha­mos no Nor­deste (em São Luís, Olinda, Recife, Sal­va­dor, Penedo, São Cris­tó­vão) – onde esses eflú­vios musi­cais tinham medrado. Mas faltava-nos Alei­ja­di­nho, e o sen­tido com­pó­sito, com­plexo de pas­sado e futuro jun­gi­dos, da forma como os minei­ros haviam repro­ces­sado no seu som. Ou uma certa dimen­são cívica, pre­sente em can­ções como “Cora­ção Civil” — que pare­ciam defron­tar a dita­dura mas sem per­der um grama de lirismo. E nem por som­bra seguía­mos ape­nas sedu­zi­dos por um sen­ti­mento orto­do­xa­mente cató­lico – e é claro que havia algo de cató­lico tam­bém naquilo – mas mais era: era uni­ver­sal, no mais lato senso — e não no da Igreja Uni­ver­sal do Reino de Deus. Ou seja, era reas­su­mir a radi­ca­li­dade uni­ver­sal do termo. Era, no mínimo, astu­ci­oso que esse apa­rente des­prezo, o da con­di­ção de “peri­fé­ri­cos”, fosse (re-)convertido em pai­xão e fé.
E até hoje, nos rimos do facto: o que dá certo por aqui – ainda quando ori­gi­na­lís­simo – é lou­vado como con­ti­nu­a­ção de Europa (e, quiet often, não neces­sa­ri­a­mente de Por­tu­gal, mas sobre­tudo de Itá­lia, de Ale­ma­nha, de França, até de Ingla­terra). O que dá errado, bem, o que dá errado é nosso mesmo e pecu­liar (e, fre­quen­te­mente, pro­vem tam­bém de Por­tu­gal). Oremos.
Sem remis­são. 
Isso de san­ção vinda de fora, de repente, dei­xou de nos obce­car. Por­que a música nos imu­ni­zou con­tra essas falá­cias e ara­pu­cas. Nos auto­no­mi­zou. Nos abriu para o mundo sem esque­cer o pas­sado. E, claro, esses minei­ros nos apre­sen­ta­ram pon­tu­al­mente a uma pers­pec­tiva musi­cal mais com­plexa e moderna que a dos Bea­tles. Como se fosse uma melhor rea­tu­a­li­za­ção de 22 e das pers­pi­ca­zes lições dos Andrade: Mário e Oswald. Essa (in-)sanção. Insa­ni­dade, se obses­siva. E, logo, ( por que não?) de novo o “tupi or not tupi” na crista da onda. Ou o Macu­naíma. Ou a Antro­po­fa­gia de Oswald. A devo­ra­ção cani­bal e incor­po­ra­ção da subs­tân­cia por eli­mi­na­ção da borra. E, então, quase qual­quer forma de san­ção vinda de fora, com alguma pre­ten­são de hie­rar­quia, já nos pare­cia um pouco tola. Embora com Mil­ton e o Clube da Esquina tenha­mos che­gado a uma modesta sín­tese e rea­tu­a­li­za­ção disso tudo. Ou seja, a uma solu­ção muito pecu­liar de psi­co­de­lia, con­tra­cul­tura e novas infor­ma­ções musi­cais àquela altura da pan­to­mima. E, como não podia dei­xar de ser, fun­dida a impul­sos polir­rít­mi­cos e meló­di­cos tra­di­ci­o­nais, arcai­cos, afri­ca­nos, índi­ge­nas, ibé­ri­cos: atu­a­lís­si­mos. Às simul­ta­nei­da­des e com­po­si­ti­vi­da­des que tanto nos atraem e nos for­mam. Assim, quando Mes­tre Antô­nio Car­los Jobim gra­vou Lô Bor­ges (“O Trem Azul”), em seu último álbum, no meado dos 90, bem sabia o quanto a home­na­gem prestava-se às estra­nhas inven­ções harmô­ni­cas do home­na­ge­ado ou da turma de Minas.
O resul­tado, antes disso, é que, já em plena década de 80, íamos a Ouro Preto, Mari­ana, Tira­den­tes, São João D’El Rey, Con­go­nhas, Sabará, Dia­man­tina como quem vai a Roma ou San­ti­ago de Com­pos­tela, Can­ter­bury ou Lour­des, ainda por conta dessa onda dos 70. Pedir a ben­ção e a conta dessa musi­ca­li­dade faceira e novi­da­dosa, que fun­dia gui­tar­ras elé­tri­cas a berim­baus, tam­bo­res cri­ou­los, coros de ciran­das, rabe­cas, caxi­xis e vio­las cai­pi­ras. Havia inu­si­ta­das orques­tra­ções. Havia senhas que não pre­ci­sá­va­mos glo­sar. Que enten­día­mos de ime­di­ato, tra­zía­mos de cor, como se tatu­a­das no espí­rito. Havia o giras­sol da cor dos cabe­los dela. A voz encan­ta­tó­ria de Mil­ton, (que depois tornar-se-á exces­siva, pre­ci­o­sista, dema­si­ado melí­flua, afe­tada, meio “étnica” ou rococó, após os radi­cais anos 70. E nos des­gos­tará defi­ni­ti­va­mente). Havia o senso de pau e corda (coi­sas acús­ti­cas + uma densa per­cus­são) des­ses três dis­cos fun­da­men­tais. Tudo isso meio que se per­deu na poeira de estre­las. E quase nin­guém se lem­bra mais daquele você que pare­cia comigo e não se acom­pa­nhava de um senhor. Mas antes disso, o cora­ção bateu sem medo,  e  buscou-se um cami­nho, feito  nuvem cigana, “pelas ruas capis­tra­nas de toda cor”:

