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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DA PRAIA PARA O FACEBOOK


 

Nos idos dos anos setenta e oitenta eu costumava frequentar a praia de Ipanema próxima ao posto nove. Não no posto nove em si, mas em frente à Farme de Amoedo ou a Vinicius de Moraes. Por décadas esse foi o meu point. Com a família ou sozinho, ou ainda, com amigos. De tanto freqüentar, nos fins de semana, ferias ou feriados eu já era conhecido e conhecia muita gente também. Não é que eu conversasse com qualquer pessoa, o que evidentemente também poderia acontecer, mas era porque as nossas caras se esbarravam sempre naquele pedaço. Essa convivência era, via de regra, anônima. As pessoas não sabiam o meu nome e nem eu o delas. Poderíamos nos encontrar em qualquer outro lugar que sabíamos “de onde a cara era conhecida.”

Certa vez eu estava na agencia de uma concessionária de serviços públicos da cidade numa fila e atrás de mim estava um cidadão que até hoje não sei o nome. Com certeza nos reconhecemos da praia e papeamos sobre varias coisas até que fossemos atendidos e depois nos despedimos como velhos amigos. Eu sei que você vai perguntar, mas como você pode afirmar que ele lhe reconheceu da praia? Muito simples. A partir daquele momento, sempre que nos esbarrávamos na praia ou fora dela cumprimentávamos com mais efusividade, porém mantendo o anonimato.

Mal sabia eu que estava diante de um instrumento que só viria a ser inventado muitos anos mais tarde no campo virtual. O Facebook. Claro que aquele era um Facebook bem tupiniquim com uma memória bastante reduzida. Bastava ficar uma ano sem ir à praia e a coisa começava a falhar. Os nossos arquivos não tinham pastas para armazenamento de dados.

É evidente que os conhecimentos se davam por escolhas diretas, téte a téte. Cada um com os seus preconceitos, suas crenças ou suas censuras. Mesmo assim quem me acompanhava na praia ou no calçadão ficava espantado com a quantidade de acenos a mim ou por mim distribuídos. Espanto que acontece hoje comigo quando vejo alguém com muitos amigos em suas pastas no Facebook. Como pode alguém ter 3487 amigos? Na minha pagina contam-se, no máximo, oitenta pessoas. O detalhe é que conheço quase todos pessoalmente. A metade faz parte da família e na outra estão amigos mais recentes, poucos apresentados pelos novos amigos e nenhum daquela época de “Facepraia”. Considero o meu numero de contatos razoável para alguém que já freqüenta mais da metade da casa dos sessenta anos e que já teve muitos amigos que partiram da praia, do bairro, da cidade ou mesmo da vida.

O Facepraia não deixou muita saudade até porque algumas fotos mudaram tanto ao longo dos anos, que quase não são mais reconhecidas ou temos dificuldade em reconhecer. Ou porque as pessoas ficaram mais gordas, ou mais magras. Alem de que todas envelheceram.

E o Facebook? Mark Zuckerberg por gostar de "construir coisas", conseguiu aproximar o mundo numa proeza. Como seu criador, juntou 500 milhões de pessoas num único sítio.

"Muito engraçado, mas eu não tenho Facebook." Ah! Não tem? Com certeza você conhece alguém que usa esta rede social: um irmão, filho, colega, amigo, namorado. Alguém bem próximo. Uma em cada 14 pessoas no mundo hoje acessa o site que um miúdo na altura e com 19 anos, criou em 2004 no quarto de uma residência de Harvard com a ajuda de colegas de faculdade.

Quer saber? Pegue o nome Mark Zuckerberg e coloque na linha de pesquisa do Fcebook e surpreenda-se. Se já fez isso, sabe quais são os principais interesses pessoais de Zuckerberg. Eles são visíveis a todos os utilizadores. Mesmo aos que não fazem parte da lista de amigos deste jovem multimilionário. Você deve estar a pensar: "Já tinha dito que não tenho Facebook" Tudo bem. "Minimalismo, construir coisas, partir coisas, fluxo de informação, revoluções". São estes alguns dos interesses que pode ler no perfil de "Zuck". É assim que é conhecido entre amigos o rapaz que invariavelmente usa T-shirts cinzentas, calças de ganga, é fiel aos seus chinelos Adidas e frequenta aulas de mandarim, segundo a Wikipédia.

É curioso notar como cada um faz uso dessa ferramenta que agrega em redes mais de quinhentos milhões de pessoas em todo o mundo. Só ele tem em sua pasta mais de cinco milhões de contatos. Com isso podemos imaginar que o Facebook é capaz de albergar pessoas com os interesses diversos, nos mais diversos campos da vida social que vai da religião à guerra, da culinária à química ou do tráfico de drogas à prostituição, dentre outros. É saudável, é! Mas como em todo grupamento humano encontraremos problemas. Alguns até que extrapola a esfera social indo esbarrar na esfera policial ou jurídica. Pedofilia, xenofobia, aliciamentos e outras práticas.

Nos fenômenos de massa os interesses se misturam e criam lideranças que se manifestam diante de um fato e logo se dispersam findos os eventos motivacionais. O Rock in Rio foi uma prova contundente disso. Da compra de ingressos, que logo se esgotaram, até as músicas e letras que tinham que ser decoradas além da paramentaria. Tudo tinha de estar dentro dos conformes. E como não se pode exigir grau de instrução dos freqüentadores, é comum encontrar equívocos de ordem informativa e/ou conceitual.

Nos próximos seis anos o Brasil será palco de, pelo menos, dois eventos mundiais de grande magnitude. Daí podermos imaginar quantos cruzamentos de mensagens e informações veicularão pelas nossas paginas nos obrigando a esquecer os preconceitos e a velha censura que podíamos fazer nos tempos do Facepraia. Democratizar idéias faz do Facebook um valioso instrumento de manifestação política e intelectual promovendo a inclusão social e das diferenças, para aqueles que dele utilizam, mesmo quando não concordamos com as idéias postas.
 
 
 

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