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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

1969 - Caê, Gil e os Stones

ESPECIAL 1969 - MÚSICA

A desilusão londrina de Caetano Veloso e Gilberto Gil e a energia apocalíptica dos Rolling Stones no Festival de Altamont

por Felipe Arra
11 de Junho de 2009 | por Revista Wave



DEPOIS DE “ALEGRIA, ALEGRIA” VEIO O EXÍLIO, EXÍLIO

Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos e exilados em seu ápice criativo

O movimento Tropicalista, que sacudiu a cultura brasileira entre 1967 e 1968, teve seu fim imposto quando da prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Aconteceu na manhã de 27 de dezembro desse ano, sob a alegação de quebra da ordem institucional e de mensagens à população para subverter o “Estado Democrático estabelecido pela Revolução”.

Caê e Gil romperam o ano de 68 presos, e foram soltos na quarta-feira de cinzas de 1969. Seguiram para Salvador, onde ficaram confinados até partirem para o exílio, em julho.

À época, os dois eram as maiores estrelas ascendentes da música nacional. Mas no exílio, Caetano desabou. E anunciou que ele e Gil “estavam mortos” em artigo publicado em novembro de 1969 para “O Pasquim”, com o qual contribuiu por mais de um ano.

Ele escreve: “Talvez alguns caras no Brasil tenham querido me aniquilar; talvez tudo tenha acontecido por acaso. Mas eu agora quero dizer aquele abraço a quem quer que tenha querido me aniquilar porque o conseguiu. Gilberto Gil e eu enviamos de Londres aquele abraço para esses caras. (…) Nós estamos mortos. Ele está mais vivo do que nós”.

O “Ele” em questão é Carlos Marighella, dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), que havia sido assassinado pela polícia dias antes. Sua imagem, morto, aparecia contracenando em uma capa de revista com a foto de Caetano e Gil, exilados.

O ostracismo melancólico dos dois durou até 1972. Se serve de consolo, esse período rendeu algumas de suas melhores canções, dos chamados “discos ingleses”: Caetano veio com “A Litlle more Blue” (Um pouco mais triste) e “London London”, por exemplo; Gil trouxe “Can’t Find My Way Home” (Não encontro o caminho de casa), talvez a gravação mais representativa do período.

SOBREVIVENDO NO INFERNO
Os Rolling Stones pedem abrigo no Festival de Altamont e dão a palavra final no apocalipse dos ideais

Já em 1968, o idealismo e as promessas do Flower Power começaram a desaparecer. Guerra, assassinatos, luta por direitos civis, agitação nas ruas. As drogas ficaram mais pesadas, assim como a música, que refletia a paranóia no ar.

Mick Jagger e Keith Richards tinham um instinto apurado para capturar tendências e o espírito de sua época. A dupla filtrou e propagou uma tendência em obscurecer o conteúdo do Rock, das letras aos arranjos. A música devia ficar mais obscura em resposta à incerteza dos tempos.

Os Stones foram a banda se encaixou aos elementos das drogas pesadas que vieram e destruíram o resto da cena. Brian Wilson (Beach Boys) e Syd Barrett (Pink Floyd) viraram vegetais alucinados de ácido; Brian Jones (membro fundador dos Stones), Jimi Hendrix e Janis Joplin tiveram mortes (todos aos 27 anos, entre 1969 e 1970) associadas a drogas. Os sobreviventes Jagger e Richards clamaram por proteção em “Gimme Shelter” (Dê-me abrigo), lançada em 1969 no disco Let it Bleed (Deixe sangrar) - trocadilho com o compacto “Let it Be”, lançado pelos Beatles naquele ano.

No final do ano, os Rolling Stones planejavam um grande festival gratuito na Califórnia. Desorganização e local confirmado em cima da hora impossibilitaram a montagem de infra-estrutura decente para o evento. Informadas pelo rádio, mais de 300 mil pessoas peregrinaram para o autódromo de Altamont, perto de São Francisco, no dia 6 de dezembro.

Porém, além dos nomes da música escalados (Grateful Dead, Jefferson Airplane, etc.), dos hippies e fãs de Rock, estavam presentes centenas de Hells Angels, chamados informalmente como seguranças do Festival.

Esses motoqueiros norte-americanos sempre estiveram ligados a violência e extorsão. Depois de receberem o pagamento (cerveja) pela “ajuda” na segurança, transformaram o que era para ser “Paz e Amor” nos moldes de Woodstock num dos dias mais violentos da história do Rock. Um rapaz armado (supostamente para matar Mick Jagger) foi esfaqueado até a morte por um dos Angels na frente do palco, além de outros fatos violentos ao longo do dia.

A mistura de desorganização, drogas e armas se fez catastrófica. Charlie Watts, baterista dos Stones, sintetizou: “Foi um evento aguardando para dar errado”, um despertar cruel para a dura realidade. Nunca “Gimme Shelter” faria tanto sentido novamente.

Felipe Arra, 23, deveria ser lateral-esquerdo da seleção brasileira, mas não chegou nem perto. O fracasso no futebol deixou sequelas mentais: virou torcedor fanático do Newcastle, da Inglaterra. Faz faculdade de jornalismo, mas já aprendeu muito mais com Richard Ashcroft, Woody Allen e José Saramago do que com todos os seus professores juntos.

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