I. Um Giras­sol da Cor de Seu Cabelo (com Lô Borges):

Este hino­zi­nho gera­ci­o­nal e intrans­fe­rí­vel em tom menor. Nenhuma como esta para der­re­ter o cora­ção das garo­tas àque­les tempos.

II. Cais (Com Mil­ton e Car­mi­nho, numa ver­são pos­te­rior, ten­dendo ligei­ra­mente ao fado)*
*Este ano, no ani­ver­sá­rio da cidade de For­ta­leza, 13 de Abril pas­sado, um dueto impro­vá­vel nos brin­dou com o show de encer­ra­mento da festa. Des­ta­que para “Cais”, can­ção ori­gi­nal­mente regis­trada no mesmo álbum do “Giras­sol…” acima, o opu­lento Clube da Esquina. Na ver­são abaixo, qua­tro déca­das depois, é ado­rá­vel a parte de Car­mi­nho e a dife­rença dos acen­tos. E é claro que Mil­ton, aos 70, não é mais o mesmo nosso Mil­ton dos anos 70, mas guarda vestígio):


III. Tudo Começa de Novo (com Nel­son Angelo e Joyce):

O fecho de um disco vene­rado pelos “ini­ci­a­dos” no Clube.

IV. Pai­xão e Fé (com Mil­ton Nas­ci­mento e os Cana­ri­nhos de Petrópolis)

De repente, Bach e os vio­lei­ros de Minas reu­ni­dos na mesma praça.

V. Cru­zada (com Beto Guedes):

Sinal de espe­rança e fra­ter­ni­dade na tra­ves­sia de deser­tos, des­ma­ze­los polí­ti­cos e ditadura.


