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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Chilena Isabel Allende

Entrevista exclusiva com a chilena Isabel Allende




Vencedora do Prêmio Nacional de Literatura do Chile em 2010 e autora do já clássico ‘A Casa dos Espíritos’, Isabel Allende, aos 69 anos, é, sem dúvida, a grande voz feminina da literatura latino-americana.
Sendo traduzida para mais de 30 línguas e tendo vendido cerca de 55 milhões de cópias, Allende concede entrevista exclusiva ao Vá Ler um Livro, onde conversa abertamente sobre a maneira como vê o leitor, como lida com o sucesso, a pressão que o reconhecimento exprime sobre sua obra e ainda dá dicas para novos escritores.
Em sua obra, é recorrente o uso de memórias – sejam elas pessoais ou de toda uma nação. Como você se sente ao escrever algo tão importante para você ou para outras milhares de pessoas? Existe um tipo especial de coragem nisto?
Eu não acredito que a coragem é necessária para escrever sobre a história de um lugar, mesmo quando esta história é muito trágica. Sobretudo, isso exige pesquisa. Algumas vezes é difícil ser objetiva, mas um escritor de ficção não tem que ser objetivo. Posso escrever conforme o meu coração pede.
Quando pensamos sobre a participação da mulher na literatura contemporânea latino-americana, é comum ter seu nome como o grande exemplo. Qual é o efeito disto em seu trabalho? Quando está escrevendo um novo livro, você imagina o que os seus fãs latino-americanos estão esperando dele, e qual imagem de sua cultura poderá ser transmitida para todo o mundo?
Eu sou sortuda por ter muitos leitores fiéis, mas quando começo um novo livro não fico intimidada pelo fato de que milhões de pessoas poderão lê-lo. Não escrevo por mim, tenho sempre em mente um leitor que quero seduzir, entreter, engajar e talvez mudar. Tento ser muito honesta na minha escrita e não me preocupar com a reação que os meus leitores poderão ter com a história.
Você é jornalista, e praticou este ofício em um momento muito produtivo e delicado da história latino-americana, tornando-se logo depois essa escritora fenomenal. O que poderia dizer para os jovens que desejam ser escritores reconhecidos no futuro? Qual a sua mensagem para eles?
Escrever é como treinar para esportes: você precisa de disciplina, esforço e tempo. Um livro requer dedicação e trabalho, ao menos que o escritor seja um gênio que possa produzir um ótimo romance em uma sentada, mas poucos realmente os são. Assim como um atleta treina todos os dias para estar preparado para jogar, um escritor tem que escrever todos os dias e nunca deve contar as páginas que vão para a lixeira. Se preciso, escreva uma centena de rascunhos, esse é o treinamento para os escritores. Ninguém se importa com o trabalho que alguém pôs na escrita, porque somente os resultados devem ser notados. Ler, pesquisar e escrever notas também é importante. Para um aspirante a escritor, eu recomendo que encontrem um ou vários mestres, leiam seu trabalho, estudem e veja como eles o fizeram. Um bom editor também pode ajudar, mas eles não são fáceis de se encontrar.
Qual o poder da literatura nos dias de hoje? Como ela pode modelar a visão de uma cultura ou de um povo neste mundo tão avançado tecnologicamente?
A tecnologia está mudando a maneira que nós lemos, alguns leem livros eletrônicos ou escutam audio books, mas a literatura continua tão importante como sempre esteve. Livros têm o poder de conectar pessoas, informar, algumas vezes mudar os leitores e ter um impacto em toda a sociedade. Por exemplo, A Cabana do Pai Tomas, de Harriet Beecher Stowe, contribuiu enormemente para informar o público sobre as atrocidades da escravidão e a ajudá-las no movimento abolicionista. Hoje, os romances contemporâneos sobre Afeganistão ou Iraque podem nos falar mais a respeito da guerra que os noticiários da TV. As histórias pessoais podem comover-nos mais que fatos.
Você escreve diariamente? Quais são suas principais inspirações, e como é seu processo de pesquisa, quando necessário?
Eu começo meus livros no dia 08 de Janeiro, e escrevo diariamente por vários meses até ter concluído o manuscrito. Gasto assim o resto do ano viajando, pesquisando para a próxima obra, palestrando, etc. Antes de começar um projeto eu pesquiso em vários outros, e, no processo de escrita, se preciso, busco os detalhes na internet.
Seu livro mais recente, O Caderno de Maya, foi lançado este ano. O que seus fãs podem esperar de seus próximos trabalhos?
No próximo ano, em 08 de janeiro, gostaria de começar um outro livro, mas ainda não sei ao certo sobre o que será. Estou pensando em um thriller, ou um romance policial, algo completamente diferente dos meus outros trabalhos. Gosto de desafios!


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