photo by Fabiana Motroni, show do Lô Borges, novembro de 2008
Em nossa vida, em muitos momentos dela, o outro é um ser inventado. Quando ele não é o que pensamos, quando não faz o que esperamos, ele simplesmente não é. Não está lá.
Invisível como a repetição de nossas expectativas, o outro é apenas uma falta. Uma falta de nós mesmos. Mas então aceitamos a solidão como dimensão real do que somos, e nos enxergamos, e a solidão se esvai, por não haver mais razão de existir. E a falta não faz mais falta.
E então a falta é a fala, é a palavra, é o fato, é a flor, e estamos livres para enxergar que existe alguém na poltrona ao lado. O outro. Um outro que nos enxerga. Um outro que nos olha na nossa poltrona e que não quer ver o veludo vermelho, por mais veludo e por mais vermelho que seja, porque está muito mais interessado em ver a gente.
O outro que entende a amplitude de companhia. Que entende a diversidade do amor. E que sabe que a poltrona estará sempre vazia enquanto não quisermos que alguém sente ali, de verdade. Alguém de verdade. Um outro da gente.
Não é o amor a falha. A falha somos nós e o que inventamos sobre o amor. E ele nos olha docemente, e sorri tristemente de nossas dores, sem muito poder fazer, o amor. A não ser esperar que não esperemos nada mais dele. A não ser esperar que esperemos por ele. A não ser esperar que o reconheçamos quando ele chegue, e que o aceitemos como ele é.
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