http://www.escreveretriste.com/
 

Mesmo que mude - Bidê ou Balde -


 
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que acabe

QUERO DANÇAR

      
Há quanto tempo não danço? Não lembro. Mas sinto até agora aquele abraço ondulante... fazendo marola!
Aprendi com meu irmão, na sala, no corredor e nas festinhas regadas a cuba libre na casa dos amigos (você que tem menos de 30, 40, pode parar de ler).
Meus pais não gostavam que eu fosse mas eu tinha UM irmão! E as minhas duas amigas vizinhas também tinham IRMÃOS. Então... sempre um par de olhos masculinos era responsável por nós.
Mas o bom mesmo era durante a paquera ou já no namoro mesmo.
Quando ele soltava a mão esquerda pra colocar os dois braços na cintura da gente... era quase um pedido de casamento! E a circunferência dos braços ía diminuindo de acordo com o interesse até os braços se cruzarem nas nossas costas. Sim, porque essa  decisão era dele... nós éramos mulherzinhas e não tomávamos iniciativa alguma... Mas era também o momento de descartar o moço pra sempre - caso vc não estivesse a fim. E essa decisão era nossa... totalmente mocinhas - se é que me entendes.
Era namoro. O corpo todo colado. Rosto. Coxa. Peito. Sentir o coração ressoar com a batida da música. A mão suar. Os olhares, a sincronia de passos, o movimento exato... tudo tão natural e absurdamente sensual.
A gente cresceu um pouquinho e ainda pegou o tempo do "vamos pra outro lugar" dito sussurrado no meio da pista, e também pegou o tempo de dançar junto, e muito, com os amigos.
Quem aqui dançou com Carlinhos Sampaio levanta a mão!
Aliás, tinha uns baianos muito bons nesse negócio de dois pra lá dois prá cá - e olha que não peguei os tempos áureos da Clouse Up...mas dancei bastante. E dançava bem. Era boa de samba quadradinho - onde meu irmão dá show até hoje - o que na maioria das vezes surpreendia os menos avisados.

Bom mesmo seria hoje, no restaurante, antes mesmo da sobremesa, ouvir um "quer dançar?".
E de pé, na hora em que o braço puxasse para o primeiro passo, poder se ajeitar dentro daquele abraço e  me deixar levar.      

domingo, 5 de maio de 2013

Paisagens Voyeuristas


Em Fotografia por em 08 de jan de 2013


"Esse projeto me deu um senso de comunidade. Todos somos voyeurs porque é através do olhar que nos conectamos com estranhos." - Gail Albert Halaban



Out My Window é o livro fotográfico de Gail Albert Halaban.
Tudo começou em 2006 quando Gail teve seu bebê e se levantava diversas vezes no meio da noite. Olhava pela janela e imaginava quem poderia estar lá fora e o que estava fazendo. Encontrou vários observadores. Gail afirma que todas as fotos publicadas têm a permissão de seus observadores.
"Em seis anos fotografando, apenas um disse não."
Algumas pessoas podem até achar que as fotografias de Gail são agressivas ou invasivas por roubarem os momentos das pessoas, mas elas podem também revelar a vida de uma cidade através de suas janelas e seus moradores encapsulados em seus momentos íntimos, de uma forma poética e muitas vezes melancólica.
Algumas figuras aparecem em silêncio, às vezes sozinhas... em uma dinâmica real humana.


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Artigo da autoria de Margarete MS.
Eu tenho um coração um século atrasado..
Saiba como fazer parte da obvious.
 
 

Vale a pena ver de novo?


 

“só existe
uma gioconda
uma estrela
não cai
duas vezes
no mesmo
céu
não se pega
duas vezes
a mesma
onda
no fim
do arco-íris
só há
um pote
de mel
mas quem
sofre
de paixão
interpreta
sempre
o mesmo
papel
procurando
em vão
uma saída
como
se a vida
não fosse
enfim
um filme
de buñuel”
Não Tem Reprise, poema de Paulo César de Carvalho
 

Amar ou odiar Hollywood?


Por que nunca me canso de amar e de odiar Hollywood?

“Tão homem tão bruto tão Coca-Cola nego tão rock n’roll
Tão bomba atômica tão amedrontado tão burro tão desesperado
Tão jeans tão centro tão cabeceira tão Deus
Tão raiva tão guerra tanto comando e adeus
Tão indústria tão nosso tão falso tão Papai Noel
Tão Oscar tão triste tão chato tão ONU e Nobel
Tão hot dog tão câncer social tão narciso
Tão quadrado tão fundamental
Tão bom tão lindo tão livre tão Nova York
Tão grana tão macho tão western tão Ibope”
Trecho de Cinema Americano, canção de Rodrigo Bittencourt
Interpretada por Thais Gulin, que a misturou com o rap Baby Got Back, de Sir Mix-a-Lot
 

sábado, 4 de maio de 2013

Vanzolini, cascavéis e o amor que rasteja

E lá se foi Paulo Vanzolini, 89. Não tenho nada a acrescentrar ao seu obituário. Deixo, porém, nesta madruga tingida de luto e melancolia, uma crônica sobre um dos seus maiores personagens: a mulher que ronda a cidade à procura do seu amor vira-lata.
V de vingança, V de Vanzolini.
A mulher chega na frente do bar, assim como não quer nada, vasculha com as vistas, e vai embora. Mais adiante repete o mesmo ritual em outra freguesia. Está desesperada à procura do marido, do traste, do vagabundo, como deve ser tratado doravante.
De tanto ver tal cena na capital paulista, quando trabalhava como patrulheiro de ruas no baixo meretrício, Paulo Vanzolini fez a música “Ronda”, como relata o poeta-sambista no filme “Um homem de moral”, dirido por Ricardo Dias.
Conheci Vanzolini pessoalmente há quase cinco anos. Na véspera das homenagens ao seu 85º aniversário. Diante de todo aquele samba-exaltação ao músico, ele dizia preferir receber todas as honras, vivo ou morto, pelo seu trabalho como zóologo da USP, doutor em biologia em Harvad, cientista especializado em répteis.
Havia começado, na obsessão por descobrir os mistérios da natureza, um estudo sobre o  comportamento das cascáveis. “Não estou falando das mulheres indomáveis, amigo”, mandava o chiste.
Criatura que rasteja, seja macho, fêmea ou bicho era com Vanzolini. A música dele está repleta da gente que esperneia, alma em desassossego, como a dama que procura o marido, amante  ou cacho em uma longa viagem ao fim da noite paulistana.
E foi ao ouvir de novo a canção que joguei na mesa do botequim o debate: esta mulher de “Ronda” ainda existe? A destemida que enfrenta o frio e as almas sebosas da madruga em busca do seu homem?
Há controvérsias, como diriam os diplomáticos. Ora, hoje em dia existe o celular, ela não careceria de tanta humilhação, diriam outros mais espertos. E se ele desligou o aparelho, como muitas vezes acontece nos chá-de-sumiço do gênero?
Um pouco da canção enquanto o leitor reflete sobre o tema: “De noite eu rondo a cidade/ A te procurar sem encontrar/ No meio de olhares espio em todos os bares/Você não está…”
O problema é que agora somos nós, os homens, que rondamos em vão à procura da cria das nossas costelas, opinariam amigos que se pelam de medo de um chifre. Até que faz sentido. Sintoma dos tempos, coisas da vida. Bem feito. Eu acho é pouco. Levamos o troco da história.
Vanzolini gira na agulha: “Volto pra casa abatida/ Desencantada da vida/ O sonho alegria me dá/ Nele você está…”
Coitada, você diria a essa altura, abaixou-se mais do que os répteis investigados pelo Vanzolini. Recolha a sua piedade, amigo, e aguarde as cenas dos próximos capítulos.
“Ah, se eu tivesse/ quem bem me quisesse/ Esse alguém me diria/ Desiste, esta busca é inútil/ Eu não desistia…”
Até ai tudo bem, rola o vinil na vitrola, mas a dama, logo adiante, já ensaia a tragédia: “Porém, com perfeita paciência/ Volto a te buscar/
Hei de encontrar/ Bebendo com outras mulheres/ Rolando um dadinho/Jogando bilhar.”
Como vê, amigo, o ciúme sempre corre na frente da realidade e puxa o rabo de todos demônios interiores.
Até o trágico epílogo: “E neste dia então/ Vai dar na primeira edição/ Cena de sangue num bar/ Da avenida São João.”.
Não foi por falta de aviso. Os seres que rastejam depuram no alambique do peito os venenos mais trágicos.

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2013/04/29/vanzolini-cascaveis-e-o-amor-que-rasteja/

Desmontar el amor

Jeffrey Eugenides escribe novelas cada nueve años y de propuestas muy distintas

En 'La trama nupcial' no reivindica la novela decimonónica, pero sí algunos aspectos de la tradición

Nueva York
 

El escritor estadounidense Jeffrey Eugenides. / Pascal Perich

 
Nacido en 1960 en Detroit, urbe que durante décadas fue el corazón de la industria automovilística más poderosa del planeta, a lo largo de su infancia y juventud Jeffrey Eugenides vivió de cerca el dramático proceso de deterioro que sufrió su ciudad natal desde el punto de observación privilegiado de Grosse Point, zona residencial situada en las orillas del lago Michigan. Estos dos enclaves, el centro urbano de Detroit y las áreas limítrofes a la metrópolis, constituyen el escenario de sus dos primeras creaciones novelísticas. Las vírgenes suicidas (1993) refiere la historia de cinco hermanas que ponen fin de manera consecutiva a sus vidas tras asomarse al terror primordial del sexo. Contada en primera persona del plural, la narración reproduce las fluctuaciones del coro de voces masculinas configurado por los antiguos pretendientes de las hermanas. La novela sorprendió por su frescura y originalidad y fue llevada al cine por Sofia Coppola. Nueve años después, en 2002, el escritor americano de origen griego publicaba una fábula si cabe más audaz y sorprendente que la anterior. Middlesex es una obra de considerable complejidad y ambición, diestramente contada por alguien (Calíope o Cal Stephanides, según el momento de la historia en que nos encontremos) que cambia de sexo durante el transcurso de la narración. La novela efectúa un recorrido por varias fases de la historia de una familia que se muda de continente, a la vez que da cuenta de diversos episodios históricos con la crónica convulsa de Detroit como trasfondo. Middlesex fue galardonada con el Premio Pulitzer en 2007. Con misteriosa regularidad, tras otros nueve años exactos de silencio narrativo, en 2011, Eugenides publicó en Estados Unidos una obra muy distinta de sus dos apuestas narrativas anteriores. La trama nupcial, que ahora edita Anagrama, es una luminosa meditación acerca de la distancia que media entre la vida y la literatura cuando esta última trata de atrapar el misterio inasible de la pasión amorosa. Con enorme agilidad, la acción da cuenta de las peripecias de un triángulo sentimental en el que se ven envueltos tres jóvenes que cursan estudios universitarios en un campus de élite de la Costa Este de Estados Unidos. En La trama nupcial Jeffrey Eugenides se adentra en un mundo ficcional tan alejado de los que había explorado en sus dos entregas anteriores que el lector tiene la sensación de estar frente a un escritor radicalmente nuevo. La conversación tiene lugar en un café senegalés de la Avenida Madison, en Manhattan. Jeffrey Eugenides transmite una impresión de inmediatez, claridad, sencillez y autenticidad que son reflejo fiel de los sentimientos que transmite su prosa.
PREGUNTA. Resulta intrigante saber que el motor de su última novela fue una frase que acababa de escribir.
RESPUESTA. Rigurosamente cierto. La protagonista de La trama nupcial estudia semiótica en la universidad, aunque lo que le gusta de verdad son las novelas a la antigua usanza, como las de Jane Austen. La frase que usted dice es: “Los problemas amorosos de Madeleine empezaron cuando sus lecturas de teoría literaria desconstruyeron la idea que tenía del amor”. En el momento en que escribí eso comprendí que tenía que empezar una novela distinta.
P. ¿Qué papel juega en todo esto la semiótica?
R. Madeleine lee con fruición los Fragmentos de un discurso amoroso, de Roland Barthes, libro que le sirve para articular una postura intelectual acerca de la experiencia del amor, que la realidad se encarga de desmontar con suma facilidad, porque a la hora de la verdad se enamora perdidamente sin que ninguna teoría le sirva de ayuda.
P. Usted es autor de tres novelas que llaman la atención por lo distintas que son entre sí. ¿Cómo ve los cambios que le han llevado de un título a otro?
Cuando escribo un guion siento que estoy ante un enorme vacío. Echo de menos los matices de que es capaz la prosa
R. En Las vírgenes suicidas prima el lenguaje. No tenía aún mucha experiencia como novelista de modo que no pensaba demasiado en cuestiones como el argumento, que desvelo en el primer párrafo. Con Middlesex la cosa cambió radicalmente. Es una novela extensa, de una complejidad infinita, con numerosas ramificaciones, un verdadero rompecabezas, de manera que era imperioso prestar atención al armazón argumental. En La trama nupcial los personajes lo son todo. Dejé que fueran ellos quienes escribieran la novela, en lugar de imponerles una historia desde fuera como autor.
P. Las vírgenes suicidas está narrada en la primera persona del plural, algo que los escritores suelen rehuir. ¿Fue difícil?
R. No. Me limité a confiar en la voz. Le dejé leer el manuscrito a Donald Antrim, el escritor, que es muy amigo mío y me preguntó por qué no me olvidaba de las voces individuales y formaba un coro colectivo. La voz que empecé a escuchar entonces era como un conjuro que me llegaba de las profundidades del libro. Usted es escritor y sabe que en ficción lo más importante es dar con la voz que ha de conducir la narración. Cuando se da con ella, se trata de seguir sus indicaciones.
P. Te descubre cosas.
R. Te descubre cosas porque conecta con algo que hay dentro de ti. Te dice cosas que no sabías, es casi como si te diera permiso para adentrarte en el mundo que te has propuesto explorar. De repente se oye una voz que te dice qué debes hacer. Muchas veces el escritor está sumido en la incertidumbre, sin saber bien qué dirección tomar, hasta que una voz le señala el camino a seguir.
P. Usted fue alumno de John Hawkes.
R. Fui a la universidad para poder estudiar escritura creativa con él.
P. Hawkes era un experimentalista radical, pero usted parece haber evolucionado gradualmente hacia posturas más convencionales.
R. Si en el momento en que pusiera un pie fuera de este café me atropellara un autobús lo que dice usted sería cierto, pero tengo que decir que en estos momentos estoy escribiendo unos relatos que tienen muy poco de convencional.
P. ¿Cree que hay una cierta tendencia a volver a la tradición entre los escritores más importantes de su generación?
P. No es que me haya propuesto llevar la misión retrógrada de volver a la novela decimonónica, pero es verdad que hay cosas que vale la pena preservar de la tradición. La única manera de dar nueva vida a la novela es recombinando elementos muy dispares, mecanismos posmodernos, elementos tradicionales, aspectos de la novela psicológica, mezclándolo todo. No hay por qué sacrificar los logros del pasado en aras de ningún doctrinarismo.
P. ¿Qué libros hay en las estanterías del estudio donde escribe en su casa de Princeton?
La manera de dar
nueva vida a la novela
es recombinando elementos: mecanismos posmodernos, elementos tradicionales...
R. Sobre todo novelas y poesía de los grandes maestros del siglo XX, Joyce, Beckett, mucho Nabokov, bastante Philip Roth, Saul Bellow y Alice Munro, a quien cada vez leo más.
P. ¿Qué libros le han impactado más a lo largo de su vida?
R. Me vienen dos a la cabeza. Uno es Pálido fuego, de Nabokov. Lo leí durante un viaje a Turquía y me pareció que el reino de Zembla del que se habla en el libro se salía de las páginas fundiéndose con la realidad circundante. Era como si en lugar de a Turquía hubiera viajado al interior del libro. Desde el punto de vista emocional, la lectura más estremecedora de toda mi vida fue la de Anna Karenina. Ningún libro me ha impactado nunca tanto.
P. Nueve años exactos entre novela y novela. ¿Por qué tarda tanto?
R. Es como preguntarle a alguien que está haciendo el amor por qué no para.
P. ¿Es solo cuestión de placer?
R. En cierto modo sí, aunque hay otras cosas. Cuando escribo una novela no existe nada más. Vivo dentro de ella, me absorbe por completo. No sigo ningún plan, porque entonces se convierten en algo demasiado obvio, vivo dentro de la historia y normalmente no me siento satisfecho con lo que hago, al revés, me siento confundido y no sé en qué dirección seguir. Pero la historia avanza, voy viendo cómo se gesta milímetro a milímetro y cuando me quiero dar cuenta han pasado años.
P. ¿Cómo se da cuenta de que ha llegado el momento de parar?
R. Hay un punto en que todo lo que se le hace al libro lo empeora. Se empiezan a añadir partes que no hacen falta, a reescribir pasajes que al final no quedan mejor. Cuando pasa eso es momento de parar.
P. La palabra suicidio no parece circunscrita a su primera novela. También surge con cierta frecuencia en La trama matrimonial.
R. Supongo que debería preocuparme. Martin Amis volvía con cierta insistencia a la idea del suicidio hasta que un día se dio cuenta de que alguien había plantado esa semilla en él, alguien que conocía y que acabó por suicidarse había inoculado la idea en él y se filtró a los libros. Así que encontrarme el asunto en mis libros empieza a inquietarme.
P. Un elemento religioso gravita ocasionalmente sobre la novela. Alusiones a La nube del no saber, los místicos españoles, el maestro Eckhart, el viaje a India…
R. En Las variedades de la experiencia religiosa, William James explica bien cómo opera ese instinto en la gente joven. En ese sentido hay una razón personal. Hubo un tiempo en que me interesé por cosas como la meditación zen. Pero más allá de eso, creo que el elemento de que habla es algo radicalmente ausente de la novela contemporánea, lo cual es lamentable. En Anna Karenina, Levin sostiene una lucha consigo mismo por eso, porque siente que la vida carece de sentido y cuando al final de la novela nace su hijo tiene la impresión de que ha entrado en contacto con el origen de la vida, y es un momento muy intenso. Creo que momentos como ése, presentes también en la obra de otros grandes novelistas, nos obligan a enfrentarnos con nosotros mismos, planteándonos las preguntas más radicales que se derivan del hecho de existir. ¿La vida, la suya, la mía, tiene algún sentido o no lo tiene? La pregunta brilla por su ausencia en la literatura contemporánea y creo que es legítimo volver a formularla.
En La trama nupcial los personajes lo son todo. Dejé que fueran ellos quienes escribieran la novela, en lugar de imponerles una historia
P. Su novela le da un giro muy hábil al asunto al trasladar la cuestión del sentido de la vida al plano literario, preguntándose por el sentido o el significado de los textos que leemos. Los libros de teoría literaria que lee la protagonista proclaman la muerte del autor, del texto, del significado, aunque la realidad de su vida va por otro lado.
R. Muy poca gente ha visto ese aspecto de mi libro. Toda la cuestión de la semiótica no es más que una envoltura tras las que se ocultan cuestiones de más largo alcance. Hay un paralelo entre la negación del sentido en la literatura y la negación del sentido en la vida.
P. ¿Cuánto hay de autobiográfico en su novela?
R. Un 37%.
P. ¿El resto se lo deja a la imaginación?
R. Tampoco se puede dejar todo el trabajo a la imaginación. Lo vi muy claro cuando estaba escribiendo Middlesex. Había elementos históricos, como los sucesos de 1922 en Esmirna que exigen documentarse rigurosamente.
P. ¿Qué escritores le interesan entre sus contemporáneos?
R. Martin Amis, Franzen, David Wallace, Donald Antrim, George Saunders, y como le dije cuando me preguntó por mis estantes, Alice Munro. Cada vez la leo más.
P. En uno de los últimos números de The New York Review of Books, el artículo estrella es un análisis de Homeland por Lorrie Moore, una de las escritoras estadounidenses más respetadas. ¿Cree que los novelistas de mayor talento escriben para la televisión? ¿Que el equivalente al espíritu de Dostoievski sobrevive en series como The Wire?
P. David Foster Wallace fue el primero en decir cosas así, cuando confesaba que estaba enganchado a The Wire. Pronto lo comprobaré, porque me han encargado trabajar para la pantalla, aunque la verdad es que escribir novelas o escribir para televisión son actividades radicalmente distintas. Cuando escribo un guión siento que estoy ante un enorme vacío. Echo de menos los matices de que es capaz la prosa narrativa. Eso no quiere decir que no me gusten las series de televisión. Las veo, pero no sustituirán a la literatura. La idea de que la gente va a dejar libros para dedicarse exclusivamente a ver televisión es simplemente falsa. Ahora bien, hay una idea importante detrás de todo esto. Aunque como escritor no me preocupa la competencia que supuestamente se quiere hacer a la literatura desde otros medios, nunca me he avergonzado de querer atrapar la atención de la gente con un libro. Eso es algo totalmente legítimo que todos buscamos. Philip Roth no se cansó de decirlo. Nadie quiere ser tan frío e intelectual como para escribir libros que solo se enseñan en clases universitarias que son un pestiño. El escritor tiene que ser consciente de su obligación de darle algo gratificante al lector, algo que este no puede encontrar en ningún otro lugar salvo en un buen libro.